São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005
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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO LONDRINA Soraya Garcia diz à PF que ex-ministro levou R$ 300 mil em espécie para Londrina Ex-assessora do PT acusa Dirceu de "operar" caixa 2
JOSÉ MASCHIO DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA Ex-assessora financeira da campanha para a reeleição do petista Nedson Micheleti à Prefeitura de Londrina (PR), no ano passado, a secretária Soraya Garcia, 32, disse que o então ministro da Casa Civil José Dirceu levou R$ 300 mil em espécie ao comitê da campanha petista em setembro de 2004. Ela afirmou que a informação lhe foi passada pelo coordenador da campanha de Micheleti, Augusto Dias Júnior, com quem disse que "queria uma acareação". A Polícia Federal abriu inquérito para investigar um suposto caixa dois do PT em Londrina após Soraya Garcia procurar a Promotoria Eleitoral dizendo ter havido sonegação de R$ 6,5 milhões nos gastos apresentados pelo comitê financeiro à Justiça Eleitoral. Em entrevista ontem à Folha, Soraya Garcia também envolveu no suposto esquema o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) e assessores palacianos. Ela disse que a SMPB -empresa da qual o publicitário Marcos Valério Souza era sócio- contribuiu no segundo turno das eleições municipais de Londrina com a locação de cinco veículos. Segundo Soraya Garcia, a empresa Visatec, que é de um irmão do deputado federal José Janene (PP) e tem contratos com o município, alugou veículos para o prefeito Nedson Micheleti e uma BMW blindada para o então ministro José Dirceu, em sua visita à cidade, em 18 de setembro de 2004. O chefe-de-gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e sua irmã, Márcia Lopes, secretária executiva do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, também foram apontados pela secretária como participantes do suposto esquema de caixa dois. "Eu ouvi o Jacks Dias [presidente do PT de Londrina] e o Augusto Dias Júnior [coordenador da campanha de Micheleti] comentando que eles ajudavam a resolver problemas de falta de dinheiro", disse. ![]() JOSÉ DIRCEU -"O então ministro José Dirceu veio a Londrina em 18 de setembro do ano passado. Era um sábado e durante a semana todo mundo no comitê financeiro reclamava de dificuldades para pagar contas de campanha. Na segunda-feira [20 de setembro] o comitê tinha R$ 300 mil em caixa. Todo esse dinheiro era em notas de R$ 100 e com lacre do Banco do Brasil. O Dirceu veio em um jatinho particular, chegou às 15h30 e foi embora antes das 17h. O Augusto Júnior disse que o Dirceu tinha trazido o dinheiro. Eu queria uma acareação com o Augusto Júnior para ver se ele tinha coragem de desmentir isso. Fui eu quem acertei os preparativos para a recepção do José Dirceu. Em uma das visitas do Dirceu, ele ainda usou uma BMW blindada, que foi paga pela empreiteira dos Janene, a Visatec." PAULO BERNARDO -"Na semana
que antecedeu ao segundo turno
das eleições em Londrina, houve
uma reunião. O assunto era a contratação de cabos eleitorais. O
Jacks Aparecido Dias disse que tinha reunido 2.000 pessoas que seriam contratadas por R$ 100 ao
dia. O André Vargas [deputado
estadual e presidente do PT do
Paraná] perguntou então ao Paulo Bernardo [na época deputado
federal] se o número de cabos
eleitorais estava bom e se havia
como pagá-los. O Bernardo falou
que estava bom e que existia "lastro" para isso. "Lastro" era dinheiro. Além dos três, estavam na reunião o Augusto Júnior, coordenador da campanha, e os candidatos
a vereador Gláudio Renato Lima
[eleito] e Eloir Valença [não eleito]. Eu assisti à reunião, estava separando dinheiro para pagar despesas da campanha." GILBERTO CARVALHO -"Eu nunca
vi o Gilberto Carvalho trazer dinheiro pessoalmente a Londrina.
Mas todas as vezes que existiam
dificuldades de caixa, o Augusto
Júnior e o Jacks falavam que era
preciso ligar para ele, que ele resolveria. E o dinheiro surgia." MÁRCIA LOPES -"Tinha também
a Márcia Lopes, que era acionada
para despesas em eventos. O Jacks
e o Augusto me avisavam que
eventos no Buffet Carvalho [da família Carvalho] era problema da
Márcia Lopes, que não era preciso
preparar dinheiro para as despesas. Aconteceram vários eventos
desse gênero." LOCAÇÃO DE VEÍCULOS -"Durante a campanha, foram locados
mais de 40 veículos, e a maioria
absoluta foi dentro do esquema
de caixa dois. A Polícia Federal,
por indicação minha, tem cópias
desses contratos com as locadoras. A SMPB, por exemplo, pagou
cinco veículos para a Avis Rent a
Car, através de uma agência de
viagens de São Paulo. A Avis entregou cópias desses contratos à
Polícia Federal. A PF tem também
cópias de aluguéis de carros que
foram pagos pela Visatec. Um
Gol, por exemplo, ficou de abril a
setembro com o Nedson Micheleti. Quem pagou por fora foi a Visatec e no contrato, da empresa
Localiza, aparece que o responsável pela requerimento foi o Jacks
Dias, mas o condutor era o Micheleti. Estranhamente, esses
contratos de locação estão há um
mês na Polícia Federal e nada ainda foi investigado." |
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