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A batalha contra o atraso
ROGÉRIO CÉZAR DE CERQUEIRA LEITE
do Conselho Editorial
A mais importante conferência
anual de física, e talvez da ciência
em geral, no Ocidente, ocorre todos os anos durante o mês de março em alguma cidade dos EUA. É o
"March Meeting" (Encontro de
Março), da Sociedade Americana
de Física (APS). Reúne entre 5 mil
e 10 mil cientistas experientes. Em
1999, a Sociedade Americana de
Física comemora o seu primeiro
centenário com um retrospecto do
que aconteceu de impacto neste
século. Em sua sessão de abertura
serão descritas cinco plataformas
internacionais de cooperação de
destaque para o futuro da ciência.
Uma delas na América Latina, o
Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico), em
Campinas.
Não é a maior nem a mais completa máquina do gênero no mundo. Outro dos cinco centros escolhidos é o Cern (Centro Europeu
de Pesquisa Nuclear), na Suíça, esforço europeu que dispõe, dentre
outros equipamentos, de um acelerador circular como o de Campinas, mas que é tão grande -o
maior do mundo- que não coube
na Suíça, diz uma anedota, e um
segmento do círculo precisou ser
construído na França. O do LNLS
é considerado uma máquina "sui
generis", porque foi inteiramente
projetado, construído e operado
por equipe inteiramente nacional,
feito que ninguém, aqui e no exterior, acreditava que isso fosse possível. Hoje, o LNLS já foi convidado a construir componentes para
diversas outras máquinas congêneres, nos EUA, na Alemanha, na
França e em outros países. Em
apenas seis meses, com apenas um
terço de seus laboratórios instalados, permitiu às comunidades
científicas brasileira, latino-americana e européia a execução de
250 projetos, obteve patentes e foi
recentemente convidado para participar da concorrência internacional para projetar e construir o
síncrotron do Canadá.
O LNLS adotou como estrutura
gerencial a Organização Social, regida por contratos de gestão, tornando-se uma verdadeira cobaia
de uma fórmula administrativa
combatida ferozmente pela burocracia tradicionalista brasileira.
O reconhecimento internacional, representado pela escolha do
LNLS como um dos principais
centros para colaboração internacional por uma das mais prestigiosas organizações científicas do
mundo, demonstra que foi derrotado o fantasma da incredulidade
e da indiferença. Veremos agora se
o dragão do corporativismo burocrático e da inveja intelectual poderá ser neutralizado em um país
em desenvolvimento. Essa última
batalha será a mais penosa.
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