São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2000

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RUMO A 2002
Líderes afirmam que preferem aliança, mas já cogitam uma pequena coalizão e mandam recado às legendas de oposição, afirmando ter "força política" para sair isoladamente
PT já fala em disputar sozinho sucessão

SÍLVIA CORRÊA
FÁBIO ZANINI


DA REPORTAGEM LOCAL

Embalado pela inegável vitória nas eleições municipais, o PT já admite que pode se lançar sozinho à disputa presidencial.
Cautelosos, os líderes petistas afirmam que não é isso o que o partido quer, mas lançam abertamente essa possibilidade, cogitando também o cenário com uma "coalizão que não é ampla".
"O PT prefere fazer alianças, construir uma coalizão, mas precisamos deixar claro que temos força política para disputar sozinhos em 2002", disse ontem o deputado federal José Dirceu, presidente nacional da legenda, em uma entrevista convocada pelo partido para avaliar seu desempenho nas eleições municipais.
Para Dirceu, "as eleições municipais mostram que o eleitorado tendo para o centro-esquerda", o que credencia o PT.
"Nós vamos construir uma candidatura e apresentá-la para todos os partidos de oposição. Mas vocês sabem que o Itamar (Franco) diz que é candidato. O Ciro (Gomes) diz que é candidato. O (Miguel) Arraes e o (Leonel) Brizola estão se movimentando publicamente para apoiar o Itamar. Nós também estamos nos preparando para disputar a eleição com um candidato nosso e com uma coalizão que não é ampla", continuou Dirceu, afirmando que o PT pode apoiar o candidato de uma frente, mas não de um partido.
O PT é considerado até pelos adversários como o grande vitorioso das eleições municipais. Venceu em 13 das 16 cidades em que disputou o segundo turno e governará 17 dos 62 principais municípios do país (leia à pág. 2).
Para Luiz Inácio Lula da Silva, a "vitória sobre os coronéis foi saborosa". "É delicioso saber que eles gastaram tanto dinheiro para perder por tão pouco", afirmou.
É a Lula que os líderes petistas dedicam o êxito da legenda, definindo-o como o "primeiro militante da campanha". Mas todos fazem mistério sobre o nome que lançarão para 2002, o que deve ser definido só em março de 2001.
"Eu já disse e repito que o Lula é quem tem mais apoio popular. Mas depende do quadro eleitoral. Temos outras lideranças. (Eduardo) Suplicy, (José) Genoino, (Aloizio) Mercadante, (Cristovam) Buarque, Olívio Dutra", disse Dirceu, descartando Tarso Genro e Marta Suplicy, "que têm compromissos até 2004".
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), e lideranças nacionais do PSB divulgaram nota ontem afirmando que pretendem "construir" um projeto político comum que inclui "o lançamento de candidatura à Presidência da República".
Lula, por sua vez, diz que vai se submeter ao partido, "que não tem cacique, mas índios". "Se eu dissesse que queria disputar dentro do PT, seria uma coisa muito natural, porque eu fui candidato quando o PT era muito menor", afirmou. "Mas o PT não nasceu para que o Lula fosse candidato a vida inteira. Terminei as eleições de 98 dizendo que, se dependesse da minha vontade, eu não gostaria de ser candidato. Mas não sou um político avulso, sou partidário. Se nos momentos difíceis eu fui candidato, no momento bom, também poderia ser. Mas não é isso que me move", continuou.
Os petistas procuraram ontem federalizar o resultado das eleições municipais, afirmando que elas mostram uma rejeição à política do presidente FHC.
"O PT não é um partido de oposição? Não foi caracterizado claramente pelos adversários? Dizer que a eleição municipal não expressa uma reprovação ao governo é desconsiderar o que aconteceu. Não há dúvida de que houve um voto contra o governo FHC, contra a insensibilidade que preside o país", disse José Dirceu.
No balanço e nas previsões de futuro, o PT minimizou a influência nacional do ex-ministro Ciro Gomes (PPS) e rebateu as críticas que ele fez à legenda, afirmando que o PT não tem programa.
"É mais retórica do que realidade o que o Ciro diz. Não é o programa que ele gostaria, isso sim. Ele deveria fazer uma crítica política ao programa do PT", disparou o presidente petista.
"Eu tenho dito que é importante inclusive conversarmos com o PPS. Mas me preocupo quando vocês falam: "Vocês vão conversar com o Ciro?". Menos com o Ciro e mais com o PPS. Nós somos um partido e queremos conversar com o partido. Não é de pessoa para pessoa", continuou Lula.


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