São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


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CONGRESSO
Partido aposta em reabertura de negociações devido ao seu peso na base parlamentar governista
PFL recua em proposta para o mínimo

DENISE MADUEÑO
RAQUEL ULHÔA
da Sucursal de Brasília

O PFL adotou ontem um recuo tático em sua proposta sobre o salário mínimo, apostando na reabertura de negociações com o governo. A executiva aprovou por unanimidade uma posição de aparente confronto, mas que abre brechas para uma saída honrosa para o partido (leia texto abaixo).
O partido decidiu aceitar o salário mínimo de R$ 151 a partir de 3 de abril, desde que o governo aprove a proposta de aumentá-lo para R$ 177 em 1º de janeiro.
Uma emenda neste sentido já foi apresentada na comissão mista que analisa a medida provisória do salário mínimo pelos senadores José Jorge (PFL-PE) e Paulo Souto (PFL-BA).
A proposta já havia sido apresentada ao presidente Fernando Henrique Cardoso pelo presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), com o aval do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (BA).
"O PFL manteve sua posição a favor do mínimo de R$ 177. Comprovada a falta de recurso, o partido aceita flexibilizar no tempo para que esse valor vigore a partir de janeiro", afirmou Bornhausen.
ACM declarou que acata a decisão. "Essa é uma fórmula que não é a ideal, mas que o presidente Bornhausen levou para o presidente Fernando Henrique. Nós somos pelos R$ 177 imediatamente. Entretanto, se tiver dificuldades provadas pelo governo, adotamos em 1º de janeiro", disse.
O governo já sinalizou que não aceita essa imposição, mas lideranças governistas, que não querem radicalizar a divergência com o PFL, afirmam que o presidente poderá aceitar a tese de aumentar novamente o mínimo em janeiro, mas sem fixar agora seu valor.
Essa seria uma forma de superar o impasse atual em torno do salário mínimo sem comprometer o governo antecipadamente com aumento de gastos. "Queremos (os demais partidos da base) uma saída honrosa para o PFL", afirmou o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).
Pelo menos no discurso, os pefelistas foram radicais na saída da reunião. "O PFL mantém sua posição do valor de R$ 177. Se precisar, vamos disputar no voto no plenário", afirmou o líder do partido no Senado, Hugo Napoleão (PI). "Se perder, perdeu. Nós estamos unidos na nossa posição", disse Bornhausen.
O deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL) traduziu o raciocínio feito na reunião. "A idéia é que o partido se fortalece politicamente mantendo a posição a favor do R$ 177, e que perderia, se recuasse, porque já vendeu para a opinião pública uma imagem de defesa do salário maior."
Juntos, o PFL e a oposição não têm votos suficientes para enfrentar os demais partidos da base aliada. Essa união, no entanto, pode provocar desgaste político e atrapalhar votações de interesse governista no Congresso.
"É difícil a vida do governo sem o PFL. O partido, por exemplo, pode se retirar da comissão que analisa o subteto e impedir a votação. O governo vai negociar", afirmou o deputado Luiz Antonio de Medeiros (PFL-SP).
Ele foi o autor da proposta do partido de elevar o salário mínimo para o equivalente a US$ 100. Ele apresentou emenda na comissão mista aumentando o valor do mínimo para R$ 177 já.

Planalto
O presidente Fernando Henrique Cardoso considerou a proposta do PFL uma abertura para a busca do entendimento, mas não vai opinar sobre seu conteúdo, disse o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière.
"Ele (FHC) vê (a proposta) como um passo na busca do entendimento. Mas a discussão agora foi transferida para o âmbito do Congresso, dos partidos", declarou o porta-voz.
Questionado se o presidente vetaria um eventual aumento do valor do mínimo pelo Congresso, Lamazière disse que "o presidente acredita que não haverá necessidade de chegar a essa hipótese, porque ele considera que o Congresso está consciente da posição do governo".


Colaborou Augusto Gazir, da Sucursal de Brasília

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