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CPI DOS BINGOS
Caixa perdeu R$ 433 mi com GTech, afirma TCU
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Relatório de auditoria do TCU
(Tribunal de Contas da União),
apresentado ontem à CPI dos
Bingos, aponta que a Caixa Econômica Federal teve prejuízo de
R$ 433 milhões no contrato com a
multinacional GTech, de 1997 a
abril de 2004. A multinacional registra apostas das loterias da Caixa e opera em casas lotéricas os
serviços bancários. O prejuízo de
R$ 433 milhões teria ocorrido no
pagamento pelas duas operações.
O contrato ainda está em vigor.
Após ser renovado duas vezes no
governo Lula, deve terminar no
primeiro semestre de 2006. Os dados da auditoria foram apresentados à CPI no Senado pelo procurador-geral do Ministério Público
no TCU, Lucas Furtado.
Segundo ele, o relatório será julgado pelos ministros do TCU, que
podem responsabilizar diretores
da Caixa e da GTech pelo prejuízo. A CPI investiga a renovação
do contrato com a GTech em abril
de 2003 no valor de R$ 650 milhões. De 1997 até este ano, a Caixa pagou R$ 3 bilhões à GTech, informou Furtado ontem.
Diretores da GTech afirmam
que, na negociação em abril de
2003, sofreram uma tentativa de
extorsão do advogado Rogério
Tadeu Buratti e do ex-funcionário
da Casa Civil Waldomiro Diniz,
demitido em fevereiro de 2004
após aparecer em fita de vídeo pedindo propina a Carlinhos Cachoeira, empresário de jogos.
Buratti foi secretário de Governo de Ribeirão Preto (SP) em 1993
e 1994, quando o ministro Antonio Palocci (Fazenda) era o prefeito. O ex-secretário diz que foi a
GTech quem o procurou oferecendo R$ 16 milhões ao PT em
troca da interferência de Palocci
na renovação do contrato. O ministro, diz Buratti, não aceitou.
Diniz nega a interferência.
Em entrevista à Folha, o presidente da GTech, Fernando Cardoso, disse que Buratti -durante
a tentativa de extorsão- conseguiu suspender, à revelia da Caixa, a renovação do contrato no
dia 1º de abril de 2003. A assinatura ocorreu sete dias depois porque, segundo Cardoso, não havia
alternativa para manter as loterias, senão fechar o negócio.
Em depoimento ontem à CPI,
Furtado disse que "se houve ingerência política indevida, foi apenas sobre vantagens de contratos". Ele diz que a Caixa Econômica não conseguiria operar sozinha
as loterias. Por essa razão, diz Furtado, a renovação seria inevitável.
No depoimento, Furtado disse
que a GTech não informava à Caixa Econômica os custos dos serviços. Assim, a estatal não tinha parâmetros para discutir preços. A
GTech conseguiu aumentar de
R$ 0,05 para R$ 0,15 o valor recebido por informação processada,
diz. Em abril de 2003, houve redução de valores, mas o procurador
afirma que se a Caixa tivesse acesso aos custos, poderia ter obtido
mais vantagens.
Outro lado
A GTech informou ontem, por
meio de nota, que o contrato com
a Caixa Econômica Federal "não é
e jamais foi lesivo à União".
Ainda conforme a nota, o relatório do TCU sobre os prejuízos
para Caixa "não é conclusivo e final. Ressalte-se que a GTech sequer foi notificada para se pronunciar sobre esse suposto prejuízo". A reportagem questionou
a GTech se a Caixa era informada
sobre os custos dos processamentos para negociar preços. A resposta foi que a multinacional
"sempre cumpriu todos os quesitos previstos em contrato".
"Os preços [dos serviços] eram
pautados em valores de mercado
à época das negociações, tomando como referência o custo médio
de uma transação eletrônica bancária, haja vista a semelhança deste tipo de transação. A decisão final era prerrogativa da Caixa. Os
preços ficavam sempre abaixo daqueles praticados pelo mercado."
Sobre o suposto prejuízo no
contrato com a multinacional a
assessoria de imprensa da Caixa
Econômica não respondeu.
Enviou apenas informações sobre histórico do contrato desde
1997, informando que assumirá
os serviços em maio de 2006.
A assessoria da Justiça Federal
disse que a juíza Maísa Giudice
não comentará as acusações da
CPI, porque está de licença médica e também a lei da magistratura
a impede de comentar o caso.
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