São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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Ex-estatal argentina teve quadro cortado

AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires

As empresas que compraram a Entel (antiga estatal de telecomunicações da Argentina), incluindo a Telefónica de España, reduziram pela metade o número de funcionários de 1990 (ano da privatização) até agora.
Com a venda, a Entel foi dividida em duas partes. O consórcio liderado pela Telefónica da España comprou uma metade. A outra fatia ficou com a France Telecom e a italiana Stet.
Quando privatizada, a Entel tinha cerca de 40 mil funcionários. Por intermédio de programa de demissões voluntárias, ainda em vigor, as empresas compradoras reduziram até agora o número de empregados para cerca de 21 mil.

Motivos
Segundo as assessorias de imprensa dos consórcios privados, o enxugamento visou dar mais eficiência ao negócio. Foram desligados empregados que não tinham treinamento para trabalhar com as novas tecnologias do mercado.
O programa de demissões voluntárias, que pagou até 50% a mais do que os trabalhadores tinham direito por lei, é criticado pelo sindicato do setor.
"Houve pressão psicológica. Ou os funcionários deixavam o trabalho voluntariamente, ou seriam demitidos mais tarde. Esse era o discurso das empresas", afirmou Osvaldo Iadarola, dirigente em Buenos Aires da Foetra (sigla em espanhol para a federação dos trabalhadores em telecomunicações).
Segundo ele, boa parte dos funcionários que aderiram ao programa de demissões voluntárias estão hoje subempregados ou foram terceirizados pelas próprios consórcios privados.
"Com o desemprego que temos na Argentina (13,2%), é quase impossível um trabalhador de 30 ou 40 anos conseguir um emprego normal", disse Iadarola.
Ele afirmou que o sindicato registrou casos de suicídio e infartos entre ex-funcionários da empresa de telefonia argentina.
De acordo com a assessoria de imprensa da Telefónica de España, o programa de demissão voluntária foi fechado na época com o sindicato do setor, e o mercado de telecomunicações cresceu na Argentina depois da privatização, já que atraiu investimentos de outras empresas.
Os consórcios trouxeram técnicos dos países de origem para exercer funções administrativas na Argentina. Mas esse fato, segundo as empresas, não prejudicou os profissionais argentinos.
"Os funcionários estrangeiros também tiraram nosso lugar, mas isso não foi tão determinante como o programa de demissões", disse Iadarola.



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