São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2001

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CONGRESSO

Senador pefelista dá uma última cartada para tentar levar FHC a ajudá-lo a derrotar Jader à sua sucessão

ACM ameaça ressuscitar caso EJ se perder

KENNEDY ALENCAR
FERNANDO RODRIGUES

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Antonio Carlos Magalhães ameaça ressuscitar o caso EJ e dizer que Fernando Henrique Cardoso sabe de supostos casos de corrupção do PMDB. ACM (PFL-BA) guardaria até mensagens do presidente criticando ministros e a cúpula peemedebista.
A interlocutores, ACM disse que essa será a sua reação mais provável em caso de vitória do desafeto Jader Barbalho (PMDB-PA) na eleição para presidente do Senado, o que significaria sua maior derrota política nos seis anos de governo FHC.
No entanto, há também um sentido imediato nas ameaças. Ao fazê-las agora, ACM dá uma última cartada para tentar levar FHC a ajudá-lo a derrotar Jader. Apesar de declarar-se neutro, o presidente faz um jogo nos bastidores que beneficia Jader.
Em conversas reservadas, ACM condicionou o ataque às circunstâncias. Ou seja, se conseguir derrotar a candidatura Jader, não criticaria FHC nem tornaria públicas supostas confidências presidenciais sobre peemedebistas.
Um grupo palaciano crê que, devido ao temperamento e à eventual derrota, o pefelista cumpriria as ameaças. Afastar-se-ia do presidente e daria início a uma espécie de cruzada moral para ferir FHC e peemedebistas.

"Blefe"
Para outro grupo, seria apenas um blefe, porque significaria uma declaração de guerra. FHC seria compelido a tomar os dois ministérios sob controle de ACM (Previdência Social e Minas e Energia). Segundo essa visão, ACM precisa dos cargos para se manter forte, ainda mais depois de deixar a presidência do Congresso.
Nos dois grupos, há um consenso. Mesmo que seja um blefe, a ameaça já faz um estrago político. Na hipótese de ser cumprida, a Folha apurou que o presidente teme, por exemplo, que uma manobra do pefelista possa contribuir para que seja quebrado o sigilo de ligações feitas por Eduardo Jorge Caldas Pereira, o EJ, no tempo em que ele ocupou a Secretaria Geral.
Até hoje, foram quebrados sigilos de quem telefonou para EJ, como o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto (caso TRT). O ex-auxiliar do presidente ofereceu a uma comissão do Senado e ao Ministério Público lista de telefonemas dos números que quis.
As suspeitas de tráfico de influência sobre EJ, antigo auxiliar de FHC, foram consideradas pelo presidente o episódio político mais desgastante de seus dois mandatos.
Obviamente, Fernando Henrique Cardoso não deseja a volta do caso à mídia e à política no momento em que sua popularidade melhora. A auxiliares, o presidente disse que ACM estaria perdendo a racionalidade devido à chance de Jader vencer no Senado.
As ameaças de ACM preocuparam FHC e seus auxiliares palacianos. No Planalto, avalia-se que são um sinal de desespero de quem já teria visto que dificilmente conseguirá derrotar Jader e eleger José Sarney (PMDB-AP) presidente do Senado.
Entre as revelações a respeito da cúpula do PMDB, ACM possuiria mensagens nas quais FHC reconhece que o pefelista teria razão em apontar casos de corrupção em ministérios e órgãos públicos sob comando de peemedebistas.
Segundo o relato de ACM a interlocutores, ele poderia dizer que ouviu de FHC que Jader não teria condições morais e éticas para assumir o Ministério dos Transportes em 1997, quando a pasta foi dada a Eliseu Padilha.
O pefelista também teria ouvido o presidente dizer que um cacique do PMDB do Rio não poderia ficar perto de cofres, em alusão ao assessor especial da Presidência, Moreira Franco.
Ainda de acordo com a versão de carlistas, ACM teria obtido informação do próprio presidente para citar supostos interesses do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), no porto de Santos e do líder peemedebista na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), no porto de Salvador.
"Não perco uma noite de sono com o que ACM possa dizer. Devo a ele, um homem solitário, apenas respeito geriátrico", disse o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).
Além de interlocutores de ACM que fizeram chegar ao Palácio do Planalto as ameaças, o senador José Sarney (PMDB-AP) teria dito em encontro com FHC anteontem que ele poderia ser atingido pelo nível de radicalização da disputa entre ACM e o PMDB.


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