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HOMEM NA LUA - 30 ANOS
Apollo teve avanço científico "inestimável"
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
Às 23h56 do dia 20 de julho de
1969, há exatos 30 anos, o astronauta Neil Armstrong tornava-se
o primeiro homem a pisar na Lua.
Quando o módulo lunar Eagle
pousou na superfície do satélite, a
corrida pela conquista do espaço
promovida por EUA e União Soviética atingia seu ápice. Era o êxito do projeto Apollo, idealizado
pela Nasa (agência espacial americana) para levar o homem à Lua,
objetivo alcançado em sua missão
de número 11.
Mas será que valeu a pena? Será
que esse programa que levou seis
missões tripuladas à Lua realmente trouxe descobertas científicas, ou o mesmo trabalho de exploração poderia ter sido realizado por sondas não-tripuladas?
Para o jornalista norte-americano Andrew Chaikin, o homem
não pode ser substituído por sondas espaciais na exploração do
Universo, e os ganhos obtidos pelo programa Apollo são inestimáveis para compreender a evolução
da Lua.
Chaikin, 42, é autor de "A Man
on the Moon", livro que relata o
programa Apollo, desde o incêndio do módulo de comando da
Apollo 1, em 1967, que matou três
astronautas durante um treino,
até a Apollo 17, última missão tripulada à Lua.
Seu livro serviu de base para a
minissérie em 12 partes "Da Terra
à Lua", que está sendo exibida no
Brasil pelo canal pago HBO (o nono episódio passa hoje, às 19h15).
Em entrevista por telefone, o
autor discutiu o que seria da missão à Lua se não fosse a guerra
fria, as prioridades atuais da Nasa
e a nova corrida do ouro que a
agência norte-americana pretende iniciar com a construção da Estação Espacial Internacional.
Folha - Se não tivesse havido a
corrida espacial entre os EUA e a
União Soviética, o homem já teria chegado à Lua?
Andrew Chaikin - Provavelmente sim. É possível, no entanto,
que isso ocorresse muitos anos
depois do que realmente aconteceu. Havia pessoas na Nasa e na
União Soviética que pensavam
em levar o homem à Lua. A questão era como pagar. O governo de
Dwight D. Eisenhower (1953-1961) não estava entusiasmado
em mandar pessoas ao espaço.
Em reuniões de Eisenhower
com assessores, quando era levantada a questão de que a Nasa
queria verba para um programa
da Lua, alguém dizia "bem, se nós
dermos a eles o dinheiro, a próxima coisa que pensarão em fazer é
ir à Lua", e todos riam.
O que tornou tudo diferente foi
a competição com os soviéticos. E
é por isso que Kennedy disse, em
1961, que os EUA deveriam ir à
Lua, não pela ciência. É claro que
Kennedy entendia a importância
científica da missão, mas essa não
foi a principal razão para o homem ter chegado à Lua na década
de 60. Mas, mesmo sem a guerra
fria, a idéia de ir à Lua ainda teria
sido tentadora. Talvez tivéssemos
construído primeiro o ônibus espacial e em seguida uma estação
orbital, para então ir à Lua.
Folha - O programa Apollo foi
mais bem-sucedido no desenvolvimento tecnológico ou nas
descobertas científicas?
Chaikin - Foi bem-sucedido nas
duas áreas. A tecnologia era impressionante. O foguete Saturn 5,
por exemplo, nunca prejudicou
as missões de forma irreversível.
E as naves eram criações maravilhosas da engenharia. Havia problemas ao longo do caminho, mas
eles eram resolvidos. O incêndio
que matou os três astronautas da
Apollo 1 ocorreu devido a falhas
do projeto -a nave não era segura. Depois do incêndio, eles resolveram os problemas, e a nave que
chegou à Lua era incrível.
Na área da ciência, ninguém tinha analisado uma rocha lunar
antes da Apollo. A Lua era um
museu sobre a história inicial do
Sistema Solar, que podia nos contar como a Terra se formou.
Folha - As primeiras missões
Apollo tiveram valor científico,
ou isso só veio após a Apollo 15,
em que havia uma maior preocupação com a ciência?
Chaikin - Absolutamente. Mesmo na Apollo 11, em que os astronautas tinham cerca de duas horas para andar na Lua, os avanços
científicos foram importantes.
Eles pegaram uma quantidade
pequena de rochas, mas elas foram bem escolhidas. Com a Apollo 12, foi analisada uma outra região da Lua, o que deu aos geologistas novos dados sobre a composição química do satélite.
Em seguida, a Apollo 14 pousou
em uma região montanhosa pela
primeira vez, e os astronautas
descobriram rochas que eram
muito mais antigas do que as coletadas anteriormente.
Folha - Descobertas recentes
de sonda espaciais, como a Lunar Prospector (1998), indicam
que pode haver água na Lua, o
que os astronautas não encontraram nas missões Apollo. O
uso de sondas espaciais pode
obter mais dados científicos do
que as missões tripuladas?
Chaikin - Ainda não conseguimos criar sondas espaciais que façam o mesmo trabalho de homens. Seres humanos podem ir a
outro planeta e usar seus olhos,
mãos e cérebro, características
que as sondas não têm e que deverá levar um longo tempo até que
possamos desenvolvê-las.
Folha - Os ganhos científicos
do programa Apollo poderiam
ser obtidos só por sondas?
Chaikin - Acho que não. Talvez
em 30 ou 40 anos tenhamos sondas que façam isso. Talvez possamos criar sondas controladas por
um cientista em Terra, que possa
ver o que a sonda detecta em um
ambiente de realidade virtual e tirar fotos e manipular objetos por
meio do equipamento. Mas nós
ainda não temos isso.
Folha - O maior problema da
Nasa atualmente é a falta de um
objetivo bem definido, como
chegar à Lua?
Chaikin - Nunca teremos um
objetivo tão claro como chegar à
Lua. Tudo o que você precisa fazer é observar o céu à noite para
ver o objetivo. E as metas da Nasa
atualmente são mais difíceis de
definir. A agência quer explorar o
espaço, mas o importante agora é
reduzir os custos das missões.
Ao mesmo tempo, a Nasa está
envolvida na construção da Estação Espacial Internacional (ISS) e
acredita que, de alguma forma, a
estação deverá iniciar um processo que levará a uma nova corrida
do ouro, semelhante à que tivemos na Califórnia na década de
1840, com participação da iniciativa privada. Por que se não houver algo que incentive as indústrias privadas a entrar em uma
corrida espacial, então a única saída será reduzir custos.
Livro: A Man on the Moon
Autor: Andrew Chaikin
Lançamento: Penguin Books
(importado)
Quanto: US$ 15,95 (670 págs.)
Onde encomendar: livraria Cultura (tel.
0/xx/11/285-4033) ou Amazon Books
(www.amazon.com)
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