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Mattoso diz que denúncia é leviana
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, classificou ontem de "leviana" a denúncia contra dirigentes do banco por gestão temerária e fraudulenta, além de corrupção passiva,
na renegociação de um contrato
milionário com a multinacional
GTech. A denúncia fora divulgada na véspera pelo procurador da
República Marcelo Serra Azul.
"Qualquer pessoa que leia com
atenção a denúncia, verá que ela
foi feita com muita pressa e pouca
seriedade", disse Mattoso. Até ontem à tarde, ele não havia recebido o documento oficialmente,
mas já preparava uma defesa prévia à Justiça Federal, que decidirá
nos próximos dias se aceita ou
não a denúncia.
O procurador afirma na denúncia que a prorrogação do contrato
contou com a interferência do então assessor parlamentar do Planalto Waldomiro Diniz, demitido
a pedido em 13 de fevereiro, depois de aparecer em gravação de
2002 cobrando propina do empresário de jogos Carlos Augusto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Waldomiro e Cachoeira também são denunciados por Serra
Azul, assim como três outros dirigentes da Caixa, o ex-presidente
da GTech no Brasil Antonio Carlos Lino da Rocha, o atual diretor
de marketing da multinacional,
Marcelo Rovai, e o empresário
Rogério Buratti, ex-assessor de
Antonio Palocci Filho em Ribeirão Preto (SP). A GTech não quis
se manifestar sobre a denúncia.
Protocolada ontem, a denúncia
será encaminhada hoje à 10ª Vara,
responsável por processos de lavagem de dinheiro e crime contra
o sistema financeiro.
Mattoso insiste em que a prorrogação do contrato com a GTech
para o processamento de dados
das lojas lotéricas "foi o melhor
negócio" possível e não sofreu nenhuma interferência externa.
O procurador Marcelo Serra
Azul afirma que a renovação do
contrato com a GTech por até 25
meses implicou um prejuízo de
R$ 40 milhões para a Caixa.
A denúncia sugere que o contrato, renovado em 8 de abril do
ano passado, poderia ter sido interrompido ali. Mattoso sustenta
que o banco estatal não tinha alternativa por estar impedido pela
Justiça ainda hoje -quase um
ano depois da renovação do contrato- de fazer as licitações para
substituir os serviços da GTech.
Além disso, diferentemente do
que afirma a denúncia, a Caixa só
poderia assumir o processamento
dos jogos em outubro.
O banco estatal já apresentou
uma representação contra o procurador responsável pela denúncia. Na semana retrasada, Serra
Azul teria apreendido, sem mandado judicial, os registros de visitantes da Caixa. Segundo Mattoso, entre os delegados, estaria o irmão do procurador Francisco
Leite Serra Azul Neto, que cuida
de Meio Ambiente e Patrimônio
Histórico na Polícia Federal.
"As atitudes do procurador não
correspondem à tradição do Ministério Público. Mas não tenho
como avaliar suas intenções. Não
conheço suas preferências políticas, religiosas ou sexuais", disse o
presidente da Caixa.
Procurado pela Folha, Serra
Azul afirmou que achou muito estranhas as declarações de Mattoso. "Tudo que o Ministério Público tinha a dizer está nos autos."
Mattoso disse que mandou
abrir uma sindicância interna para apurar o motivo da presença de
Waldomiro nas dependências da
Caixa em 25 de março de 2003,
poucos dias antes da assinatura
da prorrogação do contrato com a
GTech. Três funcionários cujos
nomes apareciam na agenda do
ex-assessor negaram o encontro.
Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da
Sucursal de Brasília
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