São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2001

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TROMBONE FINAL

"Chantagista" e "traidor", dizem adversários de ACM

Tribuna do Senado se tornou um palco dos descontentes após discurso de renúncia

LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Assim que o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) deixou o plenário, seus desafetos foram à tribuna rebater ataques. ACM recebia aliados no gabinete, e no plenário Antero Paes de Barros (PSDB-MT) dizia: "chantagista, traidor e mentiroso".
Os adversários de ACM protestaram contra o "discurso moralizante" do ex-senador. "Ele zombou da inteligência nacional: veio aqui dar aula de moralidade", afirmou Paes de Barros.
Roberto Freire (PPS-PE), inimigo político de ACM, não se conteve. Durante o discurso, protestou -fora do microfone, mas em voz alta- contra os ataques ao senador Saturnino Braga (PSB-RJ), relator do processo de investigação da violação do painel eletrônico.
"Quem ele pensa que é? Ele não tem autoridade moral para dar lição", afirmou Freire, aos senadores Tião Viana (PT-AC) e João Alberto Souza (PMDB-MA). Durante o discurso de ACM, Freire não escondeu o desconforto, depois declarado da tribuna. No plenário, era um dos mais agitados.
"A renúncia não tem motivo nobre. Foi uma mera fuga para evitar a cassação, como fizeram o anões do orçamento", afirmou Freire, referindo-se ao deputados que manipulavam o Orçamento da União e renunciaram ao mandato para não serem cassados.
Heloísa Helena (PT-AL), acusada por ACM de ter votado contra a cassação de Luiz Estevão, foi a primeira a subir à tribuna. Fez um discurso emocionado, citando poema de Carlos Marighela, chefe de um movimento de resistência ao regime militar nos anos 60.
Ela afirmou que, enquanto o Conselho de Ética iniciava um julgamento político de ACM, "o povo o julgou por sua história de trevas, de sombras, de arrogância e de dissimulação".
Depois, Paes de Barros subiu à tribuna e narrou fatos da vida pública de ACM que mostrariam suas principais características: chantagem, traição e mentira. Lembrou que ACM "traiu" o ex-presidente José Sarney (PMDB-AM), do qual foi ministro, para apoiar Fernando Collor.
Atacado duramente por ACM, o presidente do Conselho de Ética, Ramez Tebet (PMDB-MS), afirmou que o ex-senador "destilou ódio" da tribuna e que tem "orgulho" de sua origem. ACM o chamou de "rábula do Pantanal".
"Tenho orgulho da minha origem. Deus me deu a alegria de nascer no Pantanal. Recuso-me a mergulhar em outro tipo de pantanal: no pantanal de mentiras."
Para Pedro Simon (PMDB-RS), que ACM acusou de ter usado o Conselho de Ética para aparecer, a renúncia marca o fim do coronelismo. O líder do PFL no Senado, Hugo Napoleão (PI), defendeu ACM. Ele reclamou que os senadores usaram a tribuna depois da renúncia, o que impedia o ex-senador de rebater as críticas.
Saturnino Braga não fez discurso no plenário, mas respondeu com elegância às declarações de ACM. "A gente bate quando precisa bater. Bater em quem está saindo derrotado não tem sentido", disse. ACM foi irônico ao comentar a decretação de falência da Prefeitura do Rio de Janeiro, quando ele era prefeito: "Ele deve ter vasculhado seu arquivo de dossiês, não encontrou nada e veio com ataques pessoais".


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