São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2000


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Projeto Genoma do Câncer é o 2º maior do mundo

Caio Guatelli/Folha Imagem
Dias em seu laboratório, diante de sequência de gene de mosca


DANIELA SANDLER
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano após seu início, o projeto brasileiro que pesquisa os genes ligados ao câncer é o segundo maior fornecedor de informações sobre a doença no mundo. A tecnologia usada pelo Projeto Genoma Humano do Câncer, desenvolvida no Brasil, torna-o mais rápido e eficiente.
"Ela dá ao projeto um ganho competitivo muito grande, uma qualidade que nenhum outro tem", diz o biólogo Luiz Fernando Lima Reis, diretor de pós-graduação do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer.
A tecnologia, chamada de Orestes (abreviação do nome em inglês), foi desenvolvida em um pós-doutorado realizado no instituto. Foi considerada tão importante que o instituto -rede internacional estabelecida em sete países (Bélgica, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos, Brasil, Austrália e Suécia)- pediu sua patente nos EUA, na Europa e no Japão.
Emmanuel Dias Neto, o pai do Orestes, fez toda a carreira no Brasil. Dias, 33, conta que seu projeto começou "pequenininho" e que "hoje faz parte do maior projeto de pesquisa do país".

Vantagens
O que o Orestes tem que os outros não têm? Em primeiro lugar, ele analisa a parte mais importante do gene: o miolo (veja quadro nesta página). As outras técnicas, segundo Reis, geram informação sobre as beiradas.
"Descobrimos coisas que nunca foram descritas", diz Reis. "O Orestes permite inferir a função do gene sem conhecer sua composição inteira."
É a função do gene que vai basear o desenvolvimento de diagnósticos precoces e tratamentos mais eficazes. E é ela que mais interessa aos pesquisadores.
Enquanto geram apenas informações sobre a composição do gene, os pesquisadores deixam o conhecimento à disposição do público em um banco de dados mundial, o GenBank (www.ncbi.nlm.nih.gov/Genbank/). O projeto brasileiro é o segundo maior colaborador do GenBank, em quantidade e qualidade, segundo Reis.
Quando descobrem para que serve determinado gene, os pesquisadores pedem sua patente.
Para Reis, isso é uma forma de evitar, por exemplo, que companhias farmacêuticas multinacionais usem a informação produzida aqui para desenvolver remédios ou diagnósticos sem a obrigação de pagar royalties.
"Com a patente, o instituto e a Fapesp (responsável por metade dos US$ 20 milhões do orçamento do projeto) vão receber os royalties", diz Reis. Ele conta que o instituto já submeteu dois pedidos de patente.
Além de analisar a parte mais importante do gene, o que faz com que, segundo Reis, a informação depositada pelo Brasil no GenBank seja de maior qualidade, o Orestes também é rápido.
"Estamos completando, em um ano de existência, o que era para ser feito em dois. Vamos completar em seis meses, até o final deste ano, o que era para ser feito em um ano inteiro", afirma ele.

Tumores brasileiros
A escolha dos tumores estudados pelo projeto foi baseada nos tipos mais comuns no Brasil, como o câncer de estômago e os tumores de cabeça e pescoço. "São tumores de país pobre. Se nós não os estudarmos, os americanos é que não vão fazê-lo", diz Reis.
Outros tumores estudados pelo projeto incluem o de mama, o de intestino e o de pulmão.


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