São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CHOQUE DE VERSÕES

Dirigente da empresa contraria versão de Valério de que pagamentos só teriam sido feitos a partir de empréstimos em fevereiro de 2003

Guaranhuns diz ter atuado para PL já em 2002

RANIER BRAGON
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento de mais de cinco horas à CPI do Mensalão, o operador de mercado José Carlos Batista, proprietário da Guaranhuns, afirmou ter sido contratado por Marcos Valério de Souza em novembro de 2002 para intermediar o envio de recursos à coligação PT-PL, que sustentou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente.
Reconhecendo também ter movimentado R$ 9 milhões em 2002 em outro esquema de financiamento de partidos, Batista afirmou ter começado no final daquele ano a entrega de dinheiro ao PL, valor que chegaria a R$ 4,5 milhões no final de 2003.
A informação contradiz a versão de Marcos Valério, o suposto "operador" do "mensalão", que sustenta ter repassado recursos ao PT e a partidos aliados somente em 2003, após empréstimos feitos nos bancos Rural e BMG.
O primeiro dos seis empréstimos contraídos pelas agências de Marcos Valério com os dois bancos ocorreu em 25 de fevereiro de 2003, ou seja, quase quatro meses após a assinatura do contrato com a Guaranhuns, feito em novembro. Por meio da empresa, Valério afirma ter repassado R$ 6,5 milhões ao PL.
Batista disse ainda haver "movimentação na pessoa física" em relação às operações com Valério.
"No ano de 2002, para colaborar com a campanha do PT e sua coligação com o PL, operei, conforme a lei, no mercado financeiro, na Bônus-Banval", disse, em referência à corretora de seguros também envolvida em suspeitas de participação no escândalo do "mensalão". Ele afirmou ainda: "A partir desse ano [2002], quase toda a semana eu levava em espécie dinheiro para os representantes da coligação com o PL".
Questionado pelo deputado Moroni Torgan (PFL-CE), chegou a admitir que a Guaranhuns e a Bônus-Banval foram criadas unicamente para atuar no financiamento de partidos, mas depois voltou atrás dizendo que essa afirmação poderia complicá-lo.
Quase no final do depoimento, confirmou a movimentação de R$ 9 milhões entre fevereiro e novembro de 2002 em uma conta conjunta com a mulher, no Bradesco. Disse que o dinheiro era para partidos, mas se recusou a dizer quais, dizendo que nesse caso não atuou para Valério.
O dono da Guaranhuns -chamado de "laranja" pelos parlamentares em várias oportunidades- disse ainda acreditar que o dinheiro que movimentava era "totalmente lícito" e que jamais teve "a intenção de operar dinheiro sujo". "Se algum erro cometi foi o de acreditar na hipnose coletiva que colocava o PT como partido da honestidade, da ética e da transparência."
Ele afirmou ainda temer ser assassinado. "Sinto-me um réu político por ter sido usado pelo PT em coligação com o PL, motivo pelo qual estou com medo de acabar num cárcere infecto em regime de solitária, ou pior, acabar como o querido prefeito Celso Daniel, torturado cruelmente e em seguida assassinado."


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