São Paulo, domingo, 31 de maio de 1998

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DATAFOLHA
Mostrando cautela, petista diz que não vai repetir erro de 94 e que precisa ir atrás de mais 20% de votos
Lula afirma que não vai usar "salto alto"

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

XICO SÁ
da Reportagem Local


A súbita virada na sucessão presidencial revelada ontem pelo Datafolha não provocou euforia excessiva em seu beneficiário, o virtual candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva.
"Nada de salto alto, já tive essa experiência antes", brincou Lula ontem. É uma alusão ao fato de que seu partido vivera, em 1994, um ambiente de "já ganhou", até que o Plano Real mudou o cenário e deu a vitória a Fernando Henrique Cardoso.
Lula diz que já vinha sentindo nas ruas a virada, nos últimos 30 dias. "Era uma coisa lenta, mas sólida", conta. Uma das razões: a expressão "vagabundos" empregada pelo presidente para se referir a quem se aposenta com menos de 50 anos.
O pré-candidato petista conta que encontrou, na fila do banco, dias atrás, um senhor que foi desabafar: "Trabalhei 34 anos, me aposentei e não admito que me chame de vagabundo quem não trabalhou tanto como eu", reproduz Lula.
Ele responsabiliza a "infinita prepotência" de FHC pela mudança dos ventos eleitorais captada pelo Datafolha. Exemplo citado por Lula: "Até hoje, o presidente manda seu ministro do Trabalho (Edward Amadeo) dizer que não há um problema de desemprego".
Lula vê também no presidente "total despreparo para tratar das questões sociais". E cita exemplos que são os mesmos que embasam todas as análises sobre a queda na popularidade de FHC: o incêndio em Roraima e a seca no Nordeste.
"Ou ele não sabia do problema ou deixou o barco correr por demasiado tempo", acusa. Mais: "Ele prefere virar as costas para os problemas sociais em vez de enfrentá-los. A única coisa em que foi hábil foi em atender os interesses do sistema financeiro, com o seu pacote de novembro".
É uma alusão à duplicação dos juros, determinada pelo governo, na esteira da crise asiática de outubro passado.

Investidores estrangeiros
Lula se reuniu ontem pela manhã, no diretório nacional do PT, na região central de São Paulo, com coordenadores da campanha e intelectuais do partido.
O encontro serviu para discutir o programa de governo que o petista apresentará em breve.
O virtual candidato mandou um recado para o investidor estrangeiro: "Vai ter que investir no setor produtivo, nós vamos discutir investimento estrangeiro para gerar emprego no Brasil".
Segundo Lula, não serão admitidos ganhos com especulação no mercado do país sem que represente a geração de empregos.
O petista disse que não sabe medir se o crescimento nas pesquisas da sua candidatura pode assustar os investidores.
"O que não podemos mais é ver o Bill Clinton todo dia, rindo, na televisão, dizendo que a economia dos EUA está crescendo 5% ao ano, o PIB está crescendo e o desemprego lá é o menor dos últimos 30 anos", disse. "E nós aqui chorando porque somos os responsáveis pelo desemprego nos EUA."
Para Lula, não haverá "terrorismo" no mercado sobre uma eventual vitória do PT. "Até megaespeculadores alertam hoje em dia para que os governos se vacinem contra o sistema financeiro."
Segundo o virtual candidato, a melhor forma de atrair investimentos é mostrar que o país apresenta um quadro de estabilidade com crescimento permanente.



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