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ESPAÇO
Astro de sistema binário é de um tipo desconhecido
Estrela explora sua parceira até deixá-la do tamanho de planeta
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante todos aqueles anos, ela
deu tudo de si. Dedicou-se, deixou de lado suas ambições, parou
de brilhar. A cada dia, só fazia se
aproximar mais. E o que ganhou
em troca? Nada. Com o tempo
perdeu o respeito, tornou-se disforme, uma aberração da natureza. Hoje, ela é apenas a vítima destroçada de um casamento infeliz.
Esse enredo de folhetim acaba de
ser revelado pelos astrônomos.
Ninguém poderia prever desfecho tão trágico. Bilhões de anos
atrás, o casal EF Eridanus, localizado a uns 300 anos-luz daqui, era
composto por duas estrelas bem
parecidas com o Sol. Até que uma
delas degringolou, após esgotar
seu suprimento de combustível, e
virou uma anã branca -um objeto maciço e compacto. (Isso
também vai acontecer com o Sol,
depois que ele se tornar uma estrela gigante vermelha, em cerca
de 5,5 bilhões de anos.)
Foi quando começaram os problemas. Sem aviso, a anã branca
começou a roubar matéria de sua
vizinha. Compulsivamente até.
"Como na frase clássica sobre a
pessoa prejudicada num relacionamento romântico, a estrela menor se deu, se deu, se deu um pouco mais, até que não tivesse mais o
que dar", explica Steve Howell, do
Observatório Nacional de Astronomia Óptica, em Tucson (EUA),
co-responsável pela descoberta.
"Agora a estrela doadora chegou a um beco sem saída -é
muito maciça para ser considerada um superplaneta, sua composição não bate com a de nenhum
tipo conhecido de anã marrom
[uma espécie de estrela abortada,
que não chega a atingir a massa
necessária para produzir energia
por fusão nuclear] e tem muito
pouca massa para ser uma estrela.
Não há uma categoria para um
objeto nesse limbo."
A história foi levantada por
meio de imagens, na freqüência
do infravermelho, obtidas pelos
telescópios Keck 2 e Gemini Norte, ambos no Havaí. Os resultados, que serão publicados na próxima semana no periódico "Astrophysical Journal" (www.jour
nals/uchicago.edu/ApJ), apresentam pela primeira vez a nova e
misteriosa classe de objeto, resultado da relação parasita em sistemas binários -casais de estrelas.
Hoje, o objeto menor de EF Eridanus tem o tamanho de Júpiter.
A essa altura, sua massa é insuficiente para alimentar reações de
fusão nuclear -em outras palavras, a estrela não brilha mais,
nem produz grandes quantidades
de energia, como o Sol faz.
Ela dá uma volta completa em
torno da anã branca a cada 81 minutos, girando bem perto dela, a
cerca de 400 mil quilômetros de
distância (aproximadamente o
percurso Terra-Lua). Quando o
processo de roubo de massa começou, o tempo da órbita teria sido de quatro ou cinco dias.
História comum
"A coitada da estrela perdeu
tanta massa que agora tem um vigésimo da massa do Sol", diz Cássio Leandro Barbosa, do Instituto
de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, que
não esteve envolvido na pesquisa.
"Perdas de massa nesse tipo de
situação, as chamadas variáveis
cataclísmicas, acontecem comumente, mas sempre se achou que
alguma coisa pararia esse roubo.
Pelo visto, não é tão fácil assim."
A dinâmica desse objeto tão esquisito é hoje totalmente desconhecida, mas isso não deve durar
muito tempo. Segundo os pesquisadores americanos, provavelmente esses sistemas são bem comuns e até fáceis de achar, uma
vez que exista a tecnologia para
detectá-los.
"Há cerca de 15 outros sistemas
binários conhecidos lá fora que
podem ser similares a EF Eridanus, mas nenhum foi suficientemente estudado", diz Howell.
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