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São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

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NO AR

Torcida adversária

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Raras vezes um programa de governo foi recebido sob tal vaia da opinião pública como o Fome Zero.
Só ontem, falavam mal dele na Globo a coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, e Eduardo Suplicy.
Fátima Bernardes, no Jornal Nacional, dizia gravemente que o programa "enfrenta críticas até numa das primeiras cidades beneficiadas".
No Jornal da Record, que ao contrário do JN nem destacou o plano na primeira manchete, Boris Casoy criticou acidamente o "amadorismo" na condução e afirmou temer um "estrondoso fracasso".
Na rádio Jovem Pan, Antônio Ermírio de Moraes disse jamais ter visto alguém morrer de fome no Brasil e que o problema é a falta de trabalho.
Nos últimos dias foi ainda pior, em toda parte.
Não é de estranhar que Lula tenha feito um discurso acuado, de justificação do Fome Zero, mais do que de convocação à "guerra contra a fome".
Ao vivo nos canais de notícias, falou sem parar que o programa é "muito mais do que doação de alimentos", que é necessário "ensinar a pescar", não apenas "dar o peixe" etc.
Quer dizer, como fez antes em sua ação na Venezuela, ouviu as muitas críticas e adaptou-se, cedeu.
No final do pronunciamento, diante de semblantes fechados, animou-se com a guerra que "não é para matar ninguém", mas "simplesmente para salvar vidas".
Chegou a ser fascinante, como ele quase sempre é, mas restou claro que precisa "persistir" não só contra a fome, como afirmou, mas sobretudo contra a torcida adversária.
 
Não está tão sozinho.
Elogios inusitados ao Fome Zero surgiram aqui e ali, até no editorial usualmente antipetista da rádio Bandeirantes, pela manhã.
Alexandre Garcia afirmou que, "ovacionado em Davos, apoiado na Alemanha, elogiado na França", o programa faz a coisa certa:
- País rico com povo pobre tem que começar aplacando a fome.


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