São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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CLIMA

Micróbio que "come" metano combate aquecimento global

DA REUTERS

Micróbios exóticos que vivem ao redor de vulcões de lama no leito oceânico estão ajudando a controlar o aquecimento global ao mastigar metano, um dos gases causadores do efeito estufa, que emana das profundezas, afirmam cientistas.
Eles dizem que os tais micróbios, coletados no fundo do mar de Barents, no Ártico, são parte de habitats frágeis que podem também fornecer pistas sobre como converter metano industrialmente, para produção de energia.
Os micróbios que vivem em volta do vulcão de lama Haakon Mosby consomem milhares de toneladas de metano, o principal componente do gás natural. A molécula é também um dos principais culpados pelo efeito estufa, o aprisionamento do calor da Terra na atmosfera por uma camada de gases. É um gás-estufa 21 vezes mais potente que o gás carbônico.
O grupo franco-alemão de pesquisadores, liderado por Helge Niemann, do Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha (Alemanha), descobriu um novo tipo de arquéia (um ser unicelular que se parece com uma bactéria mas pertence a um domínio próprio), batizado ANME-3. O micróbio vive na ausência de oxigênio a 1.250 metros de profundidade.
"Encontrar um novo tipo de micróbio é importante para entender o ciclo do metano", disse Anje Boetius, do Max Planck. Ela é co-autora do estudo, publicado hoje na revista científica "Nature" (www.nature.com).
O estudo é a primeira descrição de um habitat de vulcão de lama submarino, que inclui arquéias, bactérias e vermes tubulares. Os cientistas descobriram que as arquéias consomem menos de 40% do metano emitido pelo vulcão, por viverem numa camada fina de lama.
"Elas precisam ter o bastante para comer, mas se sufocam em outros lugares", disse Boetius. Os micróbios vivem apenas onde conseguirem obter nutrientes do mar e metano do vulcão.

Aplicação industrial
A pesquisadora alemã disse ainda que a descoberta pode ajudar a desvendar o funcionamento dos micróbios comedores de metano -conhecidos da ciência há menos de uma década- e dar pistas sobre como converter esse gás em um líquido facilmente transportável.
"A indústria tem interesse em converter metano em outras moléculas ricas em energia, como metanol ou butano. Na indústria eles conseguem fazer isso quimicamente, mas esperam que um micróbio possa realizar a tarefa com mais eficiência", afirmou Boetius.
Os cientistas já acharam mais de mil vulcões de lama no mundo. Eles cospem gás e sedimento em vez de lava.


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