São Paulo, Sábado, 30 de Outubro de 1999
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PRIVATIZAÇÃO
Presidente do BNDES afirma que dinheiro para estrangeiros e brasileiros tem origens diferentes
Não há "duelo" por recursos, diz Calabi

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local

Empresas estrangeiras e companhias nacionais não competem pelos mesmos recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), disse seu presidente, Andrea Calabi, em resposta a críticas de empresários de que a concessão de empréstimo para grupos do exterior diminui a disponibilidade de crédito para os brasileiros.
A decisão de última hora do BNDES de conceder empréstimo para empresas estrangeiras viabilizou o leilão da Companhia de Geração de Energia Elétrica Tietê. A norte-americana AES vai receber cerca de R$ 360 milhões do banco.
"As fontes de financiamento são diferentes; as taxas de juros são diferentes, as condições dos empréstimos não são as mesmas do que os créditos para empresas brasileiras", afirmou.
Os empréstimos concedidos para as empresas de capital nacional têm como base a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que atualmente é de 12,5% ao ano. No caso dos créditos para grupos estrangeiros, a correção toma como base uma cesta de moedas (que mede a variação cambial). E isso porque os empréstimos para empresas estrangeiras usam, em geral, recursos tomados no exterior.
O BNDES só foi autorizado a conceder recursos para empresas de capital estrangeiro na reforma da Constituição de 1988; antes disso, todos os empréstimos iam apenas para companhias brasileiras.
Nos últimos anos, a ampliação da sua clientela, com a demanda de empresas estrangeiras (muitas interessadas em comprar estatais nos leilões de privatização), levou o BNDES a buscar novas fontes de recursos, como o mercado internacional de capitais.
O banco passou, entre outras operações, a emitir bônus (uma espécie de título) no exterior em volumes muito maiores do que anteriormente. Em 1993, por exemplo, o BNDES captou US$ 150 milhões em bônus; em 1997, foram cerca de US$ 900 milhões.

Preferência
"Eu também teria preferido que uma empresa nacional tivesse vencido o leilão da Cesp. Mas parece que os grupos nacionais não tiveram o mesmo ímpeto decisório das empresas estrangeiras", disse Calabi, usando o mesmo tom empregado por Alcides Tápias, ministro do Desenvolvimento.
Nos últimos dias, os dois disseram que os recursos disponíveis no BNDES não podem ficar parados e que as empresas nacionais precisam apresentar projetos viáveis para se habilitarem a receber esses créditos.
"Estávamos acompanhando a movimentação das empresas interessadas e percebemos no início da semana que o leilão corria risco de fracassar, de não haver interessados ou apenas um candidato à compra", afirmou Calabi, explicando as razões de o BNDES ter decidido conceder empréstimo também para grupos estrangeiros nas vésperas da venda pública da empresa da Cesp.


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