São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

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ESTADOS
Em um mês, governador emprega oito familiares; contratações foram publicadas no "Diário Oficial do Estado'
Zeca do PT contrata parentes no MS

RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Campo Grande

O governador do Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, contratou em um mês de governo oito parentes e mais dois podem ser nomeados. As contratações já foram publicadas no "Diário Oficial do Estado" e provocaram a primeira crise na aliança de esquerda que sustenta o governo petista.
O advogado Carmelino Rezende (PPS), candidato derrotado ao Senado na aliança que elegeu Zeca, foi o primeiro a protestar.
Sem ter conseguido a Secretaria das Finanças, seu "único cargo possível e desejado" no governo, Rezende partiu para o ataque.
"O combate ao nepotismo sempre foi uma bandeira da esquerda. Agindo como está, o governador nos faz perder as esperanças", disse o advogado, que na próxima terça-feira participa de encontro organizado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) sul-matogrossense para iniciar um movimento contrário ao nepotismo.
A OAB pretende reapresentar uma proposta de emenda à Constituição Estadual que proíbe a contratação em cargos de confiança de parentes até o terceiro grau.
A emenda já foi apresentada e derrotada na Assembléia Legislativa no final de 97. Nessa votação, o atual governador, então deputado estadual, foi favorável à proibição.
Nos últimos 15 dias, o "Diário Oficial" noticiou a contratação de pelo menos três sobrinhos e um irmão de Zeca, o procurador de Justiça Heitor Miranda, que exercerá um cargo de confiança sem remuneração, mas com viagens e hospedagens pagas pelo governo.
Seu cargo será o de coordenador de Ações Estratégicas e Assuntos Internacionais e foi cedido pela Procuradoria ao Executivo, recebendo o salário de procurador.
Os parentes estão dentro dos 264cargos em comissão da Secretaria do Governo, chefiada um sobrinho de Zeca, Vander Loubet, que está no PT há mais de 12 anos.
Loubet, por sua vez, contratou uma prima, Nilza Miranda Balbuena, igualmente filiada ao partido e que irá receber o penúltimo menor salários dos cargos (R$ 564, 10). Ela também é prima distante de Zeca do PT.
Todos os contratados exerciam maior ou menor atividade dentro do PT, seja no gabinete do então deputado estadual Zeca do PT ou na vitoriosa campanha dele para o governo do Estado. Mas isso não aplaca as críticas ao governador.
"O governador do Estado é como a mulher de César: não basta ser honesto, tem que parecer honesto", disse Rezende.
O jornalista Eber Benjamin Santos de Arruda, por exemplo, foi contratado como assessor executivo da Cogecom (Coordenadoria Geral de Comunicação).
Sobrinho do governador, Arruda milita no PT desde 1981, com breve passagem no PSTU, e atuou na assessoria de imprensa de campanha de Zeca. Muitos militantes do PT nem sabem do parentesco.
Gilda dos Santos, mulher de Zeca, foi nomeada para a recém-criada Coordenadoria Especial de Políticas para a Mulher. O major José Loubet, primo do governador, assumiu a Casa Militar. Um caso que vem sendo questionado pelos petistas ligados à tendência "radical" do partido é o de Carla Cristiane Santos Silva, sobrinha de Zeca.
Ela é militante do partido desde o início dos anos 90 e trabalhou no gabinete de Zeca quando ele era deputado, mas formou-se em direito em 97 e já conseguiu uma vaga de assessora na Procuradoria de Assuntos Administrativos da PGE (Procuradoria Geral do Estado), com um salário de R$ 841,12.
O outro sobrinho contratado, Orcírio Santos Neto, o "Pancho", filho de um irmão pecuarista de Zeca na cidade de Porto Murtinho, terra natal do governador, trabalha há mais de dez anos com o tio. Ele receberá R$ 1.265,92 por mês na Secretaria do Governo.



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