São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO TRT
Fato ocorreu em agosto e foi a última pista concreta da Polícia Federal
Ex-juiz Nicolau foi visto fazendo compras em Milão

Alan Marques - 18.ago.2000/Folha Imagem
Cartaz de procura ao ex-juiz Nicolau, que, foragido há mais de 6 meses, passou pela Itália em agosto


MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, o fugitivo mais procurado do país, foi visto no dia 22 de agosto em uma loja de Milão (Itália), que costuma receber muitos brasileiros. Foi a última vez que a Polícia Federal teve notícia dele.
Desde então, nenhuma pista mais concreta chegou às mãos da PF, que cogita a hipótese de que Nicolau esteja escondido em algum lugar enquanto sua mulher, cuja imagem ainda é desconhecida, resolve os problemas do casal.
Naquele dia 22 de agosto, uma embaixatriz brasileira no exterior, de origem italiana, passeava pela loja Renaissance, em frente à catedral de Milão, quando notou um homem que falava português, em voz alta, discutindo com uma das balconistas da loja.
Acompanhado da mulher e de uma intérprete, o homem, de acordo com o relato da embaixatriz, tentava fazer a balconista entender que subiria ao segundo andar, enquanto a moça protestava tentando passar outra informação a ele. A embaixatriz, que notou o português e o tom do homem, diz ter se aproximado.
Pelo que ela se lembrava, aquele homem, vestindo camisa social e calça de brim, era idêntico às fotos que já havia visto do juiz, foragido há exatos 187 dias.
Na dúvida, a embaixatriz correu para o consulado e conferiu o cartaz de "Procura-se". Ela acionou autoridades brasileiras e italianas, mas ninguém conseguiu encontrar o juiz, que, segundo a testemunha, estava sem disfarce.
Inicialmente, os agentes da Polícia Federal duvidaram da informação porque queriam saber como uma pessoa que está até na lista de prioridades da Interpol e que qualquer brasileiro sabe reconhecer iria passear por uma das lojas de turistas de Milão.
Depois, conferindo as descrições de Nicolau feitas pela embaixatriz, os policiais acabaram acreditando nela, que, por sua vez, ficou assustadíssima. Nem seu nome nem a embaixada a qual pertence estão sendo revelados porque ela teme represálias.
Segundo a Folha apurou, a PF acredita que Nicolau tenha apenas passado pela Itália a caminho de algum lugar. Na loja, segundo a descrição da embaixatriz, ele não levava sacolas ou pacotes.
Também não foram encontrados indícios de movimentação financeira, o que faz com que a PF suponha que o ex-juiz esteja gastando valores em dinheiro.
No Ministério da Justiça, o ministro José Gregori circula tenso pelos corredores. Abalado por rumores de que esteja sendo "submetido à fritura", Gregori teme que o fato de o ex-juiz não ter sido localizado ainda, depois de mais de seis meses, acabe pesando em uma possível saída sua na reforma ministerial do ano que vem.
Apesar de não ter recebido sinal concreto do Planalto de que pode perder o cargo, também não recebeu nenhum sinal de apoio desde que as pressões sobre o presidente Fernando Henrique Cardoso começaram a acontecer.
Os tucanos pressionam pela entrada do senador José Roberto Arruda, líder do PSDB no Senado. O presidente da Câmara, Michel Temer, é candidato em potencial à vaga, já que estará saindo do cargo que ocupa.
No início da semana passada, o superintendente da PF em São Paulo, Yokio Oshiro, deixou o cargo para assumir o posto de adido da corporação em Buenos Aires. Oshiro, que comandava as equipes de busca do ex-juiz, disse que havia pedido a mudança.
Ele afirmou que foi um "presente" do diretor-geral da PF, Agílio Monteiro. Seu substituto -Itanor Neves Carneiro, da Depemaf (Divisão de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras)- é da confiança de Agílio Monteiro e próximo também do ministro.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Saúde: Antes de se internar, Covas recebe FHC
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.