Campinas, Sábado, 14 de Julho de 2001

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CAMPINAS, 227 ANOS
Barreto Leme se recusou a fundar cidade à beira da estrada e levou povoado para onde hoje é o centro
Pouso de bandeirante é origem da cidade

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Campinas já existia quando foi fundada oficialmente. O lugar, que fazia parte da estratégia de defesa da Coroa portuguesa, era, no fim do século 18, um pouso no meio do caminho entre dois locais em estágio avançado de ocupação -Jundiaí e Mogi Mirim.
O pouso de bandeirantes era um entreposto. A localidade era povoada porque os bandeirantes tinham uma jornada de marcha ritmada para conseguir caminhar entre São Paulo e o final do percurso -a região de Goiás.
O percurso definido pelos bandeirantes, que aproveita traçados de trilhas indígenas, obedecia a uma cadência. O pouso dos bandeirantes que originou Campinas foi criado por volta de 1730, quando foi aberta a trilha.
A origem de Campinas é o tema da tese de doutorado do prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos (PT), pela USP (Universidade de São Paulo), sob orientação do urbanista Cândido Malta Filho.
O estudo, apresentado em 1997, utiliza dados que resultaram de pesquisas feitas em Portugal e no Brasil -no Centro de Memória da Unicamp, Arquivo do Estado de São Paulo, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e fotos de satélite da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
O material incluiu pesquisa cartorial de inventários das famílias que vieram com os bandeirantes.
O plano de ocupação e colonização só vem depois da formação do pouso, a partir do comando da capitania, segundo Toninho.
Morgado de Mateus chegou em 1765, ficou até 1775 e determinou, por meio de um documento, que, devido ao plano estratégico de ocupação, era preciso estimular a vinda de povos para a localidade.
A contrapartida era a doação de terras. Com isso, ele estimulou a vinda das famílias que seriam pioneiras do plantio da cana-de-açúcar. Morgado de Mateus considerou a planície da região adequada para o açúcar, mas dependia do uso de carros de boi para implementá-la.
A planície tinha solo, topografia e clima adequados para o plantio da cana-de-açúcar com o uso de carros de boi.
O gado foi trazido por tropeiros, de Sorocaba, vila que tinha uma importante feira permanente de venda de animais.
A comercialização do gado estimulou o processo de implantação da cultura da cana-de-açúcar e até mesmo de outras localidades no caminho.
O gado também vinha da região Sul do país, onde hoje é a Região Metropolitana de Porto Alegre, e da atual região de Curitiba.
As fazendas de gado foram desenvolvidas ao longo da estrada que ligava o sul a Sorocaba.
O plano de implantação de povoados elaborado por Morgado de Mateus constituiu o Quadrilátero Paulista do Açúcar, que prospera de 1790 até 1840, mesmo depois de sua volta para Portugal, em 1775.
"Foi uma construção que levou pelo menos umas duas décadas. Esse pouso ficava onde é hoje o estádio do Guarani, é coisa de bandeirante", afirmou Toninho.
Os tropeiros viveram da economia açucareira de 1790 a 1840. "A designação tropeiro vem de tropa de gado, que vinha do sul", disse Toninho sobre os dois ciclos de colonização.

Fundação
A interferência de Francisco Barreto Leme -fundador oficial de Campinas-, que era vereador de Jundiaí, nesse processo foi o de executar o plano de povoamento de Morgado de Mateus.
Mateus designou a Barreto Leme a fundação da futura cidade, com a transformação do pouso dos bandeirantes em uma freguesia de Jundiaí.
A tarefa de Barreto Leme foi trazer as famílias, assentá-las na localidade e fazê-las plantar cana-de-açúcar para a localidade prosperar. No entanto Barreto Leme se negou a fundar a vila no local do pouso e fez a fundação onde é hoje o atual centro da cidade, no largo do Carmo.
Barreto Leme toma essa atitude porque era morador e, para fundar a freguesia, seria obrigado a doar parte de suas terras para a construção da igreja matriz e o prédio da Câmara e a cadeia.
A mudança proposta por Barreto Leme foi aceita pelos moradores, segundo o prefeito de Campinas.
"Os moradores queriam fugir, como o diabo foge da cruz, dessa estrada que passava ali em baixo (próximo ao Guarani). Ali era uma estrada de contrabando do ouro", disse Toninho. (EF)

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