São Paulo, Domingo, 12 de Dezembro de 1999


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Periscópio

As idades discordantes do Universo

José Reis
especial para a Folha

Os cálculos sobre a idade do Universo desde a grande explosão inicial têm variado, segundo as técnicas utilizadas, entre 20 bilhões e 10 bilhões ou mesmo 8 bilhões de anos. A tendência das mais recentes medições é para os valores mais baixos da escala. Mas, como os chamados aglomerados globulares parecem ter de 12 bilhões a 14 bilhões de anos, o Universo não poderia teoricamente ser mais novo que isso, salvo erro de observação quanto àqueles aglomerados. Em geral existe um polido, porém evidente, atrito nesse terreno entre os astrônomos teóricos e os de observação, propendendo aqueles para valores mais altos.
A quantificação da expansão do Universo faz-se em termos da chamada constante de Hubble, que é a velocidade, medida em quilômetros por segundo, com que a galáxia remota foge de nós, numa distância de pouco mais de 3 milhões de anos-luz (o ano-luz equivale a cerca de 9 bilhões e 500 milhões de quilômetros). Calcula-se a constante dividindo as velocidades das galáxias remotas por sua distância em relação à Terra. A avaliação da velocidade é relativamente simples, mas a da distância das galáxias é mais complicada, daí provindo as diferenças no valor atribuído à constante.
Uma das técnicas de medição da distância baseia-se nas nebulosas planetárias, incandescentes halos de gás que cercam as estrelas velhas. Com esse processo, George H. Jacoby chegou a uma idade de 8 bilhões a 12 bilhões de anos, número confirmado em várias contraprovas.
Michael J. Pierce e colaboradores deduziram a constante de Hubble a partir do estudo de explosões de supernovas. Essa técnica em tempos antigos deu valores baixos para a constante (o que corresponde à idade antiga do Universo). Pierce concluiu que a idade do Universo é no máximo de 12 bilhões de anos.
Tom Shanks, adaptando ao telescópio um dispositivo especial ("Martini"), encontrou valor 80 para a constante de Hubble, o que significa que o Universo teria apenas 8 bilhões de anos. O dispositivo "Martini" é uma câmara que compensa a imprecisão das turbulências atmosféricas. Esse aparelho pode acompanhar a trajetória de uma estrela moderadamente brilhante, com um espelho flexível que deixa a imagem em foco.
Wendy L. Freeman e Barry F. Madore fizeram estudo aprofundado das estrelas variáveis chamadas Cefeidas e obtiveram resultado de 8 bilhões a 12 bilhões de anos. Mas Freeman realça que os astrônomos ainda têm de demonstrar inexistência de erro em sua metodologia.
Ainda estão muito no início as pesquisas de David Roberts com uma lente gravitacional na qual a radiação de um quasar distante é desviada pela gravidade de uma galáxia (quasar é uma radiofonte de origem cósmica que, apesar de seu aspecto estelar, nas observações visuais, emite ondas de rádio mais intensamente que qualquer galáxia; ou é todo o objeto de aparência estelar cujo espectro apresenta intenso desvio para o vermelho). O grau de deflexão da radiação revela a separação dos dois objetos e, consequentemente, o grau de expansão do espaço entre eles. Roberts tem obtido valores algo diferentes para a constante, conforme a estrutura da galáxia que serve de lente.
São fortes, como se vê, os indícios de um Universo relativamente novo. Os teóricos, como Andrei Linde, mantêm reservas quanto aos achados dos observadores e se mostram seguros de que a futura pesquisa mostrará que a constante de Hubble é baixa, justificando Universo mais antigo. Nesse sentido falam observações de Josef Hoell e Wolfgang Priester, após estudo de quasares. Para eles, o Universo teria 30 bilhões de anos.



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