São Paulo, domingo, 8 de novembro de 1998

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FUTURO
Pesquisadores buscam substituto para injeções diárias de diabéticos
Insulina em spray

da Reportagem Local

Um spray de insulina, desenvolvido por indústrias dos EUA, pode ser a solução para substituir as injeções que pacientes de diabetes precisam tomar diariamente para manter o nível de glicose (açúcar) no sangue.
O spray funciona como um inalador utilizado por indivíduos com asma. Do tamanho de uma lanterna, o aparelho é carregado com a dose terapêutica necessária e é operado mecanicamente. Uma ou duas inalações equivalem a uma dose pequena de insulina.
O inalador foi criado pela Inhaled Therapeutics Systems, em parceria com a indústria farmacêutica Pfizer, responsável pelo desenvolvimento da droga contra a impotência Viagra.
Pelo fato de o inalador ter sido desenvolvido apenas para aplicar uma dose de curta duração de insulina, ainda é necessário o uso de injeções de uma dose de ação prolongada para o controle dos níveis de açúcar no sangue à noite.
"Diabéticos que necessitam de uma dose maior de insulina ainda precisam de injeções", disse Joyce Strand, da Inhaled Therapeutics Systems, em entrevista por e-mail à Folha.
Segundo ela, as empresas envolvidas no projeto estudam o desenvolvimento de um inalador com doses mais fortes.
O estudo preliminar do inalador começou em 1993, para que fosse medida sua ação em seis pacientes com diabetes do tipo 2. O aerossol utilizado continha cerca de 500 U/mL (unidades por mililitro) de insulina.
Nos testes, uma dose de cerca de 1 U de insulina por quilograma da massa do corpo chegou ao pulmão -ou cerca de 21% da insulina eliminada pelo inalador-, o que seria o suficiente para controlar os níveis de glicose no sangue.
No ano passado, outros dois testes foram realizados para se determinar a eficácia do inalador. Os exames foram conduzidos por Jay S. Skyler, da Universidade de Miami, e por William T. Cefalu, da Universidade de Vermont, em Burlington (EUA).
No primeiro exame, 70 pacientes com diabetes 1 foram divididos em dois grupos e receberam, por três meses, tratamento com o inalador ou com injeções.
O grupo que tomou as injeções recebeu as mesmas doses diárias de insulina que eram ministradas antes dos testes -cerca de duas ou três injeções diárias.
O outro grupo, que utilizou o inalador, recebeu uma ou duas inalações antes de cada refeição e uma injeção de dose prolongada de insulina antes de dormir.
Segundo Skyler, os níveis de glicose na corrente sanguínea dos pacientes dos dois grupos, após o final dos testes, foram parecidos.
No segundo experimento, 51 indivíduos com diabetes 2 foram separados em dois grupos e tratados de maneira semelhante ao primeiro teste. Apenas as doses de insulina foram alteradas.
Após os testes, uma pesquisa realizada pelos médicos indicou que 92% dos pacientes com diabetes 2 e 80% dos com diabetes 1 que usaram o inalador optaram por continuar a utilizar o método por mais um ano.
"O novo sistema pode mudar dramaticamente o tratamento de diabetes, principalmente devido ao desconforto do uso de injeções", afirmou Skyler.
Sobre a comercialização do produto, Strand disse que ainda precisarão ser feitos novos testes em novembro, que deverão durar de seis meses a um ano.
Após os experimentos, a FDA (agência que regulamenta drogas e alimentos nos EUA) precisará ainda aprovar a utilização do inalador em escala comercial. (Marcelo Ferroni)



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