São Paulo, Sábado, 30 de Outubro de 1999
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CONFLITO
Líderes dos guajajaras pretendem capturar quatro suspeitos de assassinato de comerciante e vendedor
Índios ameaçam invadir aldeia no MA

JAIRO MARQUES
da Agência Folha

Cerca de cem índios guajajaras devem invadir hoje a aldeia Cabeça da Onça, que fica na reserva Cana Brava (MA). Eles pretendem capturar os quatro índios suspeitos de ter linchado e assassinado um comerciante e um vendedor na BR-226, entre os municípios de Grajaú e Barra do Corda.
A decisão de invadir a aldeia foi tomada em uma reunião que contou com a presença de 48 líderes de várias aldeias da reserva Cana Brava. "Nós (os guajajaras) não somos marginais. Vamos capturar esses irresponsáveis que estão manchando o nosso nome. Eles precisam ser entregues à Justiça", disse o chefe da aldeia Cachoeirinha, José Alberico Guajajara, 39.
Na terça-feira, índios da aldeia Cabeça da Onça (520 km de São Luís) assassinaram a tiros e facadas o comerciante Magno Augusto Araújo, 30, e o vendedor Geova Alves Palma, 36. A administração da Funai em São Luís, responsável pela área, afirma que os índios ficaram revoltados com o atropelamento de Moisés Guajajara, 30.
Segundo a polícia, eles fizeram uma tocaia na rodovia para matar os primeiros que passassem por ali, como vingança. Existe também a possibilidade de o índio não ter sido atropelado, e sim morto a tiros. A Polícia Civil de Barra do Corda (460 km de São Luís) informou que ainda não tem oficialmente os laudos das mortes e pediu uma nova perícia nos corpos das três vítimas.
O delegado Francelino de Jesus Lima disse ter certeza de que os índios da aldeia Cabeça da Onça estão armados e vai pedir à Justiça Federal, já que a área pertence à União, um mandado para poder fazer uma vistoria no local.
Os líderes indígenas reclamam da lentidão da Funai (Fundação Nacional do Índio) em tomar uma atitude em relação ao caso.
A assessoria de comunicação do órgão informou que uma equipe com três pessoas (dois advogados e um administrador regional) foram mandados para o local.
Os guajajaras estão com medo de retaliações por parte da população de Barra do Corda, que está revoltada com os assassinatos. "Nosso filhos estão sendo descriminados na escola, e alguns estão sendo vistos com maus olhos nos hospitais e nas ruas. Se alguma coisa acontecer com um dos nossos, vai haver guerra", disse José Alberico Guajajara.


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