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ANÁLISE
Missões tripuladas são caras, mas insubstituíveis
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao mesmo tempo em que fascina e inspira os terrestres com as
imagens da paisagem marciana
obtidas por seu último esforço
não-tripulado, a Nasa demonstra
como são frágeis as máquinas, se
comparadas ao homem.
Dez dias, por baixo, é o que levará para que o jipe Spirit possa iniciar suas andanças pela cratera
Gusev, em Marte. Fosse uma missão tripulada, os astronautas há
dias já teriam explorado as cercanias do local de pouso e estariam
se preparando agora para jornadas quilométricas nos próximos
dias. Pessoas inteligentes, capazes
de se adaptar prontamente ao que
estão vendo e não deixar escapar
o que poderá bem ser a descoberta mais impactante da história da
ciência: existe vida fora da Terra?
No fundo, é essa a resposta que se
quer obter do planeta vermelho.
É inegável que ter pessoas no local facilita um bocado a exploração científica -mesmo quando o
trabalho é meramente operar robôs. São necessários dez minutos
para que um comando, viajando à
velocidade da luz, parta da Terra e
chegue ao Spirit, em Marte. Outros dez para que o jipe responda
aos ansiosos engenheiros em Pasadena, na Califórnia. Até as leis
da física parecem conspirar para
que haja gente "in loco", acompanhando o trabalho.
O cerne do problema é o custo.
Enviar robôs, por uma série de razões, ainda é absurdamente mais
barato. Os dois novos jipes marcianos custaram à agência espacial americana US$ 800 milhões.
Uma missão tripulada, usando os
números mais otimistas, não sairia por menos de US$ 30 bilhões.
A verdade é que a Nasa não costuma trabalhar com trocados.
Quando George Bush (o pai) pela
primeira vez anunciou a proposta
de voltar à Lua e ir a Marte, a
agência apresentou um orçamento astronômico, de US$ 400 bilhões. A iniciativa morreu ali. Mas
poderia ter sido muito diferente.
Desde 1991, o engenheiro espacial Robert Zubrin (hoje presidente da Mars Society) apresenta
um plano que ele chama de "Mars
Direct" (Marte Direto). Criado
exatamente para ser uma alternativa à proposta original da Nasa,
ele faz uso racional do desenvolvimento de sistemas comuns para a
exploração da Lua e de Marte, do
modo mais rápido e barato.
Desde 1993, a estratégia tem sido aperfeiçoada, a título de exercício, por engenheiros do Centro
Espacial Johnson, da Nasa. Ainda
há muito trabalho a ser feito, mas
está claro que é possível usar o
Mars Direct como um ponto de
partida para fazer o serviço por
menos de US$ 400 bilhões.
Vale lembrar que o orçamento
anual da Nasa, hoje, gira na casa
dos US$ 15 bilhões. Um quinto
disso, cerca de US$ 3,2 bilhões, vai
todo ano para ônibus espaciais
que devem ser aposentados ao final da década. Sobrará, portanto,
uma boa margem para retrabalhar o programa tripulado e realizar as promessas de Bush (o filho). Se isso vai mesmo ocorrer, Zubrin não sabe: "O tempo dirá".
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