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ORÇAMENTO
Segundo o ministro, quantia destinada a sua pasta é insuficiente para manter os hospitais ativos
Serra cobra mais verba para a Saúde
DANIELA FALCÃO
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
O ministro José Serra (Saúde)
afirmou ontem que, se não houver aumento nos valores aprovados ontem no Orçamento Geral
da União para sua pasta, o sistema público de saúde entrará em
colapso.
"O país precisa saber que com
esse Orçamento o sistema de saúde não se mantém, entrará em colapso", disse Serra à Folha.
Segundo o ministro, o rombo
nas contas da Saúde chega a R$
2,2 bilhões.
Segundo ele, se não houver suplementação orçamentária, o Ministério da Saúde não terá como
garantir o pagamento até dezembro dos hospitais conveniados ao
SUS (Sistema Único de Saúde).
"Não estamos pedindo dinheiro
extra. Os R$ 2,2 bilhões que faltam são necessários para conseguir manter em 2000 o gasto mensal que vínhamos tendo com hospitais em dezembro passado",
queixou-se Serra.
Questionado sobre de que rubrica do Orçamento seria retirado
dinheiro para cobrir o rombo na
Saúde, Serra disse que isso não cabe a ele decidir.
"Tenho de ter esse dinheiro. Como vai ser feito não interessa",
afirmou.
Ontem, com quase quatro meses de atraso, a Comissão de Orçamento do Congresso aprovou a
lei orçamentária para 2000, sob a
ameaça do governo de cancelar
despesas propostas pelos parlamentares. O texto ainda será votado no plenário do Congresso.
Além dos R$ 2,2 bilhões necessários para conseguir pagar normalmente os hospitais, o orçamento da Saúde precisará de outro R$ 1,05 bilhão para atender às
emendas incluídas pelos parlamentares -que aumentaram o
gasto per capita com saúde no
Norte e no Nordeste.
Os parlamentares defendem o
aumento no gasto do SUS em R$
1,05 bilhão destinado a essas regiões com o argumento de que a
legislação do SUS prevê um gasto-padrão por habitante em todo o
país.
Hoje, os Estados do Sul e do Sudeste recebem mais dinheiro por
habitante do SUS porque possuem hospitais mais bem equipados e com maior número de leitos
disponíveis.
Como a verba do SUS é distribuída de acordo com a produção
(quanto mais procedimentos são
feitos, mais o Estado recebe), as
regiões que têm hospitais maiores
e mais modernos recebem mais.
Na prática, os municípios baianos e cearenses foram os que mais
se beneficiaram da alteração feita
pelos parlamentares, pois receberão uma injeção de R$ 459,4 milhões do SUS.
Para obrigar o governo a destinar o R$ 1,05 bilhão a mais para o
SUS, a Comissão de Orçamento
incluiu no texto da lei orçamentária um artigo que determina que a
aplicação do excesso de arrecadação tributária deve ser destinado
prioritariamente ao programa.
Esse gasto chegou a ser estimado em R$ 1,58 bilhão, mas foi reduzido porque a lei orçamentária
só irá vigorar a partir de abril e,
assim, o aumento no piso do Norte e Nordeste só será elevado a
partir dessa data.
O líder do governo na comissão,
deputado Alberto Goldman
(PSDB-SP), disse ontem que esse
artigo será vetado pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso.
"O governo não aceita ficar engessado na hora de executar o Orçamento. Muitos setores deixarão
de receber recursos do excesso de
arrecadação por causa desse artigo, até que o SUS receba todo o dinheiro previsto. Isso é um absurdo", protestou Goldman, que não
conseguiu derrubar a iniciativa da
comissão que avalia o caso na votação de ontem.
Sob a orientação do ministro
Martus Tavares (Planejamento),
Alberto Goldman incluiu na lei
orçamentária uma opção ao gasto
adicional de R$ 1,05 bilhão no
SUS.
Ele conseguiu aprovar um artigo que destina R$ 2,1 bilhões para
toda a saúde pública federal, sem
especificar que a verba tem de ser
gasta no Norte e Nordeste e sem
estabelecer uma conexão direta
com o excesso de arrecadação que
ocorra neste ano.
Goldman se reuniu ontem com
Serra e Martus Tavares. Ele disse
que os dois ministros -principalmente o da Saúde- tentarão
acabar com os gastos adicionais e
exclusivos do SUS para as regiões
Norte e Nordeste, mostrando que
outras áreas da Saúde ficarão com
recursos inferiores aos considerados ideais pelo governo se a
emenda dos parlamentares for
implementada.
"Se a intenção dos deputados de
aumentar o gasto no Norte e Nordeste for mantida, o rombo vai
subir para R$ 3,3 bilhões. Da forma como está, não dá para pagar
os hospitais do país até o fim do
ano", disse Serra.
Caso a alteração não seja derrubada no plenário do Congresso,
prevalecerá a orientação defendida por Martus Tavares: vetar todo
o artigo que destina R$ 1,05 bilhão
ao SUS.
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