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DATAFOLHA
Com o rumor de queda da intenção de voto em Fernando Henrique, mercado sofreu queda de 3% na sexta
Impacto de pesquisa atingirá Bolsa amanhã
CELSO PINTO
do Conselho Editorial
Uma parte da
queda de 3% na
Bolsa de Valores, sexta-feira,
já embutiu o impacto negativo
da pesquisa Datafolha, publicada ontem, na qual o presidente,
pela primeira vez, está em situação
de empate técnico com Lula. Ainda assim, o golpe só deverá ser plenamente absorvido pela mercado
nesta segunda-feira.
No meio da tarde de sexta-feira,
já havia rumores no mercado sobre duas pesquisas em que o presidente ficaria em posição incômoda, uma delas a do Datafolha. Até
em Nova York, o diretor de um
banco europeu conhecia, sexta-feira à noite, o que eram, ainda,
boatos.
Quem soube, ajudou a derrubar
os preços das ações e a afetar o
preço dos títulos da dívida externa
brasileira, os "bradies". Uma boa
parte do mercado, contudo, especialmente no exterior, só vai reagir
nesta segunda-feira, o que pode
complicar, mais uma vez, a vida
dos ativos brasileiros.
A verdade é que o mercado financeiro subestimou, durante
muito tempo, o risco de volatilidade gerada por incertezas políticas
neste ano eleitoral.
Mesmo depois da crise de outubro e da forte reação do governo, a
variável política ficou, virtualmente, fora das projeções.
Em janeiro, o Instituto Fernand
Braudel promoveu uma discussão
sobre as perspectivas para este
ano. Estavam presentes mais de
dez economistas de alguns dos
maiores bancos nacionais e estrangeiros que operam no Brasil.
Os cenários variaram. Havia
maior e menor otimismo em relação ao crescimento, ao resultado
fiscal do pacote de outubro, à trajetória das taxas de juros, à duração e repercussão da crise asiática
e assim por diante.
Nenhum único economista,
contudo, mencionou sequer a
possibilidade de que a combinação entre aumento de desemprego
e retração na economia pudesse
afetar seriamente a posição do
presidente Fernando Henrique
Cardoso nas pesquisas eleitorais e
de que isso pudesse trazer volatilidade aos mercados.
O único ponto no qual havia
consenso era que a reeleição era
mais do que provável e que não
deveria haver surpresas no cenário
político.
O que isso quer dizer? Que o
mercado financeiro, em larguíssima medida, subestimava a possibilidade de reveses políticos. Como o mercado antecipa tudo o que
imagina que ocorrerá, de bom ou
de ruim, isso significa que a hipótese de complicar a reeleição não
estava embutida nos preços dos
ativos (ações, títulos da dívida
brasileira etc.).
Em boa medida, ainda não está.
Embora pareça óbvio que nenhum
presidente, em país nenhum do
mundo, consegue ganhar popularidade com aumento de desemprego e retração na economia, o
mercado não levou isso na devida
conta. Só nas últimas semanas,
com os primeiros recuos do presidente nas pesquisas e a crescente
tensão social, no Nordeste e nos
grandes centros, passou-se a considerar mais seriamente a variável
política.
Existem exceções. Um banco de
investimentos que administra alguns bilhões de dólares de investidores locais e externos teve uma
longa reunião na quinta-feira (antes dos boatos da pesquisa), para
discutir a conjuntura.
A questão política veio à mesa e,
a certa altura, um participante ousou pensar, em voz alta, o impensável: e se Fernando Henrique
Cardoso não chegar ao segundo
turno? Ninguém mandou interná-lo em nenhum hospício. Ao
contrário, discutiram-se vários cenários alternativos.
Que fique claro: qualquer cenário no qual a reeleição esteja ameaçada será visto com enorme desconfiança pelo mercado financeiro. As dúvidas sobre o futuro da
política cambial, que já existem,
seriam levadas ao extremo. As privatizações e até a administração da
dívida interna passariam a ser
questionadas.
É claro que a reeleição de Fernando Henrique continua sendo o
cenário mais provável e ainda
existe muito tempo para o governo se recuperar nas pesquisas.
Ainda assim, a pesquisa do Datafolha serve como um choque de
realismo para os que descartavam
qualquer turbulência no front político.
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