São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2000

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CRISE NO AMAPÁ
Testemunha ouvida pela comissão relata envolvimento de quatro parlamentares com crime organizado
Depoimento à CPI incrimina deputados

MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma das principais testemunhas ouvidas pela CPI do Narcotráfico no Amapá, identificada como "XX4", relatou o envolvimento de quatro deputados estaduais com o crime organizado -entre eles, o presidente da Assembléia Legislativa, Fran Júnior (PMDB).
A Agência Folha teve acesso à transcrição de um depoimento de "XX4", concedido em maio, em que são citados também o empresário Sílvio Assis e a presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Margarete Salomão.
Todos os citados participaram do processo de afastamento do governador João Capiberibe (PSB), que diz estar sofrendo "perseguição política" por ter incentivado a visita da CPI ao Estado. A CPI, no entanto, não deve pedir o indiciamento dos acusados, por falta de evidências concretas. "Mas encontramos provas documentais que associam os deputados à corrupção", disse o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), um dos responsáveis pela sub-relatoria da CPI no Amapá.
As acusações mais graves pesam sobre Fran Júnior. O presidente da Assembléia teria pago com dinheiro público a construção de uma pista de pouso em sua fazenda, entre outras irregularidades. No total, o deputado seria o responsável pelo desvio de R$ 15,93 milhões.
"XX4" descreve, em seu depoimento, reuniões entre os deputados realizadas na residência do empresário Sílvio Assis, apontado como um dos líderes do tráfico de drogas no Estado.
"Eu sempre via lá os deputados, que estavam sempre reunidos lá na beira da piscina. Eles iam tomar café da manhã", disse a testemunha, segundo a transcrição de seu depoimento obtida pela Agência Folha.
Os próprios deputados confirmaram as reuniões aos integrantes da CPI. "Fran Júnior admitiu que a Assembléia chegava a deliberar na casa do Sílvio Assis", afirmou Pompeo de Mattos.
Encontros de deputados com mulheres contratadas por Assis teriam sido filmados pelo empresário. "Ele gostava muito de ter as pessoas na mão", disse "XX4". A CPI não conseguiu localizar as gravações, apesar de elas terem sido confirmadas em outros depoimentos.
Além de Fran Júnior, a testemunha relata a presença dos deputados Rosemiro Rocha (PL) e Paulo José (PTB) na residência de Assis.
"XX4" faz referência ainda a um "esquema" de tráfico de drogas e contrabando de cigarro que envolveria o deputado Jorge Salomão (PFL). "Eram fatos isolados, o Jorge e o Sílvio. O Jorge, sempre, a intenção dele foi mesmo ter o esquema dele", disse a testemunha.
"XX4" está agora sob a guarda do programa de proteção a testemunhas. Segundo integrantes da CPI, seu depoimento foi considerado confiável porque confere com outras informações colhidas pela comissão e pela Polícia Federal. O relatório final da CPI deve ser concluído em novembro.


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