|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERFIL
Luís Favre orientou petista em debates e entrevistas, mas se recusa a dizer suas funções
Ex-trotskista foi principal assessor do PT
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
O estrangeiro que se transformou na sombra política da prefeita eleita de São Paulo, Marta
Suplicy (PT), na reta final do segundo turno, o argentino radicado na França Luís Favre, começou a influenciar a campanha
meses antes.
Por intermédio de telefonemas
e e-mails, Favre ""ajudou a campanha com formulações e
idéias", de acordo com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP),
marido de Marta.
As propostas do argentino, um
ex-militante trotskista que se
transformou em simpatizante
da social-democracia na década
de 80, não eram enviadas apenas
à candidata, mas a outros integrantes da cúpula petista.
A partir de certo momento,
conforme Suplicy, a prefeita eleita ""achou que Favre seria bem-vindo para a fase final".
Foi o próprio Favre quem tomou a iniciativa de ""contribuir"
para a campanha. Passou a enviar de Paris ""informes e análises" sobre a eleição.
Aproximou-se mais de Marta
na França este ano, quando a irmã da petista, Tetê Vasconcellos, foi hospitalizada, submetida
a uma cirurgia e morreu.
O futuro de Favre ainda está
indefinido. Se Marta o mantiver
como auxiliar próximo, na prefeitura, ele ficará no Brasil.
Caso contrário, voltará para a
França nesta semana, como planeja, de acordo com o que teria
dito ao deputado federal e prefeito eleito de Ribeirão Preto,
Antonio Palocci.
O coordenador-geral da campanha, Rui Falcão, foi lacônico
ao falar sobre a presença do
franco-argentino. Afirmou que
o comando do marketing foi do
publicitário Augusto Fonseca.
Sobre Luís Favre, disse: ""Eu não
tenho nenhuma declaração a fazer a esse respeito".
Um dirigente petista ironizou
o que chamou de ""desenvoltura" do assessor na campanha.
Na semana que antecedeu o segundo turno, Marta disse à Folha que Favre ""morou muitos
anos no Brasil e é um amigo do
PT". Procurado, ele se recusou a
dar entrevista. Disse que só estava no carro da candidata por ser
""amigo do motorista".
Não respondeu a recados deixados na produtora onde foram
gravados os programas para o
horário eleitoral gratuito.
A influência de Favre na campanha, não fosse por suas orientações ostensivas à candidata em
programas de TV e rádio, talvez
não fosse notada.
A sua trajetória política também ajuda a explicar por que seu
papel não foi coadjuvante. Até
1987, Favre foi um dos principais
dirigentes mundiais de uma facção da 4ª Internacional, organização revolucionária com ramificações em cerca de 50 países.
Favre era ligado ao segmento
da 4ª Internacional que animou
no Brasil, nos anos 70, o grupo
estudantil de extrema esquerda
Liberdade e Luta, mais conhecido como Libelu. No PT, o agrupamento, de influência irrisória,
denomina-se O Trabalho.
Favre esteve em dezenas de
países orientando seus partidários. Já morava em Paris. Suas
vindas ao Brasil e a diversos países sul-americanos eram frequentes. Tratava-se de um militante de bastidor.
Favre era, então, um adepto
das idéias do revolucionário russo León Trotsky (1879-1940), o
fundador, em 1938, da 4ª Internacional. Em 1987, abandonou o
trotskismo, aproximou-se do
Partido Socialista Francês e conseguiu dissolver metade da corrente O Trabalho no PT, mais
precisamente na tendência moderada Articulação, a mesma de
Lula e José Dirceu.
Antonio Pallocci disse que conhece Favre há 20 anos. ""Integrávamos a corrente O Trabalho, da 4ª Internacional." De
acordo com Palocci, Luís Favre é
um profissional de comunicação
na França. ""Ele me disse que vai
embora nesta semana."
A trajetória de Palocci é semelhante à de Favre: trocou a plataforma revolucionária por um setor menos radical do PT.
Nos últimos dias da campanha, tornou-se ainda mais evidente a condição de Favre como
sombra política, o principal assessor de Marta. Numa entrevista ao programa ""Opinião Brasil", da TV Cultura, posicionou-se em frente à petista mostrando
com sinais as respostas que ela
deveria dar. Ao ver que aparecia
no vídeo, mudou de lugar, mas
não conseguiu se esconder. Esteve presente ao menos em dois
debates de TV.
(MÁRIO MAGALHÃES e SÍLVIA CORRÊA)
Texto Anterior: Câmara: PSDB será oposição ao governo de Marta Próximo Texto: São Paulo: Maluf quer escrever a história do Estado Índice
|