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Papel do DNA "inútil" será revisto
MAGGIE FOX
DA "REUTERS"
O primeiro olhar lançado com
profundidade sobre o genoma
humano mostra que ele é muito
mais complicado do que os cientistas esperavam.
Em vez de ter o DNA empacotado com dezenas de milhares de
novos genes que fazem pessoas
diferentes de camundongos,
mosca-das-frutas e vermes, parece que há relativamente poucos
genes -somente 30 mil ou 40
mil, cientistas anunciaram ontem. Estimativas anteriores apontavam de 60 mil a 100 mil genes.
Os dois grupos de cientistas responsáveis pelo sequenciamento
(consórcio público e empresa privada Celera) dizem que estão chocados com os achados, e que isso
significa que os genes podem não
ser tão fundamentais assim na
"confecção" dos organismos.
Eles sabem que cada gene "expressa" ou controla uma proteína. E sabem agora que as proteínas se misturam e combinam de
formas muito mais importantes
do que se pensava anteriormente.
Mas eles também sabem que
precisarão voltar atrás e vasculhar a lata de lixo do genoma
-o chamado DNA-lixo, que
muitos acreditavam não ter um
papel importante.
"Eu o chamo de suposto lixo",
afirmou Eric Lander, chefe do sequenciamento do genoma do Instituto Whitehead, em Massachusetts, EUA, em entrevista por telefone. "O lixo é surpreendente."
Examinando o lixo
Lander, cuja instituição faz parte do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e teve papel
fundamental no consórcio público Projeto Genoma Humano, disse que os cientistas devem dirigir
um olhar atento para esse lixo.
Quando os dois grupos, público
e privado, anunciaram a conclusão da primeira etapa -o sequenciamento do genoma, em junho do ano passado-, eles sabiam muito pouco além da existência de 3,1 bilhões de letras no
genoma humano. Isso significava
basicamente uma leitura das letras químicas A, C, G e T, que formam a dupla hélice do DNA.
Se as combinações certas das
letras são feitas de forma correta,
por exemplo, um A, um T e um G,
elas indicam um aminoácido.
Existem 20 diferentes aminoácidos, que podem ser associados
das maneiras mais diferentes para
produzir 250 mil proteínas.
Não existe um número determinado de aminoácidos para a produção de uma proteína.
Células do cérebro precisam
produzir certas proteínas. Células
do músculo e células do sistema
imunológico, outras. Genes, algumas vezes, controlam o que é expresso (produzido) com base em
outros genes, mas é possível que o
DNA-lixo também tome parte
nesse processo, afirmam os pesquisadores que estão publicando
seus resultados nas revistas científicas "Nature" e "Science".
O achado é surpreendente porque mostra que os genes estão
amontoados em agrupamentos
espalhados pelos 3,1 bilhões de
pares de bases ("letras"). Entre
eles há vastos espaços desertos,
repetições de nucleotídeos que
parecem sem sentido -mas, segundo Lander, elas podem revelar-se os guias para entender a
história evolutiva do genoma.
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