São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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História da ciência vai a leilão nos EUA

Coleção a ser vendida nesta terça inclui exemplar de livro de Copérnico publicado em 1543 e trabalhos de Einstein

Obra revolucionária do astrônomo polonês vale até US$ 1,2 milhão; primeira lista telefônica do mundo está entre itens apregoados

Lucas Jackson/Reuters
Funcionário da Christie's segura exemplar de "Sobre a Revolução dos Corpos Celestes"


DENNIS OVERBYE
DO "NEW YORK TIMES"

Uma coisa que se pode dizer do livro "De Revolutionibus Orbium Coelestium" ("Sobre a Revolução dos Corpos Celestes"), de Nicolau Copérnico, que será vendido nesta semana na casa de leilões Christie's, é que ele parece e dá a sensação de ser velho.
Sua capa está manchada e carcomida. As páginas estão amassadas. Você poderia facilmente imaginar que ele passou uma meia dúzia de revoluções escondido em vários porões úmidos da Europa.
Mas, este livro, publicado em 1543, foi a própria revolução. Foi nele que o astrônomo polonês desenhou sua teoria de que a Terra e os outros planetas giram ao redor do Sol, contrariando um milênio de dogma da igreja de que a Terra era o centro do Universo e lançando um frenesi de livre pensamento.
Foi uma emoção segurar Copérnico nas minhas mãos em uma visita recente à Christie's e folhear suas páginas. Nenhuma biblioteca que se preze deveria passar sem um exemplar desse livro. E, se você estiver precisando de um, pode comprar este pelo preço de um apartamento em Manhattan nesta terça-feira: de US$ 900 mil a US$ 1,2 milhão.
O livro de Copérnico é a estrela da coleção de um médico aposentado e astrônomo amador, Richard Green, que remonta boa parte da história da ciência e do pensamento ocidental. Entre outros volumes na biblioteca de Green estão trabalhos de Galileu, Darwin, Descartes, Newton, Tycho Brahe, Malthus e até Karl Marx.
Um lote inclui a coleção de Albert Einstein de reimpressões de seus artigos científicos, incluindo o primeiro deles sobre a relatividade.
No meio de tanta coisa de fazer cair o queixo, minha atenção se voltou para um pequeno livro branco, uma máquina do tempo que me trouxe a uma revolução mais recente. Era o catálogo do primeiro serviço comercial de telefonia, publicado em New Haven pela Companhia Telefônica do Distrito de Connecticut em novembro de 1878, com futuras edições a serem publicadas "de tempos em tempos, à medida que a natureza do serviço requeira". Foi um choque reconhecer que as pessoas já falavam ao telefone um ano antes de Einstein nascer.
O serviço telefônico de New Haven abriu em janeiro de 1878, apenas dois anos depois de Alexander Graham Bell, na vizinha Boston, ter dito as palavras imortais: "Sr. Watson, venha cá. Eu quero falar com você". Foi o primeiro sistema comercial que permitia a vários clientes se conectarem uns com os outros, por US$ 22 por ano -pagamento adiantado.
A primeira lista telefônica consistia em uma única folha com os nomes de 50 assinantes. Em novembro, a rede havia crescido para 391 assinantes, identificados por nome e endereço -os números de telefone ainda não existiam. E a lista, embora magrinha, já tinha o formato que consagraria o peso de portas que ela é hoje, com anúncios e listas comerciais -22 médicos e 22 fabricantes de carruagens, entre outros.
Os clientes eram limitados a três minutos de ligação e não mais de duas ligações por hora.
Além das regras, o catálogo ainda tinha páginas com dicas de como fazer ligações -apanhe o bocal e diga à operadora com quem você deseja falar.
Você deve começar dizendo "Hulloa" ["Alô"] e, quando acabar de falar, diz o livro, você deve dizer "Isso é tudo". A outra pessoa deve responder: "OK". Uma vez que qualquer pessoa poderia estar na linha a qualquer momento, os clientes não deveriam pegar o telefone a menos que quisessem fazer uma ligação, e deveriam ter cuidado com o que os outros pudessem ouvir.
"Qualquer pessoa usando linguagem profana ou imprópria deve ser denunciada a este escritório imediatamente", afirmava a empresa.
Se apenas eles pudessem nos ouvir hoje. Pensando bem, melhor que não possam.


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