São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2000


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BIOLOGIA MOLECULAR
Nova fase do projeto brasileiro de sequenciamento deve decifrar DNA de microrganismo em 3 meses
Bactéria da cana é o novo alvo do Genoma

Dado Galdieri - 22.mai.00/Folha Imagem
Trabalhador corta cana perto de Charqueada (SP); facão ajuda a transmitir bactérias entre plantas


ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma bactéria da cana-de-açúcar ainda nem alcançou o status de celebridade como sua prima Xylella (o primeiro parasita de plantas a ter seu genoma decifrado no mundo), mas já trocou de nome. A Leifsonia -antiga Clavibacter- xyli faz parte do mais novo projeto genoma da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo): Genomas Ambientais e Agronômicos.
Para esse novo projeto, a Fapesp investiu cerca de US$ 1,8 milhão. Grande parte desse dinheiro foi destinada à compra de cinco sequenciadores capilares, máquinas de última geração usadas para "ler" o genoma dos organismos.
O objetivo é ter, no prazo de três meses, toda a sequência de "letras" que compõem o genoma da Leifsonia. O tamanho do genoma é estimado em 3 milhões de pares de bases (letras). Quase igual ao da Xylella, que é de 2,7 milhões.
Na verdade, a Xylella ainda está na ordem do dia. Ou pelo menos uma prima irmã da Xylella "brasileira", que foi quem teve o genoma publicado na prestigiada revista "Nature", no mês passado (leia texto abaixo, à esquerda).
É que o novo projeto da Fapesp, além da Leifsonia, também vai sequenciar a Xylella da videira. A Xylella que ataca a videira causa uma doença chamada mal de Pierce e afeta as plantações na região vinícola da Califórnia. Ela já causou prejuízos calculados em US$ 33 milhões entre 1995 e 1997.
Assim como para a Leifsonia, o prazo para o sequenciamento da Xylella da videira é de três meses. O da Xylella começa em outubro deste ano, e o da Leifsonia, em janeiro do ano que vem.
"Esse projeto, ao contrário do anterior (o da Xylella das plantas cítricas), não tem como objetivo o treinamento de pessoas. Precisamos agora de excelência de desempenho", disse à Folha José Fernando Perez, diretor científico da Fapesp.

Troca de identidade
Tanto a Leifsonia como a Xylella são bactérias que vivem no xilema (sistema de vasos que conduz água e minerais nas plantas). Ambas produzem uma goma que entope esses vasos condutores.
"Pouco se sabe sobre a biologia das bactérias que vivem nos xilemas", disse Claudia Vitorello, da USP, e que participará do sequenciamento da Leifsonia. A comparação dos genomas deverá auxiliar na elucidação do modo de agir desses microrganismos.
A Leifsonia é a antiga Clavibacter, que já havia sido mencionada na imprensa como possível candidata ao sequenciamento. A razão da mudança de nome não foi, no entanto, uma tentativa de preservar sua identidade. É que os biólogos descobriram que ela tem mais semelhanças com a "família" Leifsonia de bactérias e não com o clã Clavibacter.

Cuidado com o facão
A Leifsonia torna a cana-de-açúcar mais sensível às condições de seca e estresse. Segundo William Burnquist, do Centro de Tecnologia da Copersucar, ela causa uma diminuição do crescimento da planta, sendo que sua presença é percebida após o segundo e terceiro corte da cana.
"Toda a área de cultivo é potencialmente afetada", explica Burnquist. A bactéria é transmitida pelo facão. "Após o corte, fica no facão o caldo da cana. Se ele estiver contaminado com a Leifsonia, a bactéria será transmitida no próximo corte."
Uma doença depende da interação dos genes do patógeno e do hospedeiro. Burnquist diz que o sequenciamento da Leifsonia e da cana-de-açúcar permitirá a compreensão desse mecanismo.
O sequenciamento da Leifsonia é resultado de um acordo da Fapesp com a Copersucar. O da Xylella da videira, uma parceria com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.


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