UOL


São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GENÉTICA

Sequência ligada ao processamento de açúcar no organismo foi estudada por americanos contra tipo 2 da doença

Gene é novo alvo para droga antidiabetes

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um gene da mosca-das-frutas drosófila batizado em homenagem a um animal da série "Jornada nas Estrelas" que se reproduz alucinadamente é a mais recente pista para um novo tratamento contra diabetes tipo 2, a forma da doença que afeta principalmente idosos e pessoas acima do peso.
O gene "tribbles" participa na drosófila da regulagem do ciclo celular. Células de moscas nas quais a ação desse gene é acentuada se reproduzem de modo descontrolado, como esses animais da série de TV (cujo nome foi traduzido no Brasil como "pingos").
Descobriu-se, agora, que o gene equivalente do "tribbles" no ser humano, o TRB3, tem um papel importante nas reações bioquímicas ligadas ao processamento de açúcar pelo organismo por meio do hormônio insulina.
O diabetes tipo 1, mais raro, atinge jovens e é uma doença auto-imune, isto é, na qual anticorpos do próprio organismo destroem células no pâncreas que produzem a insulina.
As vítimas do tipo 2 produzem insulina, mas se tornam resistentes a ela. Isso impede que a insulina promova a produção do açúcar glicose no fígado e impede a absorção da glicose no sangue pelos músculos.
Quando o organismo tem glicose disponível, por meio da comida, o fígado pára de produzir o açúcar graças à ação de uma enzima conhecida como Akt. Enzimas são agentes reguladores do conjunto de reações típicas do metabolismo das células.
Quatro pesquisadores do Instituto Salk para Estudos Biológicos, na Califórnia, e da Escola Médica da Universidade Harvard, em Massachusetts, procuraram proteínas que interagissem com a enzima Akt. E descobriram que a proteína codificada pelo gene TRB3 é capaz de bloquear a ação da enzima Akt, em um estudo descrito na última edição da revista científica "Science". Estudos em camundongos mostraram que, na ausência de alimentação, o bloqueio da enzima permitia a produção de açúcar pelo fígado.
Conclusão: uma droga que por sua vez bloqueasse a TRB3 em pessoas que se alimentam normalmente poderia então servir de tratamento para diabetes.
"A TRB3 pertence a um grupo de proteínas conhecidas como quinases, contra as quais já foram desenvolvidas drogas. É difícil prever, entretanto, se essas drogas serão específicas e sem efeitos colaterais", disse à Folha o líder do grupo de pesquisa, Marc Montminy, do Instituto Salk.
"A TRB3 parece ter um papel importante em ajudar a equilibrar as necessidades de nutrição do corpo durante períodos de jejum, por isso vai ser importante bloquear apenas o excesso de TRB3 que se acredita que os indivíduos diabéticos produzam", diz.
Estima-se em 150 milhões o número de vítimas do diabetes tipo 2 no mundo. O número foi citado por Jared Diamond, fisiologista e escritor de best-sellers de divulgação científica, na última edição da revista "Nature". Segundo ele, os números são conservadores, pois se calcula que para cada caso confirmado no Primeiro Mundo haja um não-diagnosticado, e oito casos ocultos no Terceiro Mundo para cada um descoberto .
Diamond procura analisar como a genética das populações e a mudança de hábitos alimentares têm causado uma verdadeira epidemia da doença em certas regiões do planeta.


Texto Anterior: Brasileiro quer inspirar estudantes
Próximo Texto: Columbia: Espuma rompe material de asa em teste final
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.