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FHC libera verba para estação orbital
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA*
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso determinou a liberação da verba para a participação
do Brasil na Estação Espacial Internacional (ISS em inglês).
O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, disse
que a decisão assegura que o país
"vai cumprir o compromisso que
assumiu", ou seja, a entrega de
seis equipamentos para a estação.
Para acertar os detalhes do novo
cronograma, virá ao Brasil, provavelmente na semana que vem, o
administrador-assistente para assuntos internacionais da agência
espacial norte-americana (Nasa),
John Schumacher.
Sardenberg afirmou que os problemas foram "exclusivamente
orçamentários" e que nunca houve dúvida no governo sobre a importância de o país manter sua
participação no projeto.
Ele ressaltou que, do custo total
da ISS para o Brasil (cerca de US$
150 milhões em cinco anos), a
maior parte (talvez 80%) será paga a mais de uma dúzia de empresas brasileiras que vão fornecer as
partes dos equipamentos.
Esse custo é menos do que o governo gasta por dia com pagamento de juros da dívida pública.
Na segunda-feira passada, a Nasa publicou via Internet pedido de
informações para empresas norte-americanas interessadas em
assumir a encomenda do mais
importante componente da ISS
sob responsabilidade do Brasil,
um palete expresso.
Ontem, antes de a decisão de
FHC ser conhecida, um porta-voz
da Nasa, Dwayne Brown, afirmou
que o país tinha até o fim de outubro para se decidir. Do contrário,
a agência norte-americana se encarregaria da parte brasileira.
A verba do Brasil para a ISS este
ano é de cerca de US$ 23 milhões.
Parte desse dinheiro será usado
para pagar a Boeing por serviços
de consultoria já prestados.
O Brasil deve cerca de US$ 3 milhões à empresa, escolhida pela
Nasa para realizar toda a integração dos componentes da ISS.
O Brasil é o único país em desenvolvimento entre os 16 que estão construindo a estação.
Os participantes do projeto ISS
são: EUA, Rússia, Canadá, Japão,
11 países da Europa e o Brasil.
O cronograma original da ISS
previa sua conclusão para 2002.
Devido a problemas orçamentários da Rússia, o segundo maior
parceiro do projeto (depois dos
EUA), o processo se atrasou.
Agora, a previsão é que a ISS vai
estar funcionando por completo
em 2004. Seu custo total está estimado em US$ 60 bilhões.
Em troca dos seis equipamentos
que vai fornecer, o Brasil terá espaço permanente na ISS para fazer experimentos científicos de
seu interesse, realizar observações
do território brasileiro e enviar
dois astronautas em missão.
O primeiro deles, major-aviador Marcos César Pontes, já está
se preparando nos EUA. Sua viagem ainda não está agendada,
mas prevê-se que será em 2004.
Entre as experiências que o Brasil pretende fazer na ISS está o desenvolvimento de cristais de proteína e a cultura de células vivas
em ambiente de microgravidade
com fins farmacológicos.
Por exemplo, o Laboratório de
Cristalografia de Proteínas do
Instituto de Física de São Carlos,
da USP (Universidade de São
Paulo), tem projeto de desenvolver pesquisas sobre a doença de
Chagas na ISS.
O principal equipamento a ser
fornecido pelo Brasil, o palete expresso para experimentos, é um
mecanismo de conexão, utilizado
para anexar pequenas cargas úteis
ao segmento de armação.
O diretor da Agência Espacial
Brasileira (AEB), Luis Gylvan
Meira Filho, disse à Folha que a
decisão de ontem também viabilizou outro projeto em conjunto
com a Nasa, chamado de "sensor
de umidade brasileiro".
Trata-se um pequeno detetor de
microondas capaz de, no espaço,
determinar com precisão a quantidade de água na atmosfera.
Esse sensor será um dos três
aparelhos a bordo de um satélite
que a Nasa colocará em órbita em
2001. Meira Filho disse que o instrumento ajudará o país a ter previsões precisas sobre efeitos de fenômenos meteorológicos como
El Niño e a seca no Nordeste.
A montagem da estação começou em novembro do ano passado, quando os dois primeiros módulos, um dos EUA e um da Rússia, foram unidos no espaço.
A ISS será quatro vezes maior
do que a Mir, a mais importante
estação espacial da história, que
foi utilizada pela última vez este
ano. Ela poderá ser ocupada por
até sete astronautas de cada vez.
* Colaborou WILLIAM FRANÇA, da Sucursal
de Brasília
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