São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004

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ANÁLISE

Missões tripuladas são caras, mas insubstituíveis

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao mesmo tempo em que fascina e inspira os terrestres com as imagens da paisagem marciana obtidas por seu último esforço não-tripulado, a Nasa demonstra como são frágeis as máquinas, se comparadas ao homem.
Dez dias, por baixo, é o que levará para que o jipe Spirit possa iniciar suas andanças pela cratera Gusev, em Marte. Fosse uma missão tripulada, os astronautas há dias já teriam explorado as cercanias do local de pouso e estariam se preparando agora para jornadas quilométricas nos próximos dias. Pessoas inteligentes, capazes de se adaptar prontamente ao que estão vendo e não deixar escapar o que poderá bem ser a descoberta mais impactante da história da ciência: existe vida fora da Terra? No fundo, é essa a resposta que se quer obter do planeta vermelho.
É inegável que ter pessoas no local facilita um bocado a exploração científica -mesmo quando o trabalho é meramente operar robôs. São necessários dez minutos para que um comando, viajando à velocidade da luz, parta da Terra e chegue ao Spirit, em Marte. Outros dez para que o jipe responda aos ansiosos engenheiros em Pasadena, na Califórnia. Até as leis da física parecem conspirar para que haja gente "in loco", acompanhando o trabalho.
O cerne do problema é o custo. Enviar robôs, por uma série de razões, ainda é absurdamente mais barato. Os dois novos jipes marcianos custaram à agência espacial americana US$ 800 milhões. Uma missão tripulada, usando os números mais otimistas, não sairia por menos de US$ 30 bilhões.
A verdade é que a Nasa não costuma trabalhar com trocados. Quando George Bush (o pai) pela primeira vez anunciou a proposta de voltar à Lua e ir a Marte, a agência apresentou um orçamento astronômico, de US$ 400 bilhões. A iniciativa morreu ali. Mas poderia ter sido muito diferente.
Desde 1991, o engenheiro espacial Robert Zubrin (hoje presidente da Mars Society) apresenta um plano que ele chama de "Mars Direct" (Marte Direto). Criado exatamente para ser uma alternativa à proposta original da Nasa, ele faz uso racional do desenvolvimento de sistemas comuns para a exploração da Lua e de Marte, do modo mais rápido e barato.
Desde 1993, a estratégia tem sido aperfeiçoada, a título de exercício, por engenheiros do Centro Espacial Johnson, da Nasa. Ainda há muito trabalho a ser feito, mas está claro que é possível usar o Mars Direct como um ponto de partida para fazer o serviço por menos de US$ 400 bilhões.
Vale lembrar que o orçamento anual da Nasa, hoje, gira na casa dos US$ 15 bilhões. Um quinto disso, cerca de US$ 3,2 bilhões, vai todo ano para ônibus espaciais que devem ser aposentados ao final da década. Sobrará, portanto, uma boa margem para retrabalhar o programa tripulado e realizar as promessas de Bush (o filho). Se isso vai mesmo ocorrer, Zubrin não sabe: "O tempo dirá".


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