São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONGRESSO

Paraense é indicado candidato a presidente do Senado em "superterça"

Jader é candidato oficial do PMDB; ACM sofre derrota
Lula Marques/Folha Imagem
Jader Barbalho (PMDB-PA), que foi indicado pelo partido como candidato a presidente do Senado



FERNANDO RODRIGUES
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) deu ontem um passo decisivo para consolidar sua candidatura à presidência do Senado e impôs uma importante derrota a seu principal adversário político, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), atual presidente da Casa.
Apesar da obstinada oposição do pefelista, Jader foi eleito candidato do PMDB à sucessão de ACM, com os votos favoráveis de 23 dos 26 senadores do seu partido, saindo vitorioso da chamada "superterça" -a reunião decisiva da bancada, que durou cerca de quatro horas. José Sarney (AP) foi o único ausente.
Houve um voto contra, de Roberto Requião (PR), e uma abstenção, de José Fogaça (RS). A expectativa dos adversários de Jader era que poderia haver até oito senadores dissidentes, o que enfraqueceria sua candidatura.
No final da tarde, a Executiva Nacional do PMDB referendou a decisão da bancada. Além disso, recomendou o cumprimento do acordo dos peemedebistas na Câmara, de apoiar a candidatura de Aécio Neves (PMDB-MG) para presidente daquela Casa. Em troca, os 14 senadores tucanos dizem que apoiarão Jader no Senado.
Segundo avaliação geral no Senado, a decisão quase unânime da bancada tira Sarney do páreo e encerra o suspense que ele próprio mantinha em torno de uma suposta candidatura.
O ex-presidente tem declarado -inclusive em nota- que só seria candidato de consenso e que não enfrentaria Jader no plenário.
O fato de Sarney não ter se lançado diretamente na disputa deixou seus aliados no PMDB sem candidato e sem motivos para votar contra Jader. Contrariando ACM, Sarney chegou a recomendar a senadores que seguem sua orientação, como Gilvan Borges (AP), que fossem à reunião e votassem em Jader.
ACM não admitiu a derrota. ""A luta continua. Vamos ter candidato", disse. Ele mantinha o ar confiante até durante a reunião do PMDB. Ao deixar o Congresso na hora do almoço, quando os peemedebistas já estavam reunidos há quase duas horas, disse: ""O jogo ainda não começou...Se a reunião fosse fácil (para Jader), você acha que demoraria tanto?"
ACM teve a confirmação da eleição de Jader em telefonema a Requião. ""Foi aquilo mesmo. Só eu votei contra", disse o senador paranaense ao pefelista, confirmando que o resultado já era previsto até por adversários de Jader.

Ulysses
A reunião do PMDB foi tensa. Jader fez um discurso inicial, dizendo que aceitaria ser derrotado na bancada, mas não poderia aceitar vetos de outros partidos. Ironicamente, disse que havia sido lançado pelo próprio ACM, há cerca de um ano, quando teve início o confronto entre ambos.
O peemedebista entregou aos demais senadores uma espécie de certidão negativa do Ministérios Públicos Federal e do Pará, para mostrar que não há processos contra ele nem condenações por qualquer prática criminosa.
A maioria dos senadores, como Ney Suassuna (PB), Renan Calheiros (AL) e Gilberto Mestrinho (AM), defendeu a indicação de Jader como uma questão de sobrevivência do partido.
Todos elogiaram a atuação de Jader como presidente do partido e líder da bancada no Senado. Afirmaram que, antes dele, o PMDB estava dividido, e que foi consolidado por Jader.
Fogaça, que tem divergências com o paraense desde que ele se tornou líder, disse que não houve discussão antes da eleição. ""Abstive-me por uma discordância metodológica. Eu queria debates, análise da situação", disse.
Requião comparou Jader ao deputado Ulysses Guimarães, já morto, que acumulava a presidência do PMDB com a presidência da Câmara, e, no mesmo período, ainda assumiu várias vezes a presidência da República -durante o governo Sarney (1985-89).
""Agora só falta ele almejar a Secretaria Geral da ONU (Organização das Nações Unidas", disse Requião aos jornalistas.
Fogaça propôs e os 25 senadores do PMDB concordaram em não realizar a votação de forma secreta, como é a tradição. Jader havia providenciado urna e cédulas. Mas todos declararam suas posições antecipadamente.
À medida que os senadores iam chegando para a reunião, parecia que a escolha não seria tão pacífica. Alguns prometiam questionar a candidatura de Jader, como Maguito Vilela (GO).
""Os dois (Jader e ACM) estão denegrindo a classe política com essa briga. Com o Jader na presidência, seriam mais dois anos de briga. Eu escolheria um candidato que não estivesse ligado a nenhum dos dois. Isso tem de ser discutido. Não é chegar e aclamar (Jader)", disse Maguito.
Na reunião, Maguito não fez esse questionamento. Ele será diretamente beneficiado com a eleição de Jader a presidente do Senado: como 1º vice-presidente do partido, assumiria a presidência, pois Jader deixará o cargo.



Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: ACM ameaça ressuscitar caso EJ se perder
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.