São Paulo, domingo, 23 de março de 1997.

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Telescópio de Hale ficava na garagem

especial para a Folha

Quando Alan Hale tirou seu telescópio da garagem e vasculhou os céus na noite de 23 de julho de 1995, sua própria casa estava no caminho da observação de um cometa já conhecido. Em vez de mudar o telescópio, o astrônomo de Cloudcroft, Novo México, preferiu passar o tempo esperando que o cometa subisse mais no céu. Ficou olhando para outros pontos no espaço, até que achou um objeto nebuloso que não estava ali duas semanas atrás. Era um cometa, até então desconhecido.
Seu colega amador Thomas Bopp, do Estado do Arizona, usava o telescópio de um amigo quando também olhava para o mesmo ponto no Universo. Os dois informaram a União Astronômica Internacional, e o novo cometa foi batizado Hale-Bopp.
Os telescópios que eles usaram estão em uma classe quase profissional, isto é, quase tão poderosos quanto os de um observatório universitário. O de Hale, com cerca de 40 cm de diâmetro, precisa ser colocado na garagem, em lugar do automóvel -uma atitude razoável, já que esse tipo de equipamento custa o preço de um. ``É uma questão de prioridades nessa casa'', diz, rindo, a mulher do astrônomo, Eva Hale.
A dupla observação de Alan Hale e Thomas Bopp não foi a primeira vez que um terráqueo viu o cometa, embora sem reconhecê-lo como tal. Depois da descoberta, os cientistas procuraram checar se ele aparecia em imagens mais antigas -e acharam uma de 1993.
``O cometa Halley começou a desenvolver sua cauda a cerca de seis UA (unidades astronômicas, a média da distância Terra-Sol). É nessa distância que a luz do Sol é quente o suficiente para transformar o gelo do cometa em gás. Mas o Hale-Bopp foi descoberto a uma distância de 7,1 UA já com uma extensa cauda de gás e poeira'', afirma Karen Meech, da Universidade do Havaí. Na imagem de 93, ele estaria visível ainda mais longe, a 13 AU - ``e já ativo'', diz Meech.
O francês François Colas e seus colegas do Observatório Pic du Midi, nos Pirineus, demonstraram que a rotação do núcleo do Hale-Bopp é complexa, sinal que a evolução do cometa é bem recente. ``Há poucos cometas observáveis. Um fenômeno como esse pode não se reproduzir em talvez 50 anos'', diz Colas, que passou dois meses este ano no Observatório Nacional (RJ).

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