São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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IMAGEM OFICIAL

Propaganda do Bolsa-Família trazia informações equivocadas sobre os benefícios pagos pelo programa

Planalto tira outro comercial enganoso do ar

Reprodução
Imagem do comercial do Bolsa-Família que também sairá do ar


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria de Comunicação de Governo (Secom) mandou tirar do ar ontem mais uma peça publicitária que continha informações enganosas sobre programas federais. Desta vez, foi suspensa a veiculação da campanha explicativa do Bolsa-Família, considerado o principal programa social do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A Secom já havia determinado anteontem a suspensão dos comerciais sobre o Pronaf, programa de agricultura familiar, após reportagem publicada pela Folha que mostrava serem enganosas as imagens usadas na peça.
A atual campanha do governo federal, composta por cinco filmes de responsabilidade da agência de Duda Mendonça, foi paga com dinheiro público. O custo total é estimado em R$ 8 milhões.
O comercial do Bolsa-Família apresenta informações equivocadas sobre os benefícios pagos pelo programa. Além disso, a Folha apurou que a Secom foi informada de que imagens que aparecem no filme, assim como as da peça do Pronaf, não são reais.
A peça sobre o Pronaf foi filmada em uma área particular, cujo dono, Mário Ribeiro, possui outras cinco propriedades vizinhas que, somadas, alcançam 1 milhão de metros quadrados e produzem dez toneladas de verduras por dia. Ribeiro, portanto, está fora do programa de crédito.
Foram contratados funcionários do local para aparecer nas imagens como se fossem pequenos agricultores. Mendonça isentou o governo de culpa: "A culpa não é do governo. É toda minha".
No filme do programa de transferência de renda, há uma suposta família beneficiada pelo projeto tomando café da manhã. À frente, uma apresentadora fala sobre os avanços dos programas sociais e indica as pessoas da mesa como os "milhares" de famílias que "antes recebiam até R$ 25 por mês, [e] agora recebem até R$ 95".
Números do Ministério do Desenvolvimento Social contradizem a afirmação. O benefício pago antes da unificação dos programas, feita em outubro, não era de "até R$ 25 por mês", mas uma média de R$ 25 por mês, podendo, portanto, ultrapassar o valor.
Durante todo o dia de ontem, a Folha entrou em contato com a agência de Duda Mendonça e com a Resolution Produções, responsável pela execução das peças, para que comentassem a origem das imagens do filme sobre o Bolsa-Família. Não obteve resposta até a conclusão desta edição.
Além do Bolsa-Família e do comercial do Pronaf, a agência de Duda Mendonça está analisando se os outros três filmes também usaram imagens enganosas.
O Bolsa-Família é um programa de complementação de renda, que uniu os seguintes projetos: Vale-Gás, Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação e Cartão-Alimentação. A peça que foi tirada ontem do ar termina com a seguinte frase: "Bolsa-Família, o trabalho sério já começa a dar resultados".


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