São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
MST diz ter mobilizado 20 mil pessoas em ações em 50 municípios do Estado, entre domingo e ontem
Sem-terra invadem 20 fazendas em PE

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife


Cerca de 5.300 famílias de trabalhadores rurais sem terra invadiram 20 propriedades rurais em Pernambuco, entre a madrugada de domingo e a tarde de ontem.
As invasões, coordenadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), mobilizaram 20 mil pessoas de 50 municípios, segundo a entidade.
Não houve registro de confronto, mas em duas fazendas os sem-terra teriam sido expulsos por homens armados, supostamente contratados pelos donos das terras.
De acordo com o líder do MST no Estado, Jaime Amorim, pelo menos mais três invasões estão sendo organizadas e deverão ser efetivadas até o final desta semana.
As ocupações foram planejadas no início do mês e executadas sob o comando das lideranças dos oito núcleos regionais que o movimento mantém em Pernambuco.
Como estratégia, disse Amorim, a entidade optou por concentrar maior número de sem-terra em duas fazendas, a Aracapá, em Orocó, e a Condic, em Limoeiro.
Em Orocó, disse o líder do MST, estão acampadas 1.600 famílias e, em Limoeiro, 1.100. As outras áreas foram invadidas por grupos de, no máximo, 300 famílias.
Segundo Amorim, cada invasor pagou entre R$ 0,50 e R$ 5 pelo transporte. Para viabilizar a operação, disse, o MST fretou e emprestou ônibus e caminhões.
"Nosso objetivo é mostrar ao povo que a agricultura está falindo, que a crise se agravou com a seca e que a reforma agrária precisa ser agilizada", disse Amorim.
O MST pretende reivindicar do Estado alimento para os acampados e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) a vistoria das áreas.
Das 20 propriedades invadidas, informou o líder dos sem-terra, apenas quatro foram vistoriadas. O MST considera "improdutivas" as outras 16 fazendas invadidas.
Procurado ontem pela Agência Folha, o superintendente do Incra em Pernambuco, Roosevelt Gonçalves, não foi encontrado para comentar as invasões e as declarações de Jaime Amorim.

Marcha do Nordeste
Para reforçar suas reivindicações, o MST inicia no próximo dia 13 a "Marcha do Nordeste", versão regional da caminhada nacional dos sem-terra, realizada em 97.
Segundo a entidade, três frentes estão sendo organizadas, em Natal (RN), Maceió (AL) e Arcoverde (PE). Cada grupo percorrerá cerca de 300 quilômetros até Recife.
A chegada dos trabalhadores rurais está prevista para o dia 17 de abril, data que marca os dois anos do confronto entre policiais e sem-terra em Eldorado do Carajás (PA), quando 19 sem-terra foram mortos a tiros.
Na capital pernambucana, os organizadores da marcha esperam reunir cerca de 15 mil lavradores em frente à sede da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).
No local, o MST vai apresentar uma pauta de reivindicações, que incluirá um pedido de liberação de recursos do Finor (Fundo de Investimentos do Nordeste) para os assentamentos da região.



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