São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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FHC libera verba para estação orbital

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA*
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso determinou a liberação da verba para a participação do Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS em inglês).
O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, disse que a decisão assegura que o país "vai cumprir o compromisso que assumiu", ou seja, a entrega de seis equipamentos para a estação.
Para acertar os detalhes do novo cronograma, virá ao Brasil, provavelmente na semana que vem, o administrador-assistente para assuntos internacionais da agência espacial norte-americana (Nasa), John Schumacher.
Sardenberg afirmou que os problemas foram "exclusivamente orçamentários" e que nunca houve dúvida no governo sobre a importância de o país manter sua participação no projeto.
Ele ressaltou que, do custo total da ISS para o Brasil (cerca de US$ 150 milhões em cinco anos), a maior parte (talvez 80%) será paga a mais de uma dúzia de empresas brasileiras que vão fornecer as partes dos equipamentos.
Esse custo é menos do que o governo gasta por dia com pagamento de juros da dívida pública.
Na segunda-feira passada, a Nasa publicou via Internet pedido de informações para empresas norte-americanas interessadas em assumir a encomenda do mais importante componente da ISS sob responsabilidade do Brasil, um palete expresso.
Ontem, antes de a decisão de FHC ser conhecida, um porta-voz da Nasa, Dwayne Brown, afirmou que o país tinha até o fim de outubro para se decidir. Do contrário, a agência norte-americana se encarregaria da parte brasileira.
A verba do Brasil para a ISS este ano é de cerca de US$ 23 milhões. Parte desse dinheiro será usado para pagar a Boeing por serviços de consultoria já prestados.
O Brasil deve cerca de US$ 3 milhões à empresa, escolhida pela Nasa para realizar toda a integração dos componentes da ISS.
O Brasil é o único país em desenvolvimento entre os 16 que estão construindo a estação.
Os participantes do projeto ISS são: EUA, Rússia, Canadá, Japão, 11 países da Europa e o Brasil.
O cronograma original da ISS previa sua conclusão para 2002. Devido a problemas orçamentários da Rússia, o segundo maior parceiro do projeto (depois dos EUA), o processo se atrasou.
Agora, a previsão é que a ISS vai estar funcionando por completo em 2004. Seu custo total está estimado em US$ 60 bilhões.
Em troca dos seis equipamentos que vai fornecer, o Brasil terá espaço permanente na ISS para fazer experimentos científicos de seu interesse, realizar observações do território brasileiro e enviar dois astronautas em missão.
O primeiro deles, major-aviador Marcos César Pontes, já está se preparando nos EUA. Sua viagem ainda não está agendada, mas prevê-se que será em 2004.
Entre as experiências que o Brasil pretende fazer na ISS está o desenvolvimento de cristais de proteína e a cultura de células vivas em ambiente de microgravidade com fins farmacológicos.
Por exemplo, o Laboratório de Cristalografia de Proteínas do Instituto de Física de São Carlos, da USP (Universidade de São Paulo), tem projeto de desenvolver pesquisas sobre a doença de Chagas na ISS.
O principal equipamento a ser fornecido pelo Brasil, o palete expresso para experimentos, é um mecanismo de conexão, utilizado para anexar pequenas cargas úteis ao segmento de armação.
O diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB), Luis Gylvan Meira Filho, disse à Folha que a decisão de ontem também viabilizou outro projeto em conjunto com a Nasa, chamado de "sensor de umidade brasileiro".
Trata-se um pequeno detetor de microondas capaz de, no espaço, determinar com precisão a quantidade de água na atmosfera.
Esse sensor será um dos três aparelhos a bordo de um satélite que a Nasa colocará em órbita em 2001. Meira Filho disse que o instrumento ajudará o país a ter previsões precisas sobre efeitos de fenômenos meteorológicos como El Niño e a seca no Nordeste.
A montagem da estação começou em novembro do ano passado, quando os dois primeiros módulos, um dos EUA e um da Rússia, foram unidos no espaço.
A ISS será quatro vezes maior do que a Mir, a mais importante estação espacial da história, que foi utilizada pela última vez este ano. Ela poderá ser ocupada por até sete astronautas de cada vez.


* Colaborou WILLIAM FRANÇA, da Sucursal de Brasília


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