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FUTURO
Pesquisadores dos EUA mapeiam satélite natural da Terra em busca de gás
raro para usá-lo como combustível
Energia na Lua
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
Em busca de novas fontes de
energia, cientistas nos EUA fizeram um mapa da superfície lunar
com as regiões de maior concentração de uma variação pouco comum do elemento químico hélio.
Conhecida como hélio-3 (por ter
três unidades de massa atômica,
enquanto a versão mais abundante na Terra tem quatro unidades),
ela poderia ser usada, no futuro,
como combustível altamente reativo em reatores de fusão nuclear.
O desenvolvimento de reatores
de fusão ainda é embrionário. Esse
processo físico ainda não é aplicado para produzir energia, a não
ser em bombas nucleares. Mas os
cientistas já querem desenvolver
um combustível para ele.
"As vantagens serão enormes se
conseguirmos realizar a fusão de
hélio, e acredito que vale a pena
gastar tempo e dinheiro para se estudar a idéia", diz Timothy Swindle, da Universidade do Arizona,
em Tucson (EUA), em entrevista
por e-mail à Folha.
Swindle, ao lado de Jeffrey R.
Johnson, da Pesquisa Geológica
dos EUA, em Flagstaff, Arizona, e
Paul G. Lucey, da Universidade do
Havaí, em Honolulu, desenvolveram o mapa de hélio-3.
O estudo deve ser publicado na
revista "Geophysical Research
Letters", da União Geofísica Norte-americana. Segundo Johnson,
"o hélio-3 pode ser um combustível de fusão mais "limpo' do que
outros compostos porque libera
menos radiação". Além do hélio,
cientistas estudam também o uso
do hidrogênio na fusão.
O hélio-3 chega à Lua pelos ventos solares -partículas emitidas
pelo Sol. Segundo Swindle, a
quantidade de hélio-3 na Lua depende de três fatores.
Em primeiro lugar, a idade do
solo. Superfícies mais antigas terão sido expostas ao ventos solares
por mais tempo e, portanto, terão
maiores concentrações do gás.
Outro fator levado em conta foi a
localização das regiões que recebem maiores quantidades de ventos solares. Por exemplo, algumas
regiões da Lua não recebem partículas solares quando estão no
campo magnético da Terra.
Por último, os pesquisadores determinaram os diferentes tipos de
solo na Lua, para identificar os
compostos que retêm o hélio.
"Descobrimos que o hélio-3 se
associa com mais facilidade ao mineral ilmenita. Portanto, regiões
com maior quantidade desse mineral poderão ter mais hélio-3",
diz Swindle.
O ilmenita (de fórmula química
FeTiO3) é composto por ferro, titânio e oxigênio. A união do mineral com o gás, segundo o pesquisador, poderia estar relacionada ao
formato dos cristais de ilmenita,
que "aprisionariam" o hélio-3.
Os cientistas usaram medições
anteriores de hélio-3 obtidas de
amostras trazidas da Lua, além de
mapas espectrográficos -que
identificam a presença de diferentes compostos na superfície- e
um modelo do efeito do campo
magnético terrestre.
Os dados foram obtidos de missões anteriores da Nasa (agência
espacial dos EUA), como a sonda
Clementine, lançada em 1994 para
realizar mapeamento mineralógico e topográfico da Lua.
A fusão nuclear
O processo de fusão nuclear é
praticamente o inverso do que
ocorre na fissão atômica.
Na fissão, um núcleo atômico,
geralmente de urânio ou de plutônio, é submetido ao impacto de
uma partícula de carga elétrica
neutra (nêutron). O núcleo bombardeado se divide em dois menores, liberando energia e nêutrons.
Na fusão, núcleos de átomos
mais simples, como hidrogênio e
hélio, formam núcleos de átomos
mais complexos, gerando, também, energia. É esse o processo
que ocorre na bomba atômica de
hidrogênio, ou bomba H.
Gerald Kulcinski, da Universidade de Wisconsin, um dos responsáveis pela pesquisa sobre fusão nuclear nos Estados Unidos,
estima que haja cerca de 1 milhão
de toneladas de hélio-3 na Lua.
Segundo ele, a energia gerada
por apenas 100 toneladas do gás
seria equivalente à que foi usada
em todo o planeta em 1998.
Como diz Swindle, a pesquisa
pode estar no princípio. Mas, assim mesmo, ela parece ser vantajosa.
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