São Paulo, Sábado, 30 de Outubro de 1999
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Ex-sem-terra inauguram supermercado

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre

A inauguração nesta semana de um supermercado de 600 metros quadrados no centro de Charqueadas (RS) chamou a atenção não só pela presença do governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), mas também pela pintura da bandeira do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na fachada do prédio.
O estabelecimento, que comercializa cerca de 3.500 itens, entre os quais frutas, cereais e hortigranjeiros originários de produção própria, pertence a famílias de ex-sem-terra, assentadas desde 1990 em Charqueadas (região metropolitana de Porto Alegre).

Prédio próprio
O supermercado Copac funciona em prédio próprio e foi construído pelos assentados, que investiram cerca de R$ 150 mil no empreendimento.
A maior parte dos recursos (60%) veio do Procera (Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária), um programa de crédito do governo federal voltado para os beneficiários da reforma agrária.
O responsável pelo supermercado, Ladimir Trombeta, 40, disse que a loja iniciou sua operação comercializando arroz, feijão, milho, mel, conservas, geléias, frutas e hortigranjeiros, produzidos por aproximadamente 30 famílias no Assentamento 30 de Maio.
Trombeta disse que o supermercado espera conquistar os consumidores oferecendo preços menores, o que seria possível com a ausência de intermediários.
Como exemplo, disse que o quilo arroz do tipo 1, produzido, classificado e embalado pelos próprios assentados, chega às prateleiras por R$ 0,56, contra R$ 0,73 cobrado em outros estabelecimentos.
Os assentados têm em andamento um projeto para a instalação de um abatedouro municipal, o que permitiria também a venda de carne no supermercado.
Dentro de dois meses, 18 pessoas, todas do assentamento, devem estar trabalhando no local, que começou a funcionar com empregados contratados temporariamente.

"Favores aos governantes"
Olívio Dutra, que esteve na inauguração acompanhado do superintendente regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Paulo Emílio Barbosa, entre outras autoridades, disse que o negócio é uma demonstração de que os empreendedores "não precisam pedir favores aos governantes".


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