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FÍSICA
Dois americanos e um japonês dividem US$ 1 milhão por construção de detectores de neutrinos e telescópios de raios X
Prêmio Nobel vai para partícula-fantasma
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Experimentos que mediram o
bombardeio de partículas fantasmagóricas sobre a Terra e colocaram telescópios no espaço para
espionar buracos negros deram a
seus criadores o Prêmio Nobel de
Física. Dois astrofísicos dos EUA e
um japonês dividirão o prêmio de
10 milhões de coroas (equivalente
a US$ 1 milhão) dado pela Real
Academia Sueca de Ciências.
O americano Raymond Davis
Jr., 87, da Universidade da Pensilvânia, vai dividir a sua metade do
prêmio com o japonês Masatoshi
Koshiba, 76, da Universidade de
Tóquio. Os dois foram pioneiros
na captura de neutrinos (partículas fundamentais da matéria sem
carga elétrica) vindos do Sol e da
explosão de supernovas.
Por sua vez, o italiano naturalizado americano Riccardo Giacconi, 71, pesquisador da Associated
Universities, Inc., ganhou o prêmio por aperfeiçoar e colocar em
órbita da Terra os telescópios que
conseguem observar os raios X,
ajudando a comprovar a existência dos buracos negros -grandes
emissores desse tipo de radiação.
"É um momento fantástico e
emocionante para nós", disse à
Folha Kenneth Lande, colaborador de Raymond Davis na Universidade da Pensilvânia. "Esses
trabalhos estão abrindo uma janela nova no Universo", afirmou
o pesquisador, que trabalha com
o vencedor do Nobel desde 1972.
Davis tem mal de Alzheimer em
fase avançada.
Os experimentos de Davis capturando neutrinos num tanque a
mais de 1.500 m de profundidade
provaram que o Sol produz energia por meio da fusão nuclear,
criando essas partículas como
subprodutos. Além disso, ele
mostrou que a quantidade de
neutrinos a alcançar a Terra era
menor do que o previsto.
Koshiba comprovou que algo
realmente estava errado nessa
conta e também participou da explicação do problema. É que os
experimentos dos dois só detectavam um tipo de neutrino, que está
associado aos elétrons. Koshiba
detectou a chamada oscilação
-ou seja, neutrinos do tipo elétron se transformando em neutrinos associados aos múons ou aos
taus -partículas "irmãs" dos elétrons, mas de massa maior.
Até essa descoberta, assumia-se
que os neutrinos não tinham
massa e viajavam à velocidade da
luz pelo Universo, afirma Amâncio Friaça, do IAG (Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da USP). "Acreditava-se que todos os tipos de neutrino eram iguais. Mas a oscilação
mostra que eles provavelmente
viajam a velocidades diferentes e
têm massa", afirma o astrofísico.
Por serem absurdamente abundantes no Universo, mesmo uma
massa minúscula daria um papel
importante aos neutrinos na própria formação das galáxias, afirma Adriano Natale, do Instituto
de Física Teórica da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Isso influiria também na visão
que os cientistas têm do futuro do
Universo: afinal, dependendo da
quantidade relativa de massa presente nele, ele pode se expandir
indefinidamente (se ela for pouca) ou sofrer uma implosão (se ela
for muita). "Mas ainda não dá para saber se os neutrinos vão ajudar a "fechar a conta" do Universo", diz Natale.
Imagens galácticas
O trabalho de Giacconi, que
nasceu em Gênova mas veio trabalhar nos Estados Unidos em
1959, parece um pouco menos
mirabolante. Ele desenvolveu
quase toda a tecnologia usada hoje para "enxergar" os raios X
-uma das radiações mais emitidas pelos corpos celestes muito
energéticos no Universo.
Usando espelhos côncavos que
eram capazes de coletar esse tipo
de radiação e lançando foguetes
que os carregavam, Giacconi conseguiu as primeiras boas visões do
espaço a partir dos raios X -revelando objetos que emitem muita radiação desse tipo, como as estrelas de nêutrons e os buracos
negros, cujo nome já diz tudo: não
emitem luz visível.
As observações de Giacconi ajudaram a provar a existência dos
buracos negros, flagrando alguns
espécimes particularmente maciços no centro das galáxias. A última criação do físico, o telescópio
Chandra, produz imagens em órbita tão boas quanto as do Hubble, que captura luz visível.
De quebra, diz Amâncio Friaça,
o trabalho de Giacconi mostrou
que existem enormes quantidades de gás no espaço entre as galáxias -que correspondem, por sinal, à maior parte da matéria conhecida a compor o Universo.
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