|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERISCÓPIO
A vacinação no combate a verminoses
JOSÉ REIS
especial para a Folha
É muito generalizado o conceito de ser difícil produzir vacina eficaz contra parasitas. Na
sua maioria, protegem contra
bactérias e vírus. Tem-se explicado essa dificuldade pela capacidade que os parasitas têm de
evitar as reações imunológicas
dos organismos pela frequente
alteração de seus antígenos, isto
é, das substâncias que despertam aquelas reações. A dificuldade seria ainda maior em vacinas contra vermes, porque estes
são indivíduos multicelulares
que provocam complexa resposta imune nos hospedeiros.
Sem falar nos complexos ciclos
que os parasitas costumam ter.
Não obstante, a literatura médica registra, por exemplo, o desenvolvimento, pelas técnicas
convencionais, de vacinas contra certos tipos de leishmaniose.
Ultimamente tem-se estudado a
vacina contra o plasmódio da
malária, um protozoário, e a esquistossomose, afecção produzida por verme, assuntos já ventilados aqui.
Em ambos os casos têm predominado as tentativas por
meio da engenharia genética.
No desenvolvimento de vacina
antimalárica trabalham vários
grupos, alguns com pesquisadores brasileiros, os quais procuram produzi-la a partir de diversas das formas que participam do ciclo do plasmódio.
Numerosas tentativas de obtenção experimental de vacina
contra a esquistossomose têm
sido relatadas com algum êxito
em vários hospedeiros, porém
não no homem. Essas experiências têm utilizado tanto o agente
infestante atenuado (cercárias
irradiadas), quanto antígenos
purificados extraídos do parasita. As primeiras experiências em
animais datam dos fins da década de 40 e princípios da seguinte. Mas os estudos foram retomados com mais intensidade a
partir de 1978. Recentemente
despertaram grande interesse o
estudo de A. Capron, do Instituto Pasteur, de Paris, que conseguiu identificar uma proteína
capaz de provocar níveis expressivos de imunização em ratos e camundongos. Essa proteína foi clonada. Pesquisadores
brasileiros da Universidade Federal de Minas Gerais (C. Tavares e colaboradores) conseguiram isolar da secreção de cercárias (larvas do verme) um antígeno capaz de produzir certo
grau de imunidade em camundongos. Outros pesquisadores
brasileiros (M. Tandler e colaboradores), na Fundação Instituto Oswaldo Cruz, produziram
resistência ao Schistosoma
mansoni em coelhos por meio
de injeção de antígenos de vermes adultos em solução salina.
Pesquisadores na Nova Zelândia e na Austrália comunicaram, em recente reunião da Sociedade Australiana de Microbiologia, a produção da primeira vacina eficaz contra uma
doença parasitária usando técnicas da engenharia genética.
Essa vacina protege contra a
Taenia ovis, cujas formas embrionárias (cisticercos) comprometem a carne do carneiro
destinada a exportação, causando grandes prejuízos econômicos àqueles países. A vacina foi
eficaz em 95% dos casos.
Os carneiros adquirem a
doença quando ingerem ovos de
verme nas fezes de cães que o
hospedam. A vacina será comercializada dentro de dois
anos. Cientistas se reuniram para estudar a possibilidade de obter vacina semelhante contra
outros vermes do mesmo tipo
que causam doença em animais
(cisticercose do porco e do boi)
e no homem -o cisto hidático.
Há 18 anos os cientistas tentavam desenvolver vacina contra
a T. ovis. Em 1971, M. Rickard
mostrou que proteínas libertadas pelos cisticercos de carneiro
eram eficazes como vacina, mas
não conseguiu obter o produto
em quantidades comercializáveis. Tudo mudou, porém, com
a engenharia genética, que permitiu a produção de grande
quantidade de antígeno a partir
de cultura bacteriana. A técnica
foi descrita em "Nature" (338,
585) e consiste em isolar ácido
ribonucléico mensageiro de
ovos da tênia e preparar a partir
dele uma "biblioteca" de ácido
desoxirribonucléico complementar que contém todos os genes para as proteínas do verme.
Os fragmentos do DNA são introduzidos em bacilo coli, que
passa a produzir grande quantidade de proteína vacinal.
Texto Anterior: Ciência: Cosmética antiga Próximo Texto: Futuro: Identificação ocular Índice
|