São Paulo, terça-feira, 01 de agosto de 2000


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CÂNCER
Testes com vírus que teve um gene alterado reduzem doença recorrente
Terapia genética combate tumores

SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Mais um ponto para a terapia genética. Em testes realizados por pesquisadores dos EUA e do Reino Unido, um vírus modificado geneticamente foi capaz de combater, com eficiência considerável, casos de câncer envolvendo tumores na cabeça e no pescoço.
Esse tipo de tumor atinge anualmente cerca de 500 mil pessoas no mundo. Dessas, cerca de 30% morrem por causa da doença.
O tratamento foi elaborado por pesquisadores de nove instituições. Entre elas figuram a Universidade do Texas, EUA, e o Fundo Imperial de Pesquisa do Câncer, Reino Unido. O método consistiu em modificar um adenovírus (tipo de vírus que tem apenas DNA como material genético) chamado ONYX-015.
Uma proteína produzida pela versão modificada faz com que o adenovírus ataque apenas as células com uma versão alterada do gene p53 -que tem a função de detectar anormalidades no genoma e impedir a divisão celular.
Sabe-se que entre 40% e 75% dos casos de câncer no pescoço e na cabeça possuem células com mutações no gene p53. Por essa razão, o ONYX-015 pode ser uma boa arma para atacar e destruir células do tumor (veja figura).
Os resultados de um tratamento utilizando somente o adenovírus não foram muito expressivos. Apesar de células cancerosas terem sido destruídas, melhorias clínicas só foram observadas em 15% dos casos.
No entanto, uma combinação de quimioterapia tradicional com o tratamento viral mostrou resultados importantes. Os pacientes envolvidos no estudo apresentavam tumor recorrente, ou seja, um câncer que voltou a surgir após tratamentos convencionais. Por essa razão, os pacientes eram considerados incuráveis.
Das 30 pessoas injetadas com o adenovírus no local do câncer, por quatro semanas, 25 apresentaram redução nos tumores. Dessas, 19 obtiveram reduções superiores a 50% do tamanho original.
Os oito pacientes que tinham tumores com tamanho igual ou inferior a 10 cm antes do início do tratamento conseguiram eliminar totalmente o câncer. A terapia combinada foi bem tolerada pelos pacientes e não causou níveis significativos de intoxicação.
"Mais que os resultados, deve-se enfatizar a importância do método, que mostra ser possível jogar o feitiço contra o feiticeiro, usando as mutações do câncer como armas para combatê-lo", disse Sérgio Pena, diretor do Centro de Análise e Tipagem de Genomas do Hospital do Câncer.
Os resultados, publicados hoje na revista "Nature Medicine", representam o primeiro sucesso clínico de terapia genética para tratamento de câncer.


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