São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2000

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PERFIL
Luís Favre orientou petista em debates e entrevistas, mas se recusa a dizer suas funções
Ex-trotskista foi principal assessor do PT

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

O estrangeiro que se transformou na sombra política da prefeita eleita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), na reta final do segundo turno, o argentino radicado na França Luís Favre, começou a influenciar a campanha meses antes.
Por intermédio de telefonemas e e-mails, Favre ""ajudou a campanha com formulações e idéias", de acordo com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), marido de Marta.
As propostas do argentino, um ex-militante trotskista que se transformou em simpatizante da social-democracia na década de 80, não eram enviadas apenas à candidata, mas a outros integrantes da cúpula petista.
A partir de certo momento, conforme Suplicy, a prefeita eleita ""achou que Favre seria bem-vindo para a fase final".
Foi o próprio Favre quem tomou a iniciativa de ""contribuir" para a campanha. Passou a enviar de Paris ""informes e análises" sobre a eleição.
Aproximou-se mais de Marta na França este ano, quando a irmã da petista, Tetê Vasconcellos, foi hospitalizada, submetida a uma cirurgia e morreu.
O futuro de Favre ainda está indefinido. Se Marta o mantiver como auxiliar próximo, na prefeitura, ele ficará no Brasil.
Caso contrário, voltará para a França nesta semana, como planeja, de acordo com o que teria dito ao deputado federal e prefeito eleito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci.
O coordenador-geral da campanha, Rui Falcão, foi lacônico ao falar sobre a presença do franco-argentino. Afirmou que o comando do marketing foi do publicitário Augusto Fonseca. Sobre Luís Favre, disse: ""Eu não tenho nenhuma declaração a fazer a esse respeito".
Um dirigente petista ironizou o que chamou de ""desenvoltura" do assessor na campanha. Na semana que antecedeu o segundo turno, Marta disse à Folha que Favre ""morou muitos anos no Brasil e é um amigo do PT". Procurado, ele se recusou a dar entrevista. Disse que só estava no carro da candidata por ser ""amigo do motorista".
Não respondeu a recados deixados na produtora onde foram gravados os programas para o horário eleitoral gratuito.
A influência de Favre na campanha, não fosse por suas orientações ostensivas à candidata em programas de TV e rádio, talvez não fosse notada.
A sua trajetória política também ajuda a explicar por que seu papel não foi coadjuvante. Até 1987, Favre foi um dos principais dirigentes mundiais de uma facção da 4ª Internacional, organização revolucionária com ramificações em cerca de 50 países.
Favre era ligado ao segmento da 4ª Internacional que animou no Brasil, nos anos 70, o grupo estudantil de extrema esquerda Liberdade e Luta, mais conhecido como Libelu. No PT, o agrupamento, de influência irrisória, denomina-se O Trabalho.
Favre esteve em dezenas de países orientando seus partidários. Já morava em Paris. Suas vindas ao Brasil e a diversos países sul-americanos eram frequentes. Tratava-se de um militante de bastidor.
Favre era, então, um adepto das idéias do revolucionário russo León Trotsky (1879-1940), o fundador, em 1938, da 4ª Internacional. Em 1987, abandonou o trotskismo, aproximou-se do Partido Socialista Francês e conseguiu dissolver metade da corrente O Trabalho no PT, mais precisamente na tendência moderada Articulação, a mesma de Lula e José Dirceu.
Antonio Pallocci disse que conhece Favre há 20 anos. ""Integrávamos a corrente O Trabalho, da 4ª Internacional." De acordo com Palocci, Luís Favre é um profissional de comunicação na França. ""Ele me disse que vai embora nesta semana."
A trajetória de Palocci é semelhante à de Favre: trocou a plataforma revolucionária por um setor menos radical do PT.
Nos últimos dias da campanha, tornou-se ainda mais evidente a condição de Favre como sombra política, o principal assessor de Marta. Numa entrevista ao programa ""Opinião Brasil", da TV Cultura, posicionou-se em frente à petista mostrando com sinais as respostas que ela deveria dar. Ao ver que aparecia no vídeo, mudou de lugar, mas não conseguiu se esconder. Esteve presente ao menos em dois debates de TV.
(MÁRIO MAGALHÃES e SÍLVIA CORRÊA)



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