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CRISE NO AMAPÁ
Testemunha ouvida pela comissão relata envolvimento de quatro parlamentares com crime organizado
Depoimento à CPI incrimina deputados
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma das principais testemunhas ouvidas pela CPI do Narcotráfico no Amapá, identificada
como "XX4", relatou o envolvimento de quatro deputados estaduais com o crime organizado
-entre eles, o presidente da Assembléia Legislativa, Fran Júnior
(PMDB).
A Agência Folha teve acesso à
transcrição de um depoimento de
"XX4", concedido em maio, em
que são citados também o empresário Sílvio Assis e a presidente do
Tribunal de Contas do Estado
(TCE), Margarete Salomão.
Todos os citados participaram
do processo de afastamento do
governador João Capiberibe
(PSB), que diz estar sofrendo
"perseguição política" por ter incentivado a visita da CPI ao Estado. A CPI, no entanto, não deve
pedir o indiciamento dos acusados, por falta de evidências concretas. "Mas encontramos provas
documentais que associam os deputados à corrupção", disse o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), um dos responsáveis pela
sub-relatoria da CPI no Amapá.
As acusações mais graves pesam sobre Fran Júnior. O presidente da Assembléia teria pago
com dinheiro público a construção de uma pista de pouso em sua
fazenda, entre outras irregularidades. No total, o deputado seria
o responsável pelo desvio de R$
15,93 milhões.
"XX4" descreve, em seu depoimento, reuniões entre os deputados realizadas na residência do
empresário Sílvio Assis, apontado
como um dos líderes do tráfico de
drogas no Estado.
"Eu sempre via lá os deputados,
que estavam sempre reunidos lá
na beira da piscina. Eles iam tomar café da manhã", disse a testemunha, segundo a transcrição de
seu depoimento obtida pela
Agência Folha.
Os próprios deputados confirmaram as reuniões aos integrantes da CPI. "Fran Júnior admitiu
que a Assembléia chegava a deliberar na casa do Sílvio Assis", afirmou Pompeo de Mattos.
Encontros de deputados com
mulheres contratadas por Assis
teriam sido filmados pelo empresário. "Ele gostava muito de ter as
pessoas na mão", disse "XX4". A
CPI não conseguiu localizar as
gravações, apesar de elas terem sido confirmadas em outros depoimentos.
Além de Fran Júnior, a testemunha relata a presença dos deputados Rosemiro Rocha (PL) e Paulo
José (PTB) na residência de Assis.
"XX4" faz referência ainda a um
"esquema" de tráfico de drogas e
contrabando de cigarro que envolveria o deputado Jorge Salomão (PFL). "Eram fatos isolados,
o Jorge e o Sílvio. O Jorge, sempre,
a intenção dele foi mesmo ter o esquema dele", disse a testemunha.
"XX4" está agora sob a guarda
do programa de proteção a testemunhas. Segundo integrantes da
CPI, seu depoimento foi considerado confiável porque confere
com outras informações colhidas
pela comissão e pela Polícia Federal. O relatório final da CPI deve
ser concluído em novembro.
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