São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


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COPOM
Comitê decidiu manter juros em 19% ao ano por temer possível pressão inflacionária com variações
Pisos regionais ameaçariam estabilidade

SÍLVIA MUGNATTO
da Sucursal de Brasília

O Copom (Comitê de Política Monetária) considerou um fator de risco para a manutenção de um índice baixo de inflação neste ano a possibilidade de os Estados poderem fixar pisos regionais para o salário mínimo, maiores ou iguais aos R$ 151 estabelecidos pelo governo federal.
O assunto foi discutido na reunião do Copom que ocorreu na semana passada. Ela decidiu manter a taxa de juros básica em 19% ao ano.
A reunião do comitê aconteceu antes da decisão do presidente Fernando Henrique Cardoso de fixar o mínimo em R$ 151.
O presidente também decidiu enviar um projeto de lei complementar ao Congresso permitindo que os governadores fixem os pisos regionais.
A preocupação com o mínimo regional está na ata da reunião, divulgada ontem.
Nessa ata, o comitê previa que a fixação do mínimo ficaria em R$ 150.
A possibilidade de criar pisos diferenciados em cada Estado brasileiro é avaliada pelo Copom como um "fator de risco" para a estabilidade de preços.
Segundo o comitê, esse fator necessita ser "cautelosamente avaliado".
FHC resolveu permitir os mínimos regionais para retirar do governo a pressão por um aumento maior que R$ 151, repassando-a aos Estados.
Alguns governadores da base aliada, porém, já aceitaram a provocação e anunciaram projetos de lei que vão aumentar o mínimo regional para valores acima de R$ 170.
Esse foi o caso da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e do governador da Bahia, César Borges.
Ambos fazem parte do PFL, que havia proposto um salário mínimo de US$ 100, equivalente a cerca de R$ 177.

Mínimo e petróleo
O Copom mantém alta a taxa de juros quando acredita que o índice de inflação poderá aumentar no futuro.
Com a elevação, a atividade econômica é reduzida e a inflação não tem espaço para crescer.
Na ata, o Copom atribuiu a decisão de manter a taxa de juros em 19% ao que chamou de "nível de incerteza" do momento.
"Uma resolução adequada das incertezas ligadas ao petróleo e ao salário mínimo, nos dias subsequentes, daria maior embasamento a uma redução dos juros", diz a ata.
Depois da reunião do Copom, o BC decidiu, no início desta semana, baixar a taxa de juros de 19% ao ano para 18,5% ao ano.
Ao anunciar a redução nos juros , o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, evitou falar sobre o salário mínimo.
O diretor disse que o Banco Central estava aguardando apenas o resultado da reunião dos países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para reduzir a taxa.
O aumento da produção mundial de petróleo tende a reduzir os preços internacionais, diminuindo a necessidade de reajustes internos de preço.
A própria diretora-adjunta do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional), Teresa Ter-Minassian, manifestou sua preocupação com o mínimo regional esta semana.
Teresa, que não fala com jornalistas quando vem ao Brasil, disse em Washington que o aumento do mínimo além de R$ 151 poderia trazer aumento da informalidade da economia -o emprego sem carteira assinada.


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