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NO AR
Torcida adversária
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Raras vezes um programa
de governo foi recebido
sob tal vaia da opinião pública
como o Fome Zero.
Só ontem, falavam mal dele
na Globo a coordenadora da
Pastoral da Criança, Zilda Arns,
e Eduardo Suplicy.
Fátima Bernardes, no Jornal
Nacional, dizia gravemente que
o programa "enfrenta críticas
até numa das primeiras cidades
beneficiadas".
No Jornal da Record, que ao
contrário do JN nem destacou o
plano na primeira manchete,
Boris Casoy criticou acidamente
o "amadorismo" na condução e
afirmou temer um "estrondoso
fracasso".
Na rádio Jovem Pan, Antônio
Ermírio de Moraes disse jamais
ter visto alguém morrer de fome
no Brasil e que o problema é a
falta de trabalho.
Nos últimos dias foi ainda
pior, em toda parte.
Não é de estranhar que Lula
tenha feito um discurso acuado,
de justificação do Fome Zero,
mais do que de convocação à
"guerra contra a fome".
Ao vivo nos canais de notícias,
falou sem parar que o programa
é "muito mais do que doação de
alimentos", que é necessário
"ensinar a pescar", não apenas
"dar o peixe" etc.
Quer dizer, como fez antes em
sua ação na Venezuela, ouviu
as muitas críticas e adaptou-se,
cedeu.
No final do pronunciamento,
diante de semblantes fechados,
animou-se com a guerra que
"não é para matar ninguém",
mas "simplesmente para salvar
vidas".
Chegou a ser fascinante, como
ele quase sempre é, mas restou
claro que precisa "persistir" não
só contra a fome, como afirmou,
mas sobretudo contra a torcida
adversária.
Não está tão sozinho.
Elogios inusitados ao Fome
Zero surgiram aqui e ali, até no
editorial usualmente antipetista
da rádio Bandeirantes, pela
manhã.
Alexandre Garcia afirmou
que, "ovacionado em Davos,
apoiado na Alemanha, elogiado
na França", o programa faz a
coisa certa:
- País rico com povo pobre
tem que começar aplacando a
fome.
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