Campinas, Segunda-feira, 08 de Janeiro de 2001

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Homicídios em Campinas crescem 154% em dez anos

FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

O número de homicídios registrados em Campinas cresceu 154,7% em dez anos, segundo balanço divulgado na semana passada pela Polícia Civil.
A polícia fechou o relatório de crimes ocorridos no ano passado, que registra a ocorrência de 517 assassinatos no município, contra 203 em 1990.
A média mensal de assassinatos ocorridos em 1990 foi de 16,9.
No ano passado, essa média chegou a 43 casos por mês.
Em 1999, o número de crimes registrados na cidade foi de 498, o que significa um índice 3,67% menor que o verificado em 2000.
O mês mais violento do ano de 2000 foi março, quando foram registrados pela polícia 50 casos de homicídios.
O mês de menor incidência de crimes foi dezembro, com 26 assassinatos.
Na última década, o crescimento populacional de Campinas foi de 13,8%. Nesse período, o número de moradores da cidade passou de 847,5 mil, em 1990, para 967 mil, em 2000, segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Proporcionalmente ao número de habitantes, a média de assassinatos, em 2000, foi de 53 casos para cada grupo de 100 mil moradores do município, número considerado alarmante pelas autoridades policiais.
O delegado Osvaldo Diez Júnior, da Delegacia de Homicídios de Campinas, atribuiu o elevado crescimento da violência ao aumento desproporcional da população de baixa renda na cidade nos últimos dez anos.
"O problema da violência é algo muito complexo, vinculado diretamente a questões sociais. É algo que não depende apenas da ação da polícia", afirmou.
Atualmente, são 156,648 mil pessoas morando em condições subumanas na cidade, segundo dados levantados pela prefeitura no ano passado.
Além destes problemas de natureza social, o delegado do setor de homicídios afirmou que o assassinato acaba sendo um crime de difícil prevenção por parte da polícia. "Nunca se sabe onde um homicídio vai acontecer", disse.
O coordenador de pesquisas de segurança pública do Instituto Fernand Braudel, de São Paulo, coronel José Vicente da Silva Filho, discorda de Diez Junior.
Segundo ele, o policiamento nas grandes cidades só tem efeito se for realizado de forma preventiva.
"Se fosse reforçado o policiamento nos locais onde ocorre um grande índice de homicídios, esse tipo de crime certamente começaria a ser coibido, por ser atacado na sua raiz", afirmou o pesquisador.
Silva Filho também responsabilizou a polícia por parte da culpa no aumento dos casos de homicídio na cidade.
Para o especialista, o aumento da criminalidade em cidades como Campinas decorre da falta de ação organizada da corporação policial local.

Lei do silêncio
Se o aumento da violência é visto com preocupação pelas autoridades, para a população da cidade, principalmente na periferia, ela já faz parte do cotidiano.
Segundo o segurança Flávio Lima, 28, morador do bairro São José, a região onde ele vive é dominada pela "lei do silêncio". "Estamos acostumados com a ocorrência de duas a três mortes no bairro por semana. Mas a maioria tem medo de denunciar", disse.
Para atacar o problema da violência, que aumenta a cada ano em Campinas, o prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho (PT), afirmou que irá centralizar em seu gabinete o comando da segurança.
Na primeira semana de governo, Toninho assumiu a chefia da Guarda Municipal da cidade e não nomeou nenhum secretário para a pasta.
Ele afirmou que estará convocando o conselho de segurança da cidade para escolher o melhor nome para assumir a secretaria. Cinco pessoas estariam sendo sondadas para o cargo.
O secretário da Segurança de Campinas deverá ser anunciado pelo prefeito ainda esta semana.


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