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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Magistrados e promotores recuam mesmo sem garantias de que Planalto aceita elevar subteto nos Estados

Juízes desistem de greve contra reforma

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionados pelos presidentes dos tribunais superiores, contrários à greve, e diante da iminência de fracasso, os juízes estaduais e trabalhistas e os membros do Ministério Público desistiram, ontem, da paralisação que iriam realizar de 5 a 12 de agosto contra a reforma da Previdência.
Eles voltaram atrás sem uma garantia do governo de que aceitará elevar o subteto salarial nos Estados, mas receberam a sinalização de que, nos bastidores, já está acertado com os principais partidos no Congresso que o subteto será elevado mesmo com a posição contrária do governo.
Pela proposta do governo, os salários da Justiça estadual ficariam limitados a 75% da remuneração dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). O Judiciário defende que esse subteto seja de 90,25%. O acordo entre os juízes e a base aliada atenderia a essa reivindicação do Judiciário.
Pesou no recuo um apelo incisivo feito ontem pelo presidente do STF, ministro Maurício Corrêa, que previu o fechamento dos canais de negociação política caso houvesse a greve e assumiu o compromisso de manter as conversas com líderes dos partidos para mudar a emenda constitucional dessa reforma.
Ontem, o presidente do STF se reuniu com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e líderes da base aliada para fechar um acordo pela elevação do subteto. Segundo a Folha apurou, na reunião, Corrêa foi informado de que o pedido do Judiciário seria atendido pelo Congresso.
Corrêa recebeu cerca de 50 magistrados e promotores de Justiça em seu gabinete. O juiz de direito de Goiás Eduardo Walmory Sanches disse que o ministro "implorou" pelo recuo, o que teria sido determinante para que algumas associações desistissem da greve.
O ministro disse, por meio de sua assessoria, que ficou satisfeito com a decisão e que tem certeza de que o resultado da votação na Câmara será positivo para o Judiciário. Para ele, os deputados não se sentirão mais pressionados.
O Conselho Geral de Representantes da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) aprovou ontem à tarde a desistência da greve. Houve apenas um voto contrário, do presidente da ACM (Associação Cearense de Magistrados), Michel Pinheiro, que quer que o governo estenda aos futuros magistrados as garantias de aposentadoria integral e a paridade de reajuste entre ativos e inativos previstas para os atuais.
Pesou também na decisão a avaliação de que o movimento pela preservação de direitos ameaçados pela reforma os coloca contra a opinião pública. "Temos perfeita consciência da gravidade desse movimento, que agora suspendemos. Estávamos sendo levados a um movimento que não queríamos", disse o presidente da AMB, Claudio Baldino Maciel.
A Conamp (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público) reuniu ontem à tarde, em Brasília, 26 entidades de classe de promotores de Justiça, procuradores do trabalho e militares e também recuou. A greve dos juízes havia sido aprovada no último dia 21. Inicialmente, duraria oito dias, mas uma nova reunião no dia 13 decidiria sobre o seu prosseguimento ou não. A Conamp havia decidido paralisar no dia 22.
Os presidentes interinos do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do TST (Tribunal Superior do Trabalho) elogiaram a decisão. "Foi uma demonstração de equilíbrio, sabedoria e espírito público", disse Edson Vidigal, do STJ.
"Prevaleceu o bom senso", afirmou Vantuil Abdala, do TST.


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