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DATAFOLHA
Mostrando cautela, petista diz que não vai repetir erro de 94 e que precisa ir atrás de mais 20% de votos
Lula afirma que não vai usar "salto alto"
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
XICO SÁ
da Reportagem Local
A súbita virada na sucessão
presidencial revelada ontem
pelo Datafolha
não provocou
euforia excessiva em seu beneficiário, o virtual candidato do PT
Luiz Inácio Lula da Silva.
"Nada de salto alto, já tive essa
experiência antes", brincou Lula
ontem. É uma alusão ao fato de
que seu partido vivera, em 1994,
um ambiente de "já ganhou", até
que o Plano Real mudou o cenário
e deu a vitória a Fernando Henrique Cardoso.
Lula diz que já vinha sentindo
nas ruas a virada, nos últimos 30
dias. "Era uma coisa lenta, mas
sólida", conta. Uma das razões: a
expressão "vagabundos" empregada pelo presidente para se referir a quem se aposenta com menos
de 50 anos.
O pré-candidato petista conta
que encontrou, na fila do banco,
dias atrás, um senhor que foi desabafar: "Trabalhei 34 anos, me
aposentei e não admito que me
chame de vagabundo quem não
trabalhou tanto como eu", reproduz Lula.
Ele responsabiliza a "infinita
prepotência" de FHC pela mudança dos ventos eleitorais captada
pelo Datafolha. Exemplo citado
por Lula: "Até hoje, o presidente
manda seu ministro do Trabalho
(Edward Amadeo) dizer que não
há um problema de desemprego".
Lula vê também no presidente
"total despreparo para tratar das
questões sociais". E cita exemplos
que são os mesmos que embasam
todas as análises sobre a queda na
popularidade de FHC: o incêndio
em Roraima e a seca no Nordeste.
"Ou ele não sabia do problema
ou deixou o barco correr por demasiado tempo", acusa. Mais:
"Ele prefere virar as costas para os
problemas sociais em vez de enfrentá-los. A única coisa em que
foi hábil foi em atender os interesses do sistema financeiro, com o
seu pacote de novembro".
É uma alusão à duplicação dos
juros, determinada pelo governo,
na esteira da crise asiática de outubro passado.
Investidores estrangeiros
Lula se reuniu ontem pela manhã, no diretório nacional do PT,
na região central de São Paulo,
com coordenadores da campanha
e intelectuais do partido.
O encontro serviu para discutir o
programa de governo que o petista apresentará em breve.
O virtual candidato mandou um
recado para o investidor estrangeiro: "Vai ter que investir no setor produtivo, nós vamos discutir
investimento estrangeiro para gerar emprego no Brasil".
Segundo Lula, não serão admitidos ganhos com especulação no
mercado do país sem que represente a geração de empregos.
O petista disse que não sabe medir se o crescimento nas pesquisas
da sua candidatura pode assustar
os investidores.
"O que não podemos mais é ver
o Bill Clinton todo dia, rindo, na
televisão, dizendo que a economia
dos EUA está crescendo 5% ao
ano, o PIB está crescendo e o desemprego lá é o menor dos últimos 30 anos", disse. "E nós aqui
chorando porque somos os responsáveis pelo desemprego nos
EUA."
Para Lula, não haverá "terrorismo" no mercado sobre uma eventual vitória do PT. "Até megaespeculadores alertam hoje em dia
para que os governos se vacinem
contra o sistema financeiro."
Segundo o virtual candidato, a
melhor forma de atrair investimentos é mostrar que o país apresenta um quadro de estabilidade
com crescimento permanente.
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