São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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PERISCÓPIO
Homem, gorila e chimpanz

JOS REIS
especial para a Folha

Fortes argumentos a favor da maior proximidade entre o homem e o chimpanz do que entre este e o gorila foram apresentados no 4 Congresso Internacional de Sistemçtica e Biologia Evolucionçria por Maryellen Ruvolo e colaboradores, da Universidade Harvard, nos EUA. Baseou-se o grupo em estudos do DNA mitocondrial.
Esse fato mais um lance numa batalha travada hç 20 anos entre bilogos e evolucionistas. A histria começou quando, no incio da dcada de 60, Morris Goodman, da Universidade Estadual Wayne, investiu contra o sistema convencional de classificaço que coloca o homem numa famlia (Hominidae) e os antropides noutra (Pongidae). Ele fez reaçes cruzadas entre protenas imunolgicas do sangue e sugeriu que os seres humanos so geneticamente muito prximos dos chimpanzs e dos gorilas, devendo todos por isso pertencer a uma s famlia.
Na mesma poca, Vincent Sarich e Alan Wilson, da Universidade da Califrnia em Berkeley, utilizando reaço entre protenas sanguneas, calcularam as distncias imunolgicas entre os homindeos e chegaram a concluso revolucionçria sobre a separaço entre a linhagem humana e a dos grandes macacos. Segundo a viso tradicional, a linhagem que levou ao surgimento do homem teria derivado de uma linhagem que conduziu aos macacos antropides hç mais de 15 milhes de anos. Pelas observaçes de Sarich e Wilson, a separaço teria ocorrido hç apenas 5 milhes de anos, quando o homem, o chimpanz e o gorila teriam divergido do tronco comum.
As idias de Goodman no foram logo aceitas pela maioria dos evolucionistas. Mas, em 1984, Charles Sibley e Jon Ahlquist, da Universidade Yale, publicaram dados sobre hibridaço de DNA, tcnica que consiste em verificar se um grupo de fragmentos de DNA se une a outro e assim revelar quantas sequncias os dois grupos partilham. Seus resultados indicavam maior aproximaço entre o homem e o chimpanz do que entre este e o gorila. Essas alegaçes foram contestadas por alguns cientistas, como Jonathan Marks, de Yale, e Sarich.
Outras investigaçes baseadas no DNA nuclear confirmaram a maior proximidade entre o homem e o chimpanz. Entre essas pesquisas destacam-se as de Goodman e colegas, que examinaram longas sequncias de mais de 10 mil bases (unidades formadoras do DNA). Em 1987 eles calcularam, partindo desses dados, uma diferença de 1,6% entre homem e chimpanz e de 2,1% entre chimpanz e gorila, o que foi confirmado por outros pesquisadores.
A mais recente prova favorçvel a Goodman a de Ruvolo e colaboradores, que estudaram nas trs espcies sequncias do DNA que se encontra nas mitocndrias, organelas citoplçsmicas que servem de central energtica da clula. Ruvolo sequenciou um fragmento de 700 bases e encontrou diferença de 9,6% entre homem e chimpanz e de 13,1% entre chimpanz e gorila.
Os achados de Ruvolo so apoiados por Satoshi Horsi, do Instituto Nacional de Gentica do Japo, que comunicou seus resultados no Congresso Internacional de Primatologia. Baseiam-se esses resultados na ançlise de fragmentos de 4.900 bases de DNA mitocondrial.
No hç dvida de que se delineia a vitria do esquema de Goodman, que coloca o gorila, o chimpanz e o homem com trs degraus sucessivos de uma mesma famlia, com parentesco maior entre o homem e o chimpanz. Mas Sarich e Marks ainda apresentam objeçes, firmadas nos trabalhos de Howard Green, da Harvard, que observou que o chimpanz e o gorila partilham quatro porçes repetidas, de cerca de 30 bases cada, no gene que comanda a formaço da involucrina, protena da pele. Dessa sequncia os homens no partilham.




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