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CÂNCER
Testes com vírus que teve um gene alterado reduzem doença recorrente
Terapia genética combate tumores
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Mais um ponto para a terapia
genética. Em testes realizados por
pesquisadores dos EUA e do Reino Unido, um vírus modificado
geneticamente foi capaz de combater, com eficiência considerável, casos de câncer envolvendo
tumores na cabeça e no pescoço.
Esse tipo de tumor atinge anualmente cerca de 500 mil pessoas no
mundo. Dessas, cerca de 30%
morrem por causa da doença.
O tratamento foi elaborado por
pesquisadores de nove instituições. Entre elas figuram a Universidade do Texas, EUA, e o Fundo
Imperial de Pesquisa do Câncer,
Reino Unido. O método consistiu
em modificar um adenovírus (tipo de vírus que tem apenas DNA
como material genético) chamado ONYX-015.
Uma proteína produzida pela
versão modificada faz com que o
adenovírus ataque apenas as células com uma versão alterada do
gene p53 -que tem a função de
detectar anormalidades no genoma e impedir a divisão celular.
Sabe-se que entre 40% e 75%
dos casos de câncer no pescoço e
na cabeça possuem células com
mutações no gene p53. Por essa
razão, o ONYX-015 pode ser uma
boa arma para atacar e destruir
células do tumor (veja figura).
Os resultados de um tratamento
utilizando somente o adenovírus
não foram muito expressivos.
Apesar de células cancerosas terem sido destruídas, melhorias
clínicas só foram observadas em
15% dos casos.
No entanto, uma combinação
de quimioterapia tradicional com
o tratamento viral mostrou resultados importantes. Os pacientes
envolvidos no estudo apresentavam tumor recorrente, ou seja,
um câncer que voltou a surgir
após tratamentos convencionais.
Por essa razão, os pacientes eram
considerados incuráveis.
Das 30 pessoas injetadas com o
adenovírus no local do câncer,
por quatro semanas, 25 apresentaram redução nos tumores. Dessas, 19 obtiveram reduções superiores a 50% do tamanho original.
Os oito pacientes que tinham
tumores com tamanho igual ou
inferior a 10 cm antes do início do
tratamento conseguiram eliminar
totalmente o câncer. A terapia
combinada foi bem tolerada pelos
pacientes e não causou níveis significativos de intoxicação.
"Mais que os resultados, deve-se enfatizar a importância do método, que mostra ser possível jogar o feitiço contra o feiticeiro,
usando as mutações do câncer como armas para combatê-lo", disse Sérgio Pena, diretor do Centro
de Análise e Tipagem de Genomas do Hospital do Câncer.
Os resultados, publicados hoje
na revista "Nature Medicine", representam o primeiro sucesso clínico de terapia genética para tratamento de câncer.
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