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GENÉTICA
Sequência ligada ao processamento de açúcar no organismo foi estudada por americanos contra tipo 2 da doença
Gene é novo alvo para droga antidiabetes
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um gene da mosca-das-frutas
drosófila batizado em homenagem a um animal da série "Jornada nas Estrelas" que se reproduz
alucinadamente é a mais recente
pista para um novo tratamento
contra diabetes tipo 2, a forma da
doença que afeta principalmente
idosos e pessoas acima do peso.
O gene "tribbles" participa na
drosófila da regulagem do ciclo
celular. Células de moscas nas
quais a ação desse gene é acentuada se reproduzem de modo descontrolado, como esses animais
da série de TV (cujo nome foi traduzido no Brasil como "pingos").
Descobriu-se, agora, que o gene
equivalente do "tribbles" no ser
humano, o TRB3, tem um papel
importante nas reações bioquímicas ligadas ao processamento de
açúcar pelo organismo por meio
do hormônio insulina.
O diabetes tipo 1, mais raro,
atinge jovens e é uma doença auto-imune, isto é, na qual anticorpos do próprio organismo destroem células no pâncreas que
produzem a insulina.
As vítimas do tipo 2 produzem
insulina, mas se tornam resistentes a ela. Isso impede que a insulina promova a produção do açúcar glicose no fígado e impede a
absorção da glicose no sangue pelos músculos.
Quando o organismo tem glicose disponível, por meio da comida, o fígado pára de produzir o
açúcar graças à ação de uma enzima conhecida como Akt. Enzimas são agentes reguladores do
conjunto de reações típicas do
metabolismo das células.
Quatro pesquisadores do Instituto Salk para Estudos Biológicos,
na Califórnia, e da Escola Médica
da Universidade Harvard, em
Massachusetts, procuraram proteínas que interagissem com a enzima Akt. E descobriram que a
proteína codificada pelo gene
TRB3 é capaz de bloquear a ação
da enzima Akt, em um estudo
descrito na última edição da revista científica "Science". Estudos
em camundongos mostraram
que, na ausência de alimentação,
o bloqueio da enzima permitia a
produção de açúcar pelo fígado.
Conclusão: uma droga que por
sua vez bloqueasse a TRB3 em
pessoas que se alimentam normalmente poderia então servir de
tratamento para diabetes.
"A TRB3 pertence a um grupo
de proteínas conhecidas como
quinases, contra as quais já foram
desenvolvidas drogas. É difícil
prever, entretanto, se essas drogas
serão específicas e sem efeitos colaterais", disse à Folha o líder do
grupo de pesquisa, Marc Montminy, do Instituto Salk.
"A TRB3 parece ter um papel
importante em ajudar a equilibrar
as necessidades de nutrição do
corpo durante períodos de jejum,
por isso vai ser importante bloquear apenas o excesso de TRB3
que se acredita que os indivíduos
diabéticos produzam", diz.
Estima-se em 150 milhões o número de vítimas do diabetes tipo 2
no mundo. O número foi citado
por Jared Diamond, fisiologista e
escritor de best-sellers de divulgação científica, na última edição da
revista "Nature". Segundo ele, os
números são conservadores, pois
se calcula que para cada caso confirmado no Primeiro Mundo haja
um não-diagnosticado, e oito casos ocultos no Terceiro Mundo
para cada um descoberto .
Diamond procura analisar como a genética das populações e a
mudança de hábitos alimentares
têm causado uma verdadeira epidemia da doença em certas regiões do planeta.
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