São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 2001

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Papel do DNA "inútil" será revisto

MAGGIE FOX
DA "REUTERS"

O primeiro olhar lançado com profundidade sobre o genoma humano mostra que ele é muito mais complicado do que os cientistas esperavam.
Em vez de ter o DNA empacotado com dezenas de milhares de novos genes que fazem pessoas diferentes de camundongos, mosca-das-frutas e vermes, parece que há relativamente poucos genes -somente 30 mil ou 40 mil, cientistas anunciaram ontem. Estimativas anteriores apontavam de 60 mil a 100 mil genes.
Os dois grupos de cientistas responsáveis pelo sequenciamento (consórcio público e empresa privada Celera) dizem que estão chocados com os achados, e que isso significa que os genes podem não ser tão fundamentais assim na "confecção" dos organismos.
Eles sabem que cada gene "expressa" ou controla uma proteína. E sabem agora que as proteínas se misturam e combinam de formas muito mais importantes do que se pensava anteriormente.
Mas eles também sabem que precisarão voltar atrás e vasculhar a lata de lixo do genoma -o chamado DNA-lixo, que muitos acreditavam não ter um papel importante.
"Eu o chamo de suposto lixo", afirmou Eric Lander, chefe do sequenciamento do genoma do Instituto Whitehead, em Massachusetts, EUA, em entrevista por telefone. "O lixo é surpreendente."

Examinando o lixo
Lander, cuja instituição faz parte do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e teve papel fundamental no consórcio público Projeto Genoma Humano, disse que os cientistas devem dirigir um olhar atento para esse lixo.
Quando os dois grupos, público e privado, anunciaram a conclusão da primeira etapa -o sequenciamento do genoma, em junho do ano passado-, eles sabiam muito pouco além da existência de 3,1 bilhões de letras no genoma humano. Isso significava basicamente uma leitura das letras químicas A, C, G e T, que formam a dupla hélice do DNA.
Se as combinações certas das letras são feitas de forma correta, por exemplo, um A, um T e um G, elas indicam um aminoácido. Existem 20 diferentes aminoácidos, que podem ser associados das maneiras mais diferentes para produzir 250 mil proteínas.
Não existe um número determinado de aminoácidos para a produção de uma proteína.
Células do cérebro precisam produzir certas proteínas. Células do músculo e células do sistema imunológico, outras. Genes, algumas vezes, controlam o que é expresso (produzido) com base em outros genes, mas é possível que o DNA-lixo também tome parte nesse processo, afirmam os pesquisadores que estão publicando seus resultados nas revistas científicas "Nature" e "Science".
O achado é surpreendente porque mostra que os genes estão amontoados em agrupamentos espalhados pelos 3,1 bilhões de pares de bases ("letras"). Entre eles há vastos espaços desertos, repetições de nucleotídeos que parecem sem sentido -mas, segundo Lander, elas podem revelar-se os guias para entender a história evolutiva do genoma.


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