|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SÃO PAULO
Partido conta com um corte de 20% no valor dos contratos em 2001 para
bancar principais programas sociais de Marta; para especialistas, meta exige esforço gigantesco
PT prevê aumento de 7,6% em receitas
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é um cenário róseo, mas
também não é o apocalipse anunciado pelo próprio PT para as finanças de São Paulo. O partido
prevê um crescimento de 7,6%
nas receitas da prefeitura e um
corte de 20% no valor dos contratos no ano que vem para bancar
os cinco principais programas sociais de Marta Suplicy.
Os cinco principais programas
são: renda mínima, bolsa-trabalho, Banco do Povo, Começar de
Novo e alfabetização de adultos
(veja no quadro abaixo o objetivo
e o custo de cada um).
Segundo estimativas do engenheiro Amir Khair, cérebro financeiro da campanha de Marta e secretário de Finanças na gestão de
Luiza Erundina (1989-1992), eles
custarão R$ 232 milhões no primeiro ano de governo. "Esses
programas são prioritários e para
eles não faltará dinheiro", diz.
O valor equivale a 3,06% da receita projetada para 2001 e é menor do que os gastos previstos na
Secretaria do Abastecimento (R$
287 milhões), que cuida basicamente da merenda escolar.
Município cresce mais
O crescimento de 7,6% nas receitas em 2001 baseia-se na hipótese de que o PIB (Produto Interno Bruto), a soma de todas as riquezas do país, crescerá 4%.
Khair fez a projeção a partir de
estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), segundo o qual os
municípios crescem num ritmo
mais forte que o PIB. Entre 1988 e
1998, a receita dos municípios
cresceu 11,5% ao ano, enquanto a
subida anual do PIB foi de 2%.
O aumento de 7,6% nas receitas
traz embutida a previsão de que
haverá mais eficiência na arrecadação de impostos. Khair estima
um aumento de 4% nas receitas
próprias da prefeitura por causa
da melhora na arrecadação.
Se as previsões de aumento do
PIB e de melhora na arrecadação
se concretizarem, a prefeitura terá
R$ 533 milhões a mais em 2001.
Só com esse valor, porém, a
conta não fecha. A prefeitura terá
de pagar R$ 903 milhões em serviços da dívida -um aumento de
R$ 398 milhões em relação ao que
está sendo pago este ano.
Aí entra o custo da corrupção. O
sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, coordenador de projetos do
Instituto Florestan Fernandes, entidade ligada ao PT, acredita que
poderá cortar em 20% o valor dos
contratos, como o do lixo.
Esses contratos alcançam R$
2,27 bilhões. Um corte de 20%
equivale a uma economia de R$
454 milhões. É quase o mesmo valor que a prefeitura gastou este
ano com coleta e varrição de lixo
(R$ 440 milhões).
Segundo essa conta, haverá dinheiro para bancar os cinco principais programas sociais e sobrará, teoricamente, R$ 358 milhões.
A suposta sobra é teórica porque esses recursos serão gastos
com salários do funcionalismo e
pagamento de dívidas atrasadas,
segundo Khair. O PT não tem a
menor idéia de quanto será o aumento do funcionalismo, mas deve ser superior a 1,4%, como prevê a proposta do Orçamento para
2001 feita por Celso Pitta.
Delírio?
Esforço gigantesco
Dois especialistas em finanças
públicas consultados pela Folha
acham que o PT não está delirando ao prever um aumento de
7,6% na receita em 2001 e um corte de 20% no valor dos contratos.
"Será preciso um esforço gigantesco, mas não é uma meta estapafúrdia", diz o economista Gustavo Zimmermann, professor da
Unicamp e pesquisador do Núcleo de Economia Social, Urbana
e Regional, sobre a previsão de
aumento na receita.
"É uma conta apertada, mas
não parece uma previsão exagerada", diz Raul Velloso, especialista
em finanças públicas.
Já no caso do corte de 20% no
valor dos contratos, Zimmermann acha a meta até modesta e
Velloso considera que é difícil
atingi-la "por causa da inércia do
primeiro ano de governo".
Já o secretário de Finanças do
município, Deniz Ferreira Ribeiro, disse, por meio da assessoria
do prefeito, que a proposta é
"complicada". Segundo ele, não
dá para aumentar a receita no ritmo projetado pelo PT, nem dá para baixar em 20% os valores dos
contratos. Ele diz que não há superfaturamento e que, se o PT reduzir seus valores, poderá sofrer
uma chuva de processos.
Texto Anterior: Erundina diz que não fará parte de governo Próximo Texto: Meta até 2004 é pôr fim ao analfabetismo Índice
|