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Estudo sobre Vioxx teve autor-fantasma
Periódico "Jama" revela que multinacional Merck redigiu trabalhos sobre a droga e contratou médicos para assiná-los
Prática, conhecida como
"ghostwriting", é comum na
indústria, afirma autor de estudo; empresa e médicos
contestam publicação
STEPHANIE SAUL
DO "NEW YORK TIMES"
A multinacional farmacêutica Merck redigiu por conta própria dúzias de estudos sobre
uma de suas drogas mais vendidas e depois recrutou médicos
de prestígio para colocar os
seus nomes nos relatórios antes da publicação -prática conhecida como "ghostwriting".
A revelação foi feita hoje por
um artigo na revista "Jama", da
Associação Médica Americana.
O trabalho, baseado em documentos obtidos a partir de
processos sobre o antiinflamatório Vioxx, oferece uma visão
rara e detalhada sobre a prática
do "ghostwriting" (autoria-fantasma, em inglês) em estudos
médicos publicados em periódicos acadêmicos.
O artigo cita um rascunho de
um estudo sobre o Vioxx que
ainda estava à procura de um
pesquisador de renome, identificando o autor principal apenas como "Autor externo?"
O Vioxx era uma droga campeã de vendas antes de a Merck
retirá-lo do mercado em 2004,
após evidências de que ele causou ataques cardíacos. No ano
passado, a empresa fez um
acordo para pagar US$ 4,85 bilhões a pacientes do Vioxx ou
suas famílias que moveram
ações contra a multinacional.
O autor principal do artigo
no "Jama", Joseph Ross, da Escola de Medicina Mount Sinai,
em Nova York, disse que olhar
de perto os documentos da
Merck levanta questões amplas
sobre a validade de boa parte
das pesquisas publicadas pela
indústria porque o "ghostwriting" parece ser disseminado.
"Isso quase põe em questão
toda a pesquisa legítima que é
feita pela indústria farmacêutica", disse Ross, cujo artigo sai
na edição de hoje do "Jama"
(www.jama.com).
A Merck reconheceu que às
vezes contrata jornalistas para
rascunhar relatórios de pesquisa antes de enviá-los aos médicos cujos nomes acabam aparecendo na publicação. Mas a
empresa contestou a conclusão
do artigo de que os autores não
fazem pesquisa ou análise.
E pelo menos um dos médicos cuja pesquisa publicada foi
questionada pelo artigo, Stephen Ferris, professor de psiquiatria da Universidade de
Nova York, disse que a noção
de que o artigo que leva seu nome teve um autor-fantasma é
"simplesmente falsa". Ele disse
que é "notável" que Ross e seus
colegas não tenham feito apuração nenhuma além de vasculhar os documentos da Merck e
ler os artigos publicados na literatura médica.
Em um editorial hoje, o "Jama" disse que a análise mostrou que a Merck aparentemente manipulara dezenas de publicações para promover o
Vioxx. "Está claro que pelo menos alguns dos autores tiveram
pouca participação direta", diz
o editorial. "E, ainda assim, se
deixaram chamar de autores".
O editorial convoca os editores de revistas médicas a pedir
que cada autor relate sua contribuição específica para os artigos científicos.
Embora a influência da indústria sobre artigos científicos já tenha sido questionada
antes, os documentos da
Merck fornecem a visão mais
abrangente até agora da magnitude da prática, segundo outro
autor do artigo, David Egilman,
da Universidade Brown.
Nos processos do caso Vioxx,
milhões de documentos da
Merck foram fornecidos aos
querelantes. Ross e Egilman tiveram acesso a eles porque deram consultoria aos advogados
dos querelantes.
Ross disse que as preocupações vão muito além da autoria,
levantando questões sobre a
validade dos testes clínicos nos
quais se baseia a pesquisa.
"Quem desenhou o teste?
Quem fez a análise? Quem interpretou a análise?"
Vasculhando os documentos
da Merck, Ross e seus colegas
desenterraram e-mails e documentos relativos a 96 publicações. Em alguns casos, o departamento de marketing da
Merck estava envolvido no planejamento dos manuscritos.
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