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MÍNIMO
"O governo é contra a cobrança do Imposto de Renda", diz Paulo Kliass, secretário de Previdência Complementar
Imposto sobre fundos de pensão racha o governo
FELIPE PATURY
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta de cobrar Imposto
de Renda dos fundos de pensão
para custear o aumento do salário
mínimo até R$ 180 colocou os ministérios da Fazenda e da Previdência em campos opostos.
Ontem, o secretário de Previdência Complementar, Paulo
Kliass, se insurgiu contra a idéia,
defendida pelo secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, e
pelo líder do governo no Senado,
José Roberto Arruda (DF).
"O governo é contra a cobrança
do Imposto de Renda. O secretário da Receita está na ótica de
quem quer arrecadar mais", disse
Kliass, expondo, pela primeira
vez, a divergência no governo.
A Folha apurou que a proposta
surpreendeu integrantes da equipe econômica que negociavam
uma saída com os fundos de pensão. Hoje, quase todas as fundações usam liminares judiciais para não pagar nenhum imposto.
Além disso, movem ação no Supremo Tribunal Federal para se
tornarem imunes a impostos. O
julgamento está empatado e suspenso por um pedido de vistas.
Enquanto isso, os fundos depositam os tributos em juízo. Hoje,
há R$ 9 bilhões nessa situação. Se
os fundos ganharem, ficam com
tudo. Se perderem, podem ter recolher mais R$ 2 bilhões anuais,
metade do necessário para o aumento do mínimo sem colocar as
contas públicas no vermelho.
O governo vinha negociando
com os fundos a retirada das
ações. A idéia era ceder a isenção
do Imposto de Renda e obrigar o
pagamento dos outros impostos.
As declarações de Maciel e Arruda suspenderam as negociações.
Grupo de privilegiados
Na última semana, Everardo
Maciel foi enfático ao defender a
cobrança imediata de impostos
sobre os fundos de pensão, especialmente do Imposto de Renda.
"É um grupo de privilegiados
(fundos de pensão)", afirmou o
secretário, por meio de sua assessoria de imprensa. Para ele, a
imunidade fiscal dos fundos "é
uma coisa lamentável" e os argumentos são de quem defende essa
situação são "falaciosos".
Maciel estaria disposto a debater "com qualquer um e onde quiserem" para mostrar que a imunidade é um "absurdo, um exemplo
típico que mostra como o Brasil é
injusto do ponto de vista fiscal".
O secretário da Receita afirmou
que a imunidade dos fundos "não
é nem elisão fiscal, é evasão fiscal". A diferença entre as duas é
que, na primeira, não se paga impostos usando as brechas da lei.
Na segunda, há crime.
A idéia foi defendida por Maciel
na Comissão Mista de Orçamento
há duas semanas e rapidamente
encontrou eco em José Roberto
Arruda. "É uma questão de princípio", corrobora o senador.
"Os fundos são milionários que
estão isentos até do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). A
proposta é que eles passem a pagar pelos seus lucros em aplicações financeiras", afirma o líder
do governo no Senado.
Desde então, a proposta ganhou
apoio de importantes líderes do
Congresso, entre eles presidente
do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), interessado em
garantir o mínimo de R$ 180, o
equivalente a US$ 100.
Distorção na previdência
Segundo Paulo Kliass, impor o
pagamento do Imposto de Renda
aos fundos contém uma distorção
importante. A Instrução Normativa 123/99, editada pela própria
Receita Federal, já impõe o pagamento do tributo.
Ele explica que o artigo 32 da
medida isenta de Imposto de
Renda instituições financeiras, seguradoras e até os fundos de previdência aberta, aqueles montados pelos bancos para concorrer
com os fundos de pensão. Só deixa de fora os fundos fechados.
Esse mecanismo pode distorcer
o sistema de previdência complementar, porque impele o cidadão
para os fundos dos bancos e não
aqueles montados por suas empresas, em geral mais baratos.
Kliass acredita que cobrar Imposto de Renda sobre os lucros financeiros caracteriza bitributação, porque haveria taxação na
acumulação do recurso e no recebimento da aposentadoria.
Para Kliass, outro problema é a
confusão sobre o patrimônio milionário dos fundos de R$ 141 bilhões. O dinheiro não é das fundações, mas de seus contribuintes.
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