ISABEL GERHARDT
da Reportagem Local

Ao contrário do que vêm afirmando, os EUA não conseguem absorver todo o gás carbônico que jogam na atmosfera, contribuindo, portanto, para o aumento do aquecimento global devido ao efeito estufa.
O aquecimento global devido à emissão de gases, especialmente o gás carbônico, que faz com que o calor do Sol seja retido na atmosfera, é uma das principais pendências ambientais. Os Estados Unidos sempre afirmaram que suas florestas e campos absorvem todo o gás carbônico emitido.
O país não ratificou o Protocolo de Kyoto (tratado de 1997 que determina a redução das emissões de gases em 5% pelos países industrializados até 2012).
"A quantidade absorvida é de apenas 0,15 bilhão de toneladas de carbono por ano", disse à Folha Ron Neilson, da Universidade de Oregon, EUA, e um dos autores do estudo publicado hoje na revista "Science". Esse valor corresponde a 10% do total de carbono lançado pelos EUA, o que significa que 90% dele ainda permanece na atmosfera ou está sendo absorvido fora da América do Norte.
Ano passado, cientistas do Centro de Pesquisa de Woods Hole, nos EUA, já haviam anunciado dados semelhantes. "Os trabalhos são como os dois lados de uma mesma moeda. Nosso modelo, porém, proporciona uma visão mais precisa da quantidade de carbono absorvida, porque considera, além do tipo de uso da terra, variações climáticas e o aumento da quantidade de gás carbônico na atmosfera", disse Neilson.
O modelo de Neilson avaliou a absorção de carbono pelos ecossistemas terrestres dos EUA no período de 1895 até 1993. Durante esse tempo, ela variou de ano para ano, conforme o clima.
"Condições ambientais mais secas e quentes tendem a estressar as plantas, causando liberação de carbono pela maior taxa de respiração e menor fotossíntese", afirmou o pesquisador.
Com isso, a contribuição de um país na emissão ou sequestro de carbono pode ser muito variável, mudando a cada ano. A constatação de que a variabilidade na absorção de carbono pode ser anual revela uma falha do Protocolo de Kyoto. O protocolo recomenda que os países sejam avaliados como emissores, mas não anualmente. Ou seja, dependendo do clima, o balanço entre absorção e emissão de um país pode variar totalmente de ano para ano, e a avaliação pode não corresponder ao papel real daquele país.
"Todos esses resultados indicam que é preciso melhorar nossas tecnologias na mensuração do carbono, determinando para onde ele está indo, achando como trabalhar com variações anuais e verificando quais serão os impactos a longo prazo dessas variações. De qualquer forma, os dados mostram que os EUA são responsáveis pelo aumento da temperatura global e precisam responder por isso", disse Neilson.


Texto Anterior: Evolução: Equipe descobre "minifósseis"
Próximo Texto: Espaço: Relatório indica falha de VLS-1
Índice